Convivendo Empoderamento Feminino

Dia da Mulher 2022 e o que nós já deveríamos ter aprendido com essa data

Uma ilustração em giz, numa lousa, de um globo terrestre mesclado com o símbolo que representa o feminino. Ao lado, uma flor.
fermate / 123rf
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Todos os anos, perto do dia 8 de março, começamos a ver na televisão, nos outdoors, nas vitrines das lojas e em vários outros lugares lindas campanhas, imagens e mensagens homenageando as mulheres. Afinal, nessa data é marcado, no calendário, o Dia da Mulher.

Mas será que o Dia da Mulher é mesmo um mero evento celebrativo, no qual devemos apenas exaltar a imagem feminina e a existência e os feitos das mulheres de todo o mundo? Por que dedicamos o dia 8 de março a esse tema? E se é, de fato, uma data comemorativa, que presentes devem ser dados às pessoas homenageadas – as mulheres?

Neste ano de 2022, mais uma vez se aproxima o Dia Internacional da Mulher, e, em vez de separarmos palavras bonitas para dedicar a essas figuras, devemos, na verdade, nos atentar a esses tipos de questionamentos, como os mencionados acima. Já passou da hora de colocarmos em prática os verdadeiros aprendizados que traz esse dia do ano tão importante.

História do Dia Internacional da Mulher

A origem do fato de essa data ter sido escolhida para “celebrar” a figura da mulher deve-se a uma sucessão de fatos internacionais que envolvem questões trabalhistas e políticas. A data oficial, na verdade, é recente, já que foi institucionalizada somente no ano de 1975, pela Organização das Nações Unidas (ONU), mas já era reivindicada pela ativista alemã Clara Zetkin desde 1910, e mulheres socialistas norte-americanas também já se manifestavam a respeito do mesmo assunto por volta de 1908.

Estátua da ativista Clara Zetkin no meio de um jardim.
Angela M. Arnold (=44penguins) / Wikimedia Commons

Em 1911, irrompeu, no mês de março, um grande incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist Company, do ramo têxtil, em Nova York. Como, nessa época, o movimento trabalhista e a questão dos operários crescia de modo muito intenso nos Estados Unidos e na Europa (locais de onde as mulheres militantes já reivindicavam uma série de direitos, entre ele, o Dia da Mulher), esse acontecimento, que matou 125 mulheres e 21 homens trabalhadores, foi o estopim para importantes manifestações feministas. Na Rússia, por exemplo, trabalhadoras femininas do setor da tecelagem organizaram uma greve trabalhista – mobilização que impulsionou, inclusive, a grande Revolução Russa.

Então, se o Dia Internacional da Mulher surge de tamanha tragédia e, uma vez que se relaciona com problemáticas que assolam a classe das mulheres desde, pelo menos, o século passado, por que hoje em dia comemoramos o 8 de março, mas ainda nos deparamos diariamente com tanta opressão sofrida pelas figuras homenageadas nesta data?

É incoerente que, nesse dia do ano, perfumadas flores sejam distribuídas às mulheres pelos mais diversos locais, enquanto nos outros 364 dias do calendário elas sejam desrespeitadas, subestimadas, violadas e silenciadas. Por isso, mais uma vez, precisamos parar para pensar sobre o que aprendemos verdadeiramente com o Dia da Mulher – ou, então, o que deveríamos ter aprendido com esse evento.

O que aprendemos com o Dia da Mulher?

De fato, a condição das mulheres na sociedade hoje em dia não se compara com a condição delas há 100 anos. Com certeza, muitas conquistas se sucederam desde então, e hoje as mulheres ocupam muito mais espaços e se integram em muito mais ambientes do que os que lhes eram restritos antigamente. Mesmo assim, não se pode dizer que a questão feminina foi completamente superada. Muito pelo contrário: a luta feminista ainda tem muito chão pela frente.

Com a data instituída em 1975, são quase 50 anos (precisamente, 47 anos) de Dia da Mulher. E então, nós chegamos a 2022 num cenário no qual se nota, lamentavelmente, que algumas coisas parecem ainda não ter sido entendidas.

