Autoconhecimento

Mãe é Mãe

Escrito por Raquel Koury

Hoje compartilho com vocês um pouquinho de minha história como filha e depois como mãe. Talvez você se identifique com parte do que vivi, talvez não. Mas o recado é simples: AJA, ENQUANTO AINDA HÁ TEMPO.

Acredito que todos passaram por essa fase na vida, seja na infância, na adolescência e alguns até na maturidade: a fase do EU. Houve uma época em que só me importava a minha felicidade e os meus desejos. Como a maioria das crianças e adolescentes, eu fui muito rebelde e dei muito trabalho aos meus pais, sobretudo para a Cruela.

Minha mãe foi cruel demais comigo. Ela saía o dia inteiro e não me dava a menor atenção. Minhas irmãs brigavam comigo e minha mãe, quando chegava em casa, só as defendia. Como elas eram más! Todas elas. Meu pai era meu único defensor. Minha mãe tinha ciúmes do carinho especial que ele dedicava a mim em detrimento de minhas irmãs. Quando ele saia de perto, lembro-me dos beliscões que ela me dava escondido dele, dizendo: “Se você contar a ele, depois leva outro”.

Que cruel era a minha mãe! Quanta maldade! – eu pensava.

É certo, que ela queria de alguma forma, vingar minhas irmãs. Puxa, mas o que eu fazia de mais? Eu só inventava umas mentirinhas bobas para chamar a atenção! Nesta época, papai sempre ficava do meu lado e pra dizer a verdade, os beliscões da mamãe nem doíam tanto assim! Mas ela era cruel. Como mamãe era cruel! Lembro-me de quando assisti os 101 Dálmatas, aquele desenho animado, da nossa época. Foi a deixa para eu apelidar mamãe de Cruela, afinal ela parecia ser a própria!

Não tenho em minhas lembranças uma mãe que sentasse comigo para fazer os deveres de casa, muito menos uma mãe que me levasse para passear. Tudo bem que éramos pobres, mas isso não a impediria de organizar um piquenique de vez em quando com a gente, não é? Também de me fazer um cafuné nas épocas em que tanto precisei de colo. Colo de mãe, sabe? Não servia outro.

Cresci tendo certeza de que minha mãe não me amava. “Será que minhas pintas pretas não eram bonitas o suficiente para o casaco dela? Será que eu era um patinho feio perto das minhas irmãs?”

Nessa época, havia em meu coração a certeza que ela amava mais as minhas irmãs do que a mim. Aquelas duas bruxinhas maldosas, que se uniam contra mim. E o engraçado era que elas é que me chamavam de bruxa. É mole?

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Na adolescência a situação se inverteu. Foi papai quem não aceitou meu crescimento. Eu era linda, inteligente e esperta demais quando era uma criança e essas características eram qualidades que o faziam me admirar, mas que se tornaram defeitos quando cresci.

Passei a ser rotulada de prepotente, arrogante, e outros adjetivos que ele passou a me atribuir.  A diferença era que mamãe não me xingava mais. Nesta fase da minha vida, foi papai quem ficou de mal comigo. Passei a ver mamãe com outros olhos, ou melhor, com os mesmos olhos, mas de outro ângulo. Talvez sob a perspectiva de alguém que começava a querer ser MULHER.

Demorou alguns anos para que a imagem da mamãe Cruela se perdesse em minhas lembranças. Acredito que para ela esse processo também tenha sido difícil, mas passou. Quanto a papai, eu havia perdido o trono de “princesinha” (e quem iria me defender das minhas irmãs?). Quanto mais aumentava a distância entre meu pai e eu, mais ele se aproximava de minhas irmãs e quando eu percebi, minha mãe estava dando aqueles beliscões escondidos nelas, e não mais em mim. Não foi por este motivo, mas passei a ver qualidades em minha mãe que antes ela não tinha. Bom, talvez fosse eu que não as enxergava antes. Agora ela exercia uma nova função, além das tantas outras: servir de “escudo” entre meu pai e eu, que passei a ser oficialmente a “ovelha negra” da família – e isso era fato.

A relação com mamãe mudou muito e apesar do “bloqueio” que ela sempre teve em relação a dar e receber carinho, passei a amá-la de uma forma especial. Percebi que tudo que ela fez “contra” mim, foi para proteger o resto da cria, minhas irmãs, uma vez que na época eu tinha o suporte de papai. Já na adolescência, ela começou a proteger a outra cria: EU. Foi quando eu comecei a entender uma curta frase popular:

“Mãe é mãe”

Um dia eu abri os olhos e percebi que minha mãe era minha melhor amiga e pouco a pouco, fomos nos aproximando. Eu contava a ela todas as minhas experiências, todas mesmo! Do primeiro beijo aos “finalmentes”, que tanto demoraram a acontecer. Nessa época, papai já havia, metaforicamente, me matado e enterrado VIVA! Ele me julgava pelas minhas companhias e pelo que eu gostava de fazer, principalmente quando resolvi ser atriz de Teatro, e contra a vontade e as ordens dele, eu FUI.

