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Como encontrar a força no caos

Na imagem, as mãos de uma mulher estão em destaque. Ela estende suas mãos no ar. Ao fundo, há o mar.
Tamara Velazquez / Capturenow / Canva
Escrito por Giselli Duarte

No centro do redemoinho, onde tudo parece ruir, algo silencioso se revela. Uma escolha difícil, mas poderosa, transforma o caos em caminho. Quer descobrir como? Leia e permita-se atravessar a tempestade com novos olhos.

No centro do redemoinho, onde o mundo parece desmoronar em torno dos nossos pés, há um espaço pequeno, quase imperceptível, onde o silêncio mora. É ali, naquele instante entre o desespero e a resposta, que começa o verdadeiro trabalho: manter a calma no meio da tempestade.

Não é um dom. Não é algo que se aprende lendo frases prontas ou repetindo mantras ocasionalmente. É um exercício. Um músculo que se fortalece nas dobras da vida, nos momentos em que tudo parece exigir um grito e, mesmo assim, escolhemos respirar. Inspirar fundo. Ficar. Sentir. Não fugir.

A calma não é passividade. É presença.

É fácil confundir serenidade com fraqueza. Como se quem não reage com fúria não sente com intensidade. Mas manter-se calmo é, muitas vezes, a expressão mais pura de coragem. Porque a raiva é rápida. O medo, instintivo. A fuga, automática. Já a tranquilidade é escolha — e uma escolha difícil. É o gesto de permanecer consciente quando o mundo empurra para a inconsciência.

Há algo profundamente transformador neste ato. Quando escolhemos a calma, não estamos negando a tempestade. Não fingimos que não dói, que não assusta, que não perturba. Pelo contrário: reconhecemos o caos em sua totalidade. Mas decidimos não ser arrastados por ele.

Esse gesto, essa decisão de olhar a confusão nos olhos e dizer: “Eu fico”, muda tudo. Muda o caos. Muda quem somos. Porque passamos a ser maiores do que a reação, maiores do que o medo.

É assim que o caos vira aprendizado. Não é quando tudo se acalma do lado de fora. É quando conseguimos enxergar, mesmo em meio à desordem, aquilo que antes estava escondido sob o véu da pressa ou da dor. A lição vem embutida no desconforto. Mas só é revelada a quem consegue pausar o suficiente para ouvi-la.

Na imagem, uma mulher negra e jovem está com a cabeça levantada, os olhos fechados e ela respira fundo.
Marco VDM / Getty Images Signature / Canva

E isso não acontece de um dia para o outro. Cultivar essa força interior é como plantar uma árvore num terreno instável. Leva tempo. Leva insistência. No começo, os ventos parecem fortes demais. As raízes, frágeis demais. Mas, aos poucos, dia após dia, a árvore aprende a dançar com o vento sem se romper.

Quantas vezes nos perdemos em meio a reações impulsivas? Quantas vezes dizemos palavras que depois viram espinhos na memória? Quantas vezes corremos, fugimos, explodimos, por não sabermos como simplesmente permanecer?

A força interior nasce da intimidade com a própria sombra. Do hábito de sentar com as emoções sem censura. Da disposição de se observar sem julgamentos. Isso exige vulnerabilidade. E, por isso, exige mais força do que qualquer grito.

A tempestade pode ser um rompimento, uma perda, uma decepção, uma crise de identidade, um não esperado. Pode vir de fora ou de dentro. Pode ser barulhenta ou silenciosa. Mas sempre, sempre traz consigo uma chance de expansão.

Cada vez que escolhemos a calma, cada vez que deixamos de reagir automaticamente e olhamos com curiosidade para o que nos inquieta, damos um passo para dentro. Para mais perto de quem realmente somos. Porque, no fundo, somos vastos. Mais vastos do que os sentimentos passageiros, mais vastos do que os ruídos externos.

Na imagem, uma mulher loira e jovem está com as mãos no rosto e está chateada ou abalada.
Fizkes / Getty Images / Canva

A calma nos conecta a essa vastidão. Nos lembra de que não somos a tempestade — apenas a atravessamos. E que o modo como atravessamos diz muito sobre o que carregamos conosco.

Há quem pense que calma é ausência de dor. Mas não é. Calma é presença plena, mesmo quando dói. É sentar-se no meio da confusão interna e escolher respirar com gentileza. É dizer a si mesmo: “Eu estou aqui. E isso é suficiente.”

