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O Arquétipo do Xamã: Viagem Xamânica

Mulher com a mão pra cima de frente para árvores
Valmedia Creatives / 123RF
Escrito por Isa Gama

O arquétipo do xamã, conhecido também por mago ou curandeiro, traz o poder da cura e é uma estrutura mítica que todos nós experimentamos. Ele nos dá a capacidade de regenerar, de revitalizar, de criar, de trazer à existência coisas que nunca experimentamos, de virar mestres na cocriação com o Universo.

As principais qualidades do xamã são a aguçada capacidade de reconhecer o que tem coração e significado e dar atenção a essas coisas. Além disso, é aquele nosso lado que se aventura na descoberta de querer aprender a sentir e a interagir com a energia sutil da natureza, que é carregada de magia. Ele se reconecta ao poder da natureza; deixo aqui a dica deste teste “Qual é o seu grau de conexão com a natureza interior e exterior?”, a fim de que você veja o quão conectado está à natureza).

Aprender a acessar essa magia é a nossa parte capaz de trabalhar com essa expressão mágica, elevada e espiritualizada.

Acessar o xamã interior é acessar em nós a qualidade do amor e da renovação. É entrar numa jornada que se segue por toda a vida em direção à totalidade do ser.

A importância do arquétipo do xamã hoje

Esse é um arquétipo importante nos dias de hoje em que vivemos num mundo que, por um lado, parece mágico com toda a tecnologia que criamos, o que, de fato, tecnologicamente falando, é mágico. Por outro lado, os processos de iniciação psicológica, espiritual e não materialista parecem ter sido esquecidos, desconsiderados pela civilização moderna.

Um dos motivos para essa pouca atenção à magia espiritual não materialista decorre do fato de a nossa sociedade não fazer uma clara distinção entre espaço sagrado e espaço profano. Aliás, praticamente não é dada muita vazão ao espaço sagrado.

Homem olhando para o horizonte
Lukas Rychvalsky / Pexels

Vivemos num mundo com muitas obrigações de existência da sociedade industrial, que criou espaços neutros, sem sacralidade e pelos quais nos movemos, dando pouco ou nenhum tempo aos espaços sagrados.

As pessoas vagam sem norte, “ziguezagueando” pelo mundo sem encontrar um centro, um ponto de apoio seguro, sem essa conexão profunda com a natureza que dá sentido à existência. É por isso que, hoje, vivemos muito perdidos e com a sensação de perda de significado. O espaço sagrado a que me refiro não quer dizer necessariamente lugares físicos de culto religioso, mas, sobretudo, o acesso a uma força regenerativa que reside dentro de nós: o nosso verdadeiro centro. Sociedades pré-modernas tinham essa crença em um poder regenerativo ou energia vital que podia ser acessada para a cura individual e coletiva.

Acessar o xamã para a totalidade do ser

Acessar o xamã interior é entrar numa jornada que se segue por toda a vida em direção à totalidade do ser. É ativar o nosso poder de cura para nós e para os que temos contato. Isso se dá por meio da identificação de onde existe amor, do cultivo do amor, porque todos os tipos de amor proporcionam a cura: amor entre amantes, entre amigos, pais e filhos, professor e aluno, mestre e discípulo; amor por si mesmo; amor incondicional e espiritual.

A cura ocorre por meio desse amor, o qual sabe como abraçar os maiores medos, lembra-nos acerca do que esquecemos sobre a conexão com nós mesmos, com os outros e com o mundo natural.

Esse arquétipo nos reconecta à nossa capacidade de notar a unidade e a interdependência de todas as coisas, de abrir o que está fechado e lacrado por nossos medos e nossas frustrações, amaciando com o poder do amor o que foi obstruído, entrando no transcendente e na experiência do divino. Ele produz a criatividade, a paixão e o amor e faz brilhar a nossa centelha divina; além disso, é a busca por expressar a si mesmo na totalidade e é aprender a confiar na vida.

A cosmologia do xamanismo

A cosmologia do xamanismo vê o mundo dividido em três estratos: o mundo do alto, o mundo do meio e o mundo de baixo. Esses mundos estão conectados à árvore cósmica da vida através do qual o xamã passa de um mundo ao outro.

O mundo de baixo é o inferior (não no sentido de pior, é somente uma denominação para diferenciá-lo, sem dar uma qualidade de inferior), visto como um mundo natural, feito de campos, colinas, árvores, desertos, florestas etc., povoado por animais de todos os tipos até mesmo criaturas fantásticas e/ou mitológicas, como duendes, elfos, gnomos etc. Nesse lugar, é possível encontrar os espíritos-guia ou espíritos aliados, também chamados de animais de poder.

