Quando acordar não pense inicialmente nos seus problemas e responsabilidades. Permita-se um espaço para respirar, para não pensar e não fazer nada. Alguns minutos antes, esse mundo inteiro não existia para você. O que isso realmente diz da natureza deste mundo ninguém sabe. Mas ao menos sabemos que a existência do mundo depende de algo que está em nós. A consciência, talvez. Mas não fazemos ideia do que ela seja. Se soubéssemos de verdade, talvez o jogo do mundo não existiria mais.
Tome o chá, o café, o copo de água ou o suco matutino de sua preferência. Concentre-se nele. Esqueça-se de todo o resto. Não ligue a TV ou o smartphone e nem mesmo leia os jornais ou as revistas. Sente-se no chão, se puder. Feche os olhos. O tempo é mais plástico do que imaginamos. Deixe que ele se dilate, que os segundos se tornem realmente amplos. Sinta a ponta dos seus dedos. Se esse fosse o seu último dia neste mundo, o que realmente importaria? Para onde iria sua atenção?
Se estiver sonolento, melhor. A hipnose do mundo não tarda em emaranhar as nossas mentes. Em pouco tempo essa pequena janela de consciência se fechará e o fluxo quase ininterrupto de preocupações e problemas assumirá o centro da consciência. Não importa. Se ao menos por alguns breves momentos, todas as manhãs, pudermos prolongar esse espaço de consciência, algum dia talvez ele se torne longo o suficiente para que um dia inteiro seja vivido assim.
Olhe pela janela. Talvez veja carros, pessoas, o burburinho do mundo. Ou então o lento balançar de árvores e plantas. Não importa. Estamos mais um dia no plano da consciência humana. Aqui nossa consciência é parcial, fragmentada, dual e na maior parte do tempo sofremos com problemas que não somos capazes de resolver. Possivelmente a estrutura seja assim para que a consciência possa despertar para a sua natureza. Assim dizem muitos. Então, se pudermos ter um espaço de não envolvimento, de uma sutil distância em relação ao que nos acontece e ao que pensamos, poderemos viver, quem sabe, um pouco do nosso dia com um olho aberto interiormente. Manter um pé no outro lado da mente enquanto vivemos nossas vidas.
A consciência, espírito ou alma que nos habita gradualmente se torna mais viva. Sua capacidade de se manter presente aumenta. A hipnose do mundo interior conturbado lentamente perde um pouco de seu poder. Durante o dia surgem vislumbres. Enquanto saboreia uma maçã, por um breve instante ela se mostra mais nítida. Você vê, finalmente, a maçã na sua mão, que come todos os dias sem perceber muito bem. A consciência acordou. Ela vê, por um segundo, o mundo sem filtros. Sem análises. Mas dura pouco. De repente alguém chama a sua atenção e você se lembra do que estava pensando.
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