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O que é Síndrome de Asperger? Entenda porque o termo não é mais usado

Mãos de adultos e crianças segurando o coração do quebra-cabeça sobre fundo azul claro
Veja / Shutterstock
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Ao longo da sua vida, você já deve ter ouvido falar em síndrome de Asperger. Esse termo, que não é mais utilizado, costumava classificar um transtorno de desenvolvimento que poderia resultar em dificuldades no processo de socialização, entre outros problemas.

Embora essa condição ainda exista, ela passou a ser interpretada de outra maneira. No conteúdo que preparamos, você vai entender por que o termo “síndrome de Asperger” se tornou inadequado e quais são as características do transtorno. Além disso, descubra qual é a forma correta de falar sobre a condição!

O que é a Síndrome de Asperger?

De maneira simplificada, a Síndrome de Asperger é uma maneira antiga de classificar uma condição que faz parte do autismo. A pessoa que sofria com esse transtorno teria mais dificuldade para socializar e mais facilidade para hiperfocar em um assunto ou em um objeto. No decorrer do artigo, você vai aprender mais detalhes sobre a condição.

Por que não se usa mais Síndrome de Asperger?

Como apontamos no início do texto, não se utiliza mais o termo “Síndrome de Asperger”. Para compreender o motivo disso, vamos estudar, antes de tudo, por que ele começou a ser utilizado.

Muitos cientistas se dedicaram a estudar a mente humana, incluindo os transtornos que ela poderia apresentar. Em 1911, Eugen Bleuler, um psiquiatra, utilizou a nomenclatura “autismo” em um diagnóstico de esquizofrenia, que foi outro termo criado por ele.

Mais tarde, em 1944, o pediatra Hans Asperger identificou que um grupo de crianças apresentava sinais de autismo, com algumas diferenças. Acreditando se tratar de outro transtorno, ele classificou a condição com o nome “psicopatia autística”.

Quando Asperger faleceu, em 1980, a síndrome que ele identificou passou a ser chamada de síndrome de Asperger. Entretanto informações relevantes sobre Asperger e sobre a própria síndrome levaram ao desuso da nomenclatura.

Mãos de criança pintadas com um rosto feliz.
jcomp / Freepik

Existem dois motivos para “Síndrome de Asperger” ser uma classificação antiquada para um transtorno. Em primeiro lugar, um estudo publicado na revista científica Molecular Autism, em 2018, revelou que Asperger cooperou ativamente com o nazismo e foi um dos responsáveis pela morte de quase 800 crianças. Elas foram consideradas deficientes e, portanto, incompatíveis com o plano de pureza racial e genética do regime.

Como nomear a descoberta de uma pessoa com o nome dela é um sinal de honra, manter a classificação “Síndrome de Asperger” seria como ignorar a brutalidade da associação do médico ao nazismo. Mas essa questão moral não é a única razão pela qual se tornou impertinente usar o termo cunhado em homenagem ao pediatra.

Em 2013, o DSM-5 foi publicado. Esse é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, que padroniza os diagnósticos psiquiátricos nos Estados Unidos da América e é adotado pelo mundo todo. Neste manual, foi informado que os traços que classificam a Síndrome de Asperger já são englobados pelo Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Ou seja, atualmente a Síndrome de Asperger é também chamada de Transtorno do Espectro Autista, sendo um grau mais leve dessa condição. No próximo tópico, compreenda mais sobre essa questão.

O que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA)?

Se a Síndrome de Asperger é um tipo de autismo, é importante entender o que é o Transtorno do Espectro Autista, mais conhecido como autismo. O TEA é um distúrbio do neurodesenvolvimento.

Em geral, o Transtorno do Espectro Autista é caracterizado por déficits na comunicação e na socialização, somados a um desenvolvimento atípico, com manifestações comportamentais específicas (comportamentos repetitivos ou estereotipados) e um repertório restrito de interesses e atividades.

O nome “espectro” é atribuído ao transtorno porque existem variações no grau de comprometimento do desenvolvimento de quem apresenta o TEA. Então é possível que um indivíduo autista apresente sinais do transtorno diferentes de outro autista, dependendo de como ele está enquadrado no espectro.

Menina loira de cabelo preso pintando um coração composto por pedaços de quebra-cabeça.
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Síndrome de Asperger é a mesma coisa que Autismo?

A Síndrome de Asperger, como era chamada, está dentro do Transtorno do Espectro Autista. Atualmente, a síndrome é considerada um tipo mais leve de autismo. Portanto, ao mesmo tempo em que Síndrome de Asperger é autismo, é preciso considerar que ela está dentro de um espectro, podendo ser diferente do que você entende por autismo, por exemplo.

Para entender melhor essa diferença, pense na seguinte situação: uma pessoa foi diagnosticada com Síndrome de Asperger. Como essa nomenclatura não é mais utilizada, diz-se que ela é autista leve ou autista nível 1.

Porém, ela não apresenta alguns sintomas que são típicos do autismo, como atraso intelectual e atraso na fala. Por esse motivo, houve um tempo em que consideravam que a Síndrome de Asperger era diferente do autismo.

Ao mesmo tempo, essa pessoa deve apresentar dificuldade para socializar, comportamentos repetitivos e estereotipados e um interesse restrito a algum assunto ou objeto, praticando o hiperfoco.

Esses sintomas são típicos do autismo, o que classifica a síndrome como o tipo mais brando entre os tipos de autismo. No próximo tópico, analise quais são as possíveis manifestações do TEA, para se aprofundar nesse assunto.