Minha mãe sabia que eu não estava fazendo nada de errado, sabe por quê? Porque mãe conhece a gente, eu é que tinha demorado a perceber isso. Tive brigas muito feias com meu pai e apesar dela não me defender verbalmente, sempre estava ali, de escudo. Ela era, e ainda é, o equilíbrio da nossa família, mesmo sem saber disso. Sempre fez a coisa certa, principalmente por conhecer bem o temperamento de papai e de cada cria sua. Uma mulher simples, ingênua, quieta, mas muito intuitiva e acima de tudo, sábia. Com uma intuição que vem do útero da mulher e uma sabedoria de MÃE.

Eu não fui fácil na adolescência, tenho que confessar! Na verdade, acho que isso não mudou muito até hoje. Nunca tive medo de nada nem “prezava os dentes que tinha na boca”. Sempre enfrentei as pessoas em defesa daquilo que eu acreditava. Podia ser o patrão, um assaltante, o papa e infelizmente, até papai. Também, nunca quis colocar ninguém contra ninguém, juro! Mas infelizmente essa sempre foi minha especialidade natural e por isso vivia me policiando, pois admirava muito o amor e o relacionamento de meus pais. Por este motivo eu não cobrava nenhuma reação da minha mãe naquela época fatídica, pois podia ver no fundo de seus olhos, que muitas vezes ela sentia pena de mim e estava do meu lado, mesmo que não verbalizasse isso. Era reconfortante saber que ao menos ela acreditava em mim e isso supriu boa parte da carência que eu tive pela falta dela na infância.

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Hoje esclareço que minha MÃE, a antiga Cruela malvada, não me dava atenção e nem me ajudava nas lições de casa porque trabalhava, muitas vezes 24 horas por dia, para nos sustentar. Ela e meu pai sempre trabalharam juntos e com certeza, enquanto eu a chamava de Cruela pelas costas, ela chorava pelos cantos, por não poder nos levar em um simples piquenique ou dar aquela bonequinha que todas nossas amigas já possuíam.

Mãe, perdão por tudo que lhe fiz passar, pelos apelidos que lhe dei e por não lhe compreender na infância. Hoje eu entendo que você não podia dar aquilo que não teve, sobretudo o carinho que todas as crianças precisam e merecem, mas sei que você sempre me amou. A chegada de seus 8 netos lhe modificou ao longo dos anos e hoje boa parte de seus “bloqueios” foram quebrados e você já é a melhor MÃE do mundo, só por ser a avó que é.  A amamos muito.

Ah…, ia me esquecendo daquelas duas bruxinhas. Um dia elas finalmente tiveram que abandonar suas vassouras, trocando-as por mamadeiras e chupetas. Hoje são mães maravilhosas, cada qual com suas histórias de vida, aliás, lindas histórias. Torço, somente, para que elas nunca resolvam escrever um livro sobre nossa infância.

Bem, como dizem, “o castigo vem a cavalo”, ou melhor, hoje em dia ele vem de avião a jato. Agora, meus filhos repetem os mesmos atos que eu cometia na infância.

Maldita Disney [risos]! Eles tinham que regravar os 101 Dalmatas? Agora também sou chamada de Cruela quando digo alguns “nãos” aqui em casa, mas sei que meus filhos me amam, assim como sempre amei a minha mãe. Enquanto eu escrevo essas páginas, eles me cobram porque ainda não conhecem a Disney, ou porque eles ainda não tem aquele vídeo game recém lançado…, coisas da nova geração. Crianças, crianças, crianças!

Você já se sentiu culpada?… Relaxe!

Um dia seus filhos a irão compreender, pois é essa a ordem da vida. Deixo aqui apenas uma sugestão. Se você ainda não fez isso, faça enquanto ainda tem a oportunidade de fazer. Pegue o telefone agora, pegue o carro ou mande um sinal de fumaça, mas diga à sua MÃE o quanto você a ama e como ela é importante em sua vida… Papai que já se foi e até hoje sonho com tudo que gostaria de lhe ter dito e não disse…. também tenho pesadelos de coisas que disse sem pensar. Aja enquanto ainda há tempo!

Quanto a mim, posso finalizar a minha história como filha, dizendo que foi doloroso receber tantos rótulos. Acredito que todos nós temos qualidades e defeitos e por isso não deveríamos julgar os outros. Os rótulos de arrogante e prepotente me foram atribuídos principalmente pela minha maneira de falar (e talvez de escrever), mas o que posso fazer? Essa sou eu e minhas histórias não fariam o menor sentido se eu tentasse mostrar uma Raquel diferente da que SOU. Fugiria totalmente da proposta de veracidade. Sempre fui fiel áquilo que acredito e pretendo continuar assim. Meus valores, minha convicção e meu caráter – são defeitos que eu não abro mão! Sabe por que? Porque eu me orgulho deles, fazem parte da minha personalidade e por mais que eu tenha ouvido: “mude, seja outra pessoa”, eu não mudei. Ser outra pessoa seria negar minha personalidade. Uma verdadeira ofensa a Deus, que me deu o poder da escolha, o livre arbítrio para optar. Ora, e se Ele quisesse que eu fosse outra pessoa não permitiria que eu tivesse esse gênio.

