Comportamento

Como ser um bom pai na sociedade atual?

Pai e filho, ambos e brancos, segurando um bigode feito de papel em frente do rosto, dobrando o braço em sinal de força.
yarruta / 123RF
Escrito por Luis Lemos

Nasci em Concórdia, uma cidade do interior do Pará, filho de uma doméstica e de um agricultor. Meu pai praticava uma agricultura de subsistência: o que ele plantava mal dava para o sustento da família. Cresci trabalhando com meu pai na roça, juntamente com meus irmãos. As minhas irmãs ficavam em casa, ajudando a minha mãe nos afazeres domésticos. Foi com meu pai, trabalhando na agricultura, que pensei, pela primeira vez, no que queria ser.

Sim, queria ser agricultor, igualzinho o meu pai. No entanto, o caminho da escola me levou para o que sou hoje: professor. Eu e meus irmãos nunca cobrávamos dos nossos pais além daquilo que eles poderiam nos dar. Os brinquedos, inventávamos de lata. Eram carrinhos de lata de sardinha, trator de lata de leite, etc. As minhas irmãs faziam bonecas de pano e espiga de milho para brincar. Na boca da noite, eu e meus dez irmãos, sentávamos ao lado de nossos pais, do lado de fora da casa, no terreiro, para ouvir suas estórias.

Pai e filho no campo
Sutipond Somnam / 123RF

No tocante a comida, era um ambiente de fartura. Nunca passamos fome, eu e meus irmãos. Quando não tinha nada em casa, íamos para a escola. Sim, nesse tempo eu e meus irmãos íamos para a escola só para comer! Não havia muito que fazer. Esporte, cultura, lazer não tínhamos acesso. Não havia cinema na cidade. Talvez por isso não cobrássemos tanto de nossos pais. Tudo era muito difícil. No entanto, existia muito amor envolvido naquilo tudo. Literalmente éramos uma família. Foi nesse tempo que aprendi o que significa amor de verdade, respeito, solidariedade, família.

Compartilho com você essa fase da minha vida para dizer uma coisa: ser pai nos dias atuais é muito diferente do tempo do meu pai. Em primeiro lugar porque o panorama do mundo atual, em que os filhos têm fácil acesso às informações de toda ordem, e a velocidade com que se proliferam as propagandas de consumo, chegando até as crianças, adolescentes e jovens via internet, por exemplo, desafia os pais de hoje a que tenham mais e mais condições para educar seus filhos.

Em segundo lugar porque os pais de hoje não foram ensinados a ser pai. Muitos (não são todos, claro!), acham que educar é encher o filho de presente. Com isso, passam o maior tempo fora de casa, muitas vezes trabalhando em dois ou três empregos para dar conta de satisfazer a necessidade de consumo dos filhos. Educar não é encher os filhos de presentes! Portanto, de nada vale todo o esforço de um pai se não for para ter proximidade emocional com seu filho, se não for para transmitir-lhe apreço, se não for para transmitir-lhe valores.

Não é uma conta exata, mais o pai que consegue “perder tempo” com seu filho terá mais chance de vivenciar o verdadeiro sentido da paternidade do que quem não o faz. É importante lembrar também que os pais devem conversar com seus filhos, principalmente na fase da adolescência, sobre a vida amorosa, emocional e sexual deles. Este é um período propício para apresentar os benefícios do uso da camisinha e da proteção sexual. O papel dos pais nesse processo educativo é insubstituível.

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É isso: os filhos não querem somente presentes, smartphones, carros, tênis, roupas de marca, eles querem ser compreendidos. Muitas vezes os filhos só querem estar onde seus pais estão; conhecer o local de trabalho, seus amigos. Muitos querem, ainda, a sua companhia, um abraço, um carinho, uma palavra de incentivo. Alguns querem apenas ouvir que a embriaguez passa, que os amores vão e vem, que alguns amigos nos traem, que a paixão não se cura, enfim, que a vida continua a cada tropeço.

Muitos filhos querem ser amados por seus pais; outros, apenas abraçados. Como pai de um adolescente de 14 anos penso que a maior tarefa de um pai é ensinar seu filho a ser capaz de fazer suas próprias escolhas. Mas também, como pais, precisamos aprender que o amor que dedicamos aos nossos filhos “nunca há de ser tão grande como o bem que ele nos quer”… Como disse Mario Quintana no poema Mãe, aqui adaptado para o nosso tema, como segue:

Pai
São três letras apenas
As desse nome bendito:
Também o céu tem três letras
E nele cabe o amor infinito
Para louvar o nosso pai
Todo bem que se disser
Nunca há de ser tão grande
Como o bem que ele nos quer
Palavra tão pequenina,
Bem sabem os lábios meus
Que és do tamanho do CÉU
E apenas menor que Deus”.

Enfim, mudar hábitos e costumes tem que começar pela educação familiar.

Sobre o autor

Luis Lemos

Luís Lemos é filósofo, professor, autor, entre outras obras, de “Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas – Histórias do Universo Amazônico” e “Filhos da Quarentena – A esperança de viver novamente”.

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