Tipos de Autismo

Existem quatro tipos de autismo que estão dentro do transtorno do espectro autista. Saiba mais sobre eles:

Menino branco sentado no chão a frente de um sofá, em posição fetal com expressão de desânimo.
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1) Transtorno autista leve (antiga Síndrome de Asperger)
O indivíduo apresenta dificuldade para socializar com outras pessoas. Por outro lado, pode ter uma inteligência acima da média em algum tópico ou assunto específico, falando sobre o tema por horas, de forma obsessiva.

2) Transtorno invasivo do desenvolvimento
A pessoa realiza alguns comportamentos repetitivos, tem dificuldade para interagir socialmente e para falar, ainda que tenha a linguagem mais desenvolvida do que um indivíduo que está no terceiro tipo do TEA.

3) Transtorno autista
Os relacionamentos sociais, a cognição e a fala são intensamente afetados, e os comportamentos repetitivos são frequentes (como bater ou balançar as mãos). Essa é a forma mais clássica do autismo, geralmente diagnosticada aos três anos de idade, incluindo falta de contato com os olhos e dificuldade para fazer pedidos por meio da linguagem.

4) Transtorno desintegrativo da infância
A partir dos quatro anos de idade, o indivíduo começa a perder as habilidades intelectuais, linguísticas e sociais que foram adquiridas, tornando-se incapaz de recuperá-las. Esse é o tipo mais grave e mais raro de autismo.

Além dos tipos de TEA, o autismo pode apresentar níveis, que vão de 1 a 3. Cada um deles classifica a quantidade de apoio que um indivíduo autista precisa durante a rotina. No nível 1, por exemplo, que é o mais leve, não há tanta necessidade de apoio. Por outro lado, no nível 3 é preciso que a pessoa autista seja auxiliada diariamente.

Sintomas do Autismo

Menina ruiva segurando seu bichinho de pelúcia, sentada na mesa da escola com expressão de chateada.
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Ainda que os quatro tipos de autismo apresentem diferenças significativas entre si, nem sempre é fácil diagnosticar o transtorno. É por isso que é importante prestar atenção aos sintomas que podem surgir na infância, na adolescência e na fase adulta.

Dentro de cada tipo de autismo existem sintomas específicos, mas vamos identificar quais são os sintomas mais comuns para cada faixa etária:

1) Sintomas do autismo infantil (entre 0 a 12 anos)
Os sintomas de autismo infantil podem incluir: desatenção à voz humana, atenção direcionada a objetos, ausência de sons vocais ou fala confusa, dificuldade para fazer pedidos, dificuldade para demonstrar emoções e para atender a chamados, isolamento, sensibilidade a sons, luzes, cheiros, ao contato com outras pessoas e a texturas de alimentos e de roupas, além de dificuldade para interagir com terceiros.

2) Sintomas do autismo na adolescência (entre 12 e 17 anos)
Na adolescência, o autismo se manifesta com os seguintes sintomas: dificuldade de aprendizagem, postura corporal e expressão facial incomuns, discurso monótono, foco intenso em um tópico, dificuldade para interagir com outras pessoas, reações incomuns a ambientes sociais, realização de movimentos repetitivos, distúrbios do sono e uso de frases ou palavras descontextualizadas, que podem parecer muito formais.

3) Sintomas do autismo em adultos
Além dos sintomas já identificados na adolescência, um adulto autista pode apresentar: falta de empatia, retraimento social, dificuldade para entender ironia e sarcasmo, distúrbios comportamentais, recusa em realizar contato visual, tom de voz diferente do comum e falta de compreensão das pistas sociais, levando a atitudes inapropriadas em contextos variados.

Sintomas da Síndrome de Asperger

Agora que você percebeu como o autismo pode se manifestar em qualquer fase da vida, é fundamental ter em mente quais são os sintomas do tipo leve do TEA, ou de nível 1, que era chamado de Síndrome de Asperger.

Nesse caso, os sintomas que eram observados para o diagnóstico do transtorno envolviam: dificuldade para se relacionar com outras pessoas, para se comunicar, para compreender regras e para controlar emoções.

Além disso, o autismo leve é caracterizado por pouca paciência, interesses específicos e intensos, necessidade de criar rotinas fixas, hipersensibilidade a determinados estímulos (sons, cheiros, luzes, toques) e descoordenação motora.

Menina negra brincando com figuras em uma mesa.
Sergey Novikov / Canva

Diagnóstico e tratamento para o Autismo

Os sintomas do autismo podem ser identificados por qualquer pessoa. No entanto apenas um(a) profissional da saúde é capaz de analisar cada caso com atenção, com o objetivo de diagnosticar qual é o tipo do transtorno e quais são os possíveis tratamentos para ele.

Ainda que não exista uma cura para o TEA, a partir do diagnóstico da condição é possível recomendar tratamentos com fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e pedagogos. Dessa maneira, torna-se mais simples desenvolver a linguagem, a coordenação motora, o aprendizado e as habilidades sociais.

No tratamento do TEA não é comum fazer o uso de remédios. Contudo as drogas podem ser prescritas nos casos em que o(a) paciente se torna agressivo ou desenvolve doenças paralelas ao transtorno, como depressão, ansiedade ou TOC.

Cada tipo de autismo terá um tratamento específico, que só pode ser indicado com auxílio médico. Por esse motivo, caso você note alguma alteração no comportamento ou no desenvolvimento de uma pessoa, o mais indicado é que você procure ajuda profissional.

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A partir das informações apresentadas, concluímos que a Síndrome de Asperger, como antigamente era chamada, é um tipo leve de autismo. Ainda que o transtorno traga algumas dificuldades para o desenvolvimento de um indivíduo, com o diagnóstico e o tratamento corretos é possível ter uma vida saudável, estável e equilibrada.

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