Comportamento

Apadrinhamento Afetivo: um coração mais aquecido no contato com crianças e jovens e na prevenção do abandono na infância

Imagem de uma criança segurando um papel com desenho de família segurando um na mão do outro
pixelshot/ Canva

Se você não é madrinha ou padrinho de uma pessoa, o apadrinhamento afetivo pode te ajudar a oferecer o acolhimento, o carinho e o amor a alguém especial. Isso porque essa iniciativa te ajuda a apadrinhar crianças e adolescentes que não têm uma família e precisam de você. Aprenda os detalhes sobre o assunto.

Uma (falta de) experiência pessoal que me frustrava bastante era nunca ter sido escolhida para madrinha de uma criança. A tradição do batizado não é somente católica, muitas crenças têm o costume do “dindo” e da “dinda” como guardiões e amigos de nossos filhos. Solicitar a uma pessoa de confiança que batize seu filho ou sua filha, conferindo a ela os cuidados, carinho e atenção necessários, até mesmo na falta dos pais, é um gesto simbólico e muito presente em diversas sociedades.

Assim, o não convite por amigos ou familiares deixava-me triste e questionando o porquê de não ter sido eleita por nenhum casal de amigos para essa importante tarefa.
Até que, no ano passado, uma amiga me indicou o apadrinhamento afetivo de uma instituição de minha cidade. Essas casas de acolhimento podem ser conhecidas como abrigos.

A maioria dos acolhidos foi destituída, ou seja, não pode retornar ao convívio familiar por alguma razão de negligência em seus cuidados. Assim, as crianças abrigadas podem aguardar adoção por bastante tempo e serem privadas do convívio de um referencial adulto fora da instituição.

Quando essa amiga me fez o convite, prontamente me inscrevi e comecei a participar do curso de padrinhos e madrinhas afetivos. O curso era composto por cinco aulas-palestras, que abordavam os temas do cuidado na infância e na juventude e todas as questões possíveis que poderiam surgir na relação de madrinha e afilhado abrigado.

Após as aulas do curso, com todos os que tiverem assiduidade, são realizadas diversas entrevistas, a fim de identificar o perfil da pessoa intencionada em apadrinhar, bem como verificar qual seria o afilhado ideal para ela.

Depois de cerca de três meses, conheci meu afilhado, Arthur, hoje com 13 anos. Durante o processo, conheci meu esposo, que gostou muito da ideia e se tornou “dindo” também. O Arthur é um menino muito carinhoso, educado e querido, que solicita bastante a nossa presença e cuidados. Realizamos chamadas de vídeo semanalmente, assim como passeios, sempre que possível.

Imagem de um homem abraçando um menino que está sorrindo
Georgijevic de Getty Images Signature/ Canva

Arthur também frequenta nossa casa, passa festividades importantes conosco. E agora, que estamos esperando nosso primeiro filho, foi importante ressaltar ao nosso afilhado que nada mudaria em nossa relação: ele continuaria estando incluído e presente, como um amigo mais velho do bebê, capaz de instruí-lo nas melhores brincadeiras e também auxiliando em seu cuidado, caso deseje.

Algo importante a ser ressaltado é que o apadrinhamento afetivo não é uma “ponte” para aqueles que desejam ser pais adotivos. Inclusive é uma regra da instituição que padrinhos afetivos não estejam inscritos no SNA (Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento). Visto como algo ilegal, “atalhar” o caminho para adotar por meio do apadrinhamento não seria correto.

Ainda assim, muitos casos como o de Arthur são considerados possíveis adoções tardias, visto que a grande parte das famílias interessadas em adotar uma criança escolhe perfis de bebês ou crianças bem pequenas, ademais brancas e sem doenças tratáveis. Essa escolha dificulta bastante o processo de adoção, de modo que a grande maioria dos que aguardam por um lar e família definitiva não se encaixa nesses perfis.

Assim, muitos pretendentes a pais podem ficar anos e anos aguardando na fila, à espera de uma criança que se encaixe no seu modelo pretendido. Jamais desmerecendo o mérito de se adotar, ou julgando os candidatos a pais que preferem bebês, é importante ressaltar a necessidade de “sairmos da caixa”, ou seja, despirmo-nos dos preconceitos em acreditar que uma criança mais velha, ou mesmo adolescente, não se encaixaria em nossa família, ou mesmo seria mais difícil de criar vínculo com ela.

Muitos jovens perdem a esperança da adoção e encaram a realidade de, ao completarem 18 anos, saírem da instituição acolhedora para seguirem suas vidas adultas sem mesmo contarem com o apoio de uma família, o que é bastante duro.

Imagem de um jovem  olhando para cima com uma mochila nas costas
StockSnap de pixabay/ Canva

Ainda assim, essa determinada instituição que abriga meu afilhado prepara e cuida do futuro profissional e pessoal dos jovens acolhidos, pois muitos acumulam, em todo o tempo de permanência na Casa, uma reserva financeira, como uma poupança, que pode ser utilizada para alugar uma residência própria ou dividir moradia com outros colegas e, assim, iniciar a vida com independência.

Antes que me julguem por não ter iniciado um processo de solicitação para a adoção de Arthur, quero deixar claro que nossa gravidez não foi esperada, embora desejada. Não estávamos, meu esposo e eu, pensando em engravidar no momento. Nossos recursos ainda não permitem que acolhamos Arthur como nosso segundo filho.

Ademais, formalizamos que Arthur é nosso protegido para toda a vida; nosso vínculo não terminará quando de sua saída do abrigo, e esperamos que, caso ele seja adotado, sua família também nos permita manter a relação de “dindos” e afilhado. Ele terá sempre nosso apoio e já faz parte de nossa família.

Desejo que este texto fomente em você a vontade de ser um padrinho ou madrinha afetiva! Procure instituições da sua região que forneçam essa possibilidade tão calorosa e rica de conviver com uma criança que necessita de amparo e referencial fora da instituição que a abriga.

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Ainda, caso não possa dispor do tempo e/ou não tenha vontade de vivenciar essa relação tão carinhosa, é possível apadrinhar financeiramente uma criança ou jovem, fornecendo recursos para que ela se desenvolva. O importante é ser tocado e não se omitir de experienciar essa forma de amor.

O nome da criança foi modificado para proteger sua identidade.

Sobre o autor

Caroline Gonçalves Chaves

Caroline G. Chaves é licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e possui especialização em Psicopedagogia e Tecnologias da Informação e Comunicação - TICs (UFRGS) e em Educação Infantil: Perspectivas Contemporâneas (Unioeste-PR). Ademais, é graduanda em Licenciatura em Letras-Língua Inglesa (UFRGS) e professora municipal da Educação Infantil de Porto Alegre-RS.
Caroline também é escritora de livros infantis e infantojuvenis, tendo lançado "Dorminhoca" (2019) e "Inverno, Verão e Livros - A História de Martina e Miguel" (2023).

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Livro: autografia.com.br/?s=dorminhoca