Árvore antiga e grande em uma floresta
Veeterzt / Pexels

O mundo do meio representa nosso mundo ordinário, mas existem também os espíritos das plantas e de todos os elementos naturais. O xamã interage com esses espíritos para entender a natureza das coisas e dos seus poderes de cura e de adivinhação. Também é o mundo em que as almas dos mortos podem ser encontradas ainda que não foram para o outro mundo; os xamãs, inclusive, ajudam-nos nessa passagem.

O mundo do alto, de cima, é aquele onde se encontram com espíritos de seres realizados, seres de luz, mestres espirituais, divindades, heróis, criaturas angelicais, seres de grande sabedoria.

Para entrar nesses três mundos, é necessário passar pela árvore cósmica. Os xamãs, nesse estado não ordinário de consciência, recebem importantes mensagens desses espíritos-guia. Isso os ajuda a entender o mundo em que vivem e a trazer cura.

Essa cosmologia nos ajuda a entender o processo da viagem xamânica. Na de hoje, vamos para o mundo do meio, para encontrar com o nosso guia. Ele pode ser um elemento natural ou os espíritos da natureza e que, na viagem, torna-se animado. O nosso guia é aquele que nesse momento nos serve como mestre, que nos pode indicar algo precioso para o momento em que estamos vivendo.

A viagem xamânica na prática

O objetivo da viagem xamânica é sempre trazer da realidade não ordinária uma mensagem de ajuda, para uma cura ou uma resposta, para compreender a natureza de um evento ou de um insight para o momento que se está vivendo.

Mulher sentada na cadeira de olhos fechados
Engin Akyurt / Pexels

Para essa prática, é indicado ter à disposição sons de tambores xamânicos e estar num lugar tranquilo por alguns minutos. Você pode praticar em autonomia, desde que, ao toque final dos tambores, você volte pelo caminho por onde entrou. É sempre muito importante voltar para a realidade ordinária.

Para a meditação do xamã, colocamo-nos na postura deitada com as costas retas, visto que essa postura é a mais curativa, pois o corpo fica relaxado, e está relacionada a posição de nutrimento, de se render, ou seja, é um modo de posicionar o corpo no seu próprio “canoa espírito”, deixando-se guiar e receber a cura.

Siga as instruções abaixo ou use este vídeo com a medicação guiada completa.

Relaxe e respire normalmente, feche os olhos e sorria para si mesmo.

Vamos iniciar nossa jornada interior nos conectando com a bondade, a verdade e a beleza em nós mesmos. Nesse silêncio repleto de boas vibrações, reconheça quais características você aprecia em si mesmo. Procure lembrar do que as pessoas notam sobre as suas qualidades, dos elogios que você recebeu. Reconheça os seus pontos fortes e os seus talentos. Reconheça quais aspectos da sua personalidade você gosta. Note quais são as contribuições que você reconhece ter feito e continua fazendo e veja, nas suas relações de todos os tipos, em quais teve ou ainda tem amor recebido, amor dado e amor compartilhado.

Honre esse grande ser que você é, pois isso é a peça fundamental que você representa na teia de relações das quais você participa. Isso representa uma contribuição única oferecida por você, a qual ajuda a manter todos os seres conectados.

Agora, estamos preparados para fazer uma viagem xamânica:

Imagine-se caminhando na natureza, em que você vai entrar para o mundo do meio. Esse mundo, segundo muitas tradições indígenas, pode ser alcançado através de uma árvore cósmica. Você vai ver essa árvore, vai entrar nela e atravessá-la até sair no mundo do meio.

Ao entrar no mundo do meio, a cada elemento natural que você vir, você vai perguntar se é ele o seu guia. Vá perguntando até que um elemento o responda que sim.

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Fique com ele até tocar o sinal final dos tambores xamânicos. Ouça o que ele tem a dizer, e/ou veja o que ele tem para mostrar e/ou sinta o que ele quer lhe transmitir.

Ao ouvir os três toques, os quais indicam que você deve voltar para o mundo ordinário, o seu guia dará um presente a você. Pegue-o, agradeça e volte pelo caminho que veio até sair pela árvore que você entrou.

A seguir, assista a um vídeo com a meditação guiada pronta para você! Boa prática!

P.S. Aproveite para fazer o teste gratuito “Qual é o seu grau de conexão com a natureza interior e exterior?”, a fim de que você veja o quão conectado está com a natureza.

Sobre o autor

Isa Gama

Isa tem um Ph.D. em sociologia e especialização em ecopsicologia.

Atua há mais de cinco anos como uma ecotuner: uma nova profissão que conduz as pessoas a viverem com maior bem-estar por meio da reconexão com a natureza.

Incentivando o autoconhecimento aliado à natureza, Isa facilita a criação de relações mais ecológicas consigo mesmo, com os outros e com o mundo.

Criou um teste que revela o grau de conexão com a natureza interior e exterior: https://isagama.net/quiz

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