E que gênio!

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Posso escolher me lamentar por ser assim ou assado, mas também posso aceitar ser quem sou e como sou e transformar, a meu favor, o que os outros julgam serem defeitos. Sou feliz como sou, mesmo que “o outro” não me aprove. Bom, isso dói às vezes, mas como vou amar o próximo sem antes amar a mim mesma? Como posso ensinar meus filhos a serem autênticos e lutarem por aquilo que acham certo e justo se eu, como mãe, não o fizer?

Com esses e outros pensamentos do gênero, eu cresci e incomodei algumas pessoas que diziam que eu jamais teria sucesso profissional, jamais seria uma dona casa ao menos razoável e, sobretudo, que jamais seria uma boa mãe. Não demorou muito para eu ser bem sucedida profissionalmente, mas ser dona de casa e mãe, não faziam parte dos meus planos mesmo.

Mas o tempo passou e provou que a gente MUDA SIM! Mesmo sendo fiel a uma filosofia de vida, a maturidade nos traz novos desejos, novas necessidades, novos sonhos… E eu, aos 19 anos, já estava com uma enorme vontade de ser MÃE.

Após lhes contar um pouquinho da minha história como filha, de como a Cruela se tornou minha FADA PROTETORA, e sobre quantas coisas nós mães passamos e ainda iremos passar nessa vida, espero prevenir você, jovem mamãe, sobre a doce dor e o doído sabor que é ser MÃE. Se você já é MÃE experiente e já recebeu apelidos como Cruela, tranquilize-se! São palavras fruto de fases da vida e um dia todas nós seremos as Fadas do Conto da vida de nossos filhos.

Sejamos fortes! Às vezes sofremos por acharmos que estamos “perdendo” nossos bebês diante a rebeldia, a adolescência, mas eles ainda vão precisar muito de nós e por mais que falemos, em momentos de raiva, que não os ajudaremos, é claro que estaremos sempre a espreita, esperando só uma brecha para podermos intervir e apoiar, quando for o caso.

Por fim, a parabenizo. Seja lá qual o tipo de mãe que você é, você é MÃE e ninguém lhe tira isso. Somos privilegiadas, pois temos uma alma no útero. Sentimos “coisas” que só as mães sentem. É certo que sofremos mais, mas também AMAMOS mais e somos e seremos sempre amadas por eles, por nossos queridos filhos. Uns podem ser mais carinhosos que outros e isso muda em cada fase que eles passam, mas grave essas palavras em seu coração:

Não existe vínculo maior do que o de MÃE E FILHO e nada no Universo mudará isso. Nem a distância, nem as drogas, nem o fracasso, nem um divórcio e nem a morte”.

Mãe, mil palavras poderiam ser escritas aqui, mas acredito que o amor e a gratidão que sinto por você são indescritíveis, desta forma gostaria de dizer simplesmente: Sinto Muito, Me perdoe, Obrigada e Eu te amo.

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E por fim, agradeço aos meus quatro filhos, aqueles que me deram o privilégio de ser MÃE. São crianças e adolescentes maravilhosos, todos eles. Às vezes eles reclamam que eu não tenho tempo para eles, realmente houve uma época que isso era verdade, mas…, um dia eu acordei e percebi que agora são eles que não tem muito tempo para mim. Meus queridos, se vocês perdoarem minha ausência eu perdoo a de vocês, combinado?

Super beijo a todas as mães!
(Introdução adaptada do livro “Mãe é Mãe- Contos e Crônicas” de Raquel Koury)

Sobre o autor

Raquel Koury

Escritora, parapsicoterapeuta, professora de Filosofia, Parapsicologia e Constelações Familiares, possui 50 especializações somadas em seu currículo, entre elas: Parapsicologia, Reiki Xamânico, Cromoterapia, Psicoterapias, Terapia Sistêmica Individual e em Grupo, Constelações Familiares, Terapia de Casais, Psicanálise Sistêmica, Psicopedagogia Infantil Sistêmica, entre outras. Autora Best Seller da obra “SENSITIVOS” (Pensamento Cultrix), prefaciada pelo cineasta e diretor da Rede Globo, Roberto Farias; e da obra “Mãe é Mãe - Contos e Crônicas”, cujos lucros foram doados a entidades filantrópicas.

Raquel Koury e sua equipe realizam atendimentos virtuais via Skype e videochamadas de WhatsApp (por agendamento). Os cursos e treinamentos são no sistema EAD (à distância), ela atende pessoas do mundo todo há mais de 15 anos.

Site: www.raquelkoury.com

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