Uma manifestação de ativistas feministas. Uma das pessoas exibe uma placa escrita "the future is female".
Lindsey LaMont / Unsplash

É fato inegável que as mulheres ainda sofrem com desigualdade salarial, mesmo que cumpram funções exatamente iguais às dos homens; enfrentam assédio no trabalho, no transporte público e em vários outros ambientes de seus cotidianos comuns; levam jornadas duplas ou triplas de trabalho fora e dentro de casa, e majoritariamente sem o mínimo auxílio do marido ou do pai de seus filhos; e assim por diante. Sem contar também os índices de feminicídio e outros tipos de violência contra a mulher, que são assustadores não só no Brasil, mas em todo o mundo.

Se não aprendemos, deveríamos ter aprendido, com o Dia Internacional da Mulher, que elas são seres humanos dignos de equidade de direitos que lhes assegurem as mesmas oportunidades, as mesmas remunerações, a mesma segurança, o mesmo conforto e a mesma posição perante a sociedade que têm os homens.

O 8 de março no calendário não é um mero enfeite nem um mero evento comemorativo para celebrar a beleza de se ser mulher. É, sobretudo, um dia que marca uma marcha de suma importância para o avanço das mulheres dentro da sociedade machista e injusta na qual vivemos até hoje.

Embora a publicidade e outros tipos de iniciativas representem as mulheres de forma muito emancipada e “empoderada”, a realidade não é assim tão bonita quando se trata do complexo cotidiano enfrentado pela figura feminina diante de um sistema patriarcal.

O feminino como símbolo de justiça

Quando a luta feminista começou a ganhar visibilidade e força, expandindo-se em massa para todas as camadas da sociedade como pauta política digna de atenção, por muito tempo foi preconceituada como ruim, por ser erroneamente atrelada ao substantivo antagonista da palavra “machismo”. Isto é, para os leigos, alguns anos atrás, era comum que a palavra “feminismo” fosse preconceituada (lê-se: interpretada de modo errado e negativo) como a dominação feminina, que seria, em tese, contrária aos direitos dos homens.

Hoje, porém, sabe-se que o feminismo é, na verdade, uma luta por equidade, o que significa que é uma luta em prol de todos, tanto homens quanto mulheres.

Portanto ser a favor da emancipação da mulher é um ato próprio daqueles que lutam pela justiça e pela igualdade de direitos. Mas, para além do campo político e social, essa mentalidade faz jus também a um pensamento que vai além do que é concreto, um pensamento que se conecta com a esfera da espiritualidade.

Uma mulher segurando uma placa de papelão escrita "my body my choice".
Karolina Grabowska / Pexels / Eu Sem Fronteiras

Desde os primórdios, é sabido que, na natureza, precisamos ter um equilíbrio entre o masculino e o feminino, para que tudo se desenvolva em harmonia. Por isso, enquanto o feminino for negligenciado, abusado e ferido, será difícil alcançarmos tempos de mais paz e justiça.

Nesse sentido, entende-se, então, que a evolução da mulher dentro da sociedade diz respeito também a algo que transcende os nossos tempos e cenários atuais. Não se trata de uma questão contemporânea, que acabou de surgir ou foi descoberta agora, mas sim de um aspecto atemporal e indissociável da condição humana.

Como dizer “Feliz Dia da Mulher”?

Diante de assuntos tão complexos que estão inseridos no contexto do Dia da Mulher, presentear as homenageadas com flores ou chocolates chega a ser um ato indiferente e pode soar até mesmo ofensivo para elas. Nem mesmo uma linda mensagem de Dia da Mulher é capaz de dar conta do que as mulheres realmente querem (e merecem!) receber para suas vidas.

O que as mulheres querem ter como presente é nada mais que respeito, igualdade, segurança, oportunidades, representatividade, direitos e uma série de outras conquistas que não são cobertas nem disfarçadas por mimos superficiais decorados de cor de rosa.

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Por isso, é preciso repensar como passamos a data e o que consideramos para o dia 8 de março, que se repete anualmente, da mesma forma com que se repetem incansavelmente pelo mundo as frustrações e repressões sofridas pela mulher.

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