Quando fazemos isso, começamos a perceber padrões. Começamos a entender os porquês. Começamos a nos ouvir. E ouvir a si mesmo, no meio do barulho, é um dos atos mais revolucionários que alguém pode praticar.

Sim, haverá dias em que não conseguiremos. Dias em que seremos engolidos pela onda. Mas até isso é aprendizado. Porque, quando voltamos, voltamos mais conscientes. Voltamos sabendo que é possível. Que é uma escolha. E que temos essa escolha em nós.

Manter a calma não é sobre ser inabalável. É sobre saber que, mesmo abalado, você pode permanecer inteiro. Que há uma parte sua que o caos não alcança. E que é possível acessar essa parte sempre que necessário.

Na imagem, uma mulher negra e jovem está caminhando e segurando sua bicicleta. Ela olha para o lado e sorri.
Tempura / Getty Images Signature / Canva

Essa prática nos transforma. Nos torna mais pacientes com os outros, mais empáticos com suas lutas invisíveis. Nos ajuda a escutar além das palavras, a enxergar além dos gestos. Porque, quando nos tornamos íntimos da nossa própria turbulência, reconhecemos a do outro com mais compaixão.

A tempestade, então, deixa de ser um fim. Passa a ser um portal. Um caminho que nos leva a camadas de nós que antes estavam adormecidas. E, quando atravessamos, não somos mais os mesmos. Algo muda. Algo desperta.

Por isso, não se trata de evitar a tempestade. Nem de desejar que ela passe rápido. Trata-se de caminhar por ela com atenção. Com escuta. Com coragem. Sabendo que cada passo é também um espelho. Que cada trovão carrega uma mensagem. Que cada raio ilumina uma parte de nós que ainda não sabíamos nomear.

Ao final, não se trata de domar o caos, mas de aprender com ele. De transformá-lo em solo fértil para a consciência. De colher, mesmo do vendaval, as sementes da presença.

E, assim, aos poucos, a vida se revela não como um campo de batalhas a vencer, mas como um jardim em constante cultivo. Onde cada tempestade traz chuva, e cada chuva traz crescimento.

Manter a calma, então, deixa de ser um esforço. Torna-se um modo de viver. Um modo de estar. Um modo de ser. Profundo. Íntegro. Real.

E é nessa escolha diária que, sem perceber, nos tornamos abrigo. Para nós. Para o outro. Para o mundo.

Sobre o autor

Giselli Duarte

Nunca fui alguém que se contenta em observar a vida passar. A inquietação sempre pulsou em mim, guiando-me a atravessar caminhos diversos, por vezes improváveis, mas sempre significativos. Não se tratava de buscar respostas rápidas, mas de me deixar ser moldada pelas perguntas.

Meu primeiro contato com o trabalho foi aos 14 anos. Não era apenas sobre ganhar meu próprio dinheiro, mas sobre entender como o mundo se movia, como as relações de troca iam além de cifras. Com o tempo, percebi que meu lugar não seria apenas cumprir horários, mas criar algo próprio. Assim, aos 21, nasceu meu primeiro negócio, registrado formalmente. Desde então, empreender tornou-se tanto profissão quanto paixão.

Mas, por trás dessa trajetória profissional, sempre existiu uma busca interior que muitas vezes precisei calar para priorizar o mundo exterior. Foi somente quando o cansaço me alcançou na forma de burnout que entendi que não podia mais ignorar a necessidade de olhar para dentro. Yoga e meditação não foram apenas escapes, mas verdadeiras reconexões com uma parte de mim que havia sido negligenciada.

Foi nesse espaço de silêncio que descobri o quanto a curiosidade que sempre me guiou podia ser dirigida também para dentro. Formei-me em Hatha Yoga, dentre outras terapias integrativas, e comecei a dividir o que aprendi com outras pessoas, conduzindo práticas e compartilhando reflexões em plataformas como Insight Timer e Aura Health. Ensinar, percebi, é uma das formas mais puras de aprender.

A escrita foi um desdobramento natural desse processo. Sempre acreditei que as palavras possuem a capacidade de transformar não só quem as lê, mas também quem as escreve. Meus livros, No Caminho do Autoconhecimento e Lado B, são registros de uma caminhada que não se encerra, mas que encontra sentido na partilha. Participar de antologias poéticas também me mostrou a força do coletivo, de somar vozes em algo maior.

Cada curso que fiz, cada desafio que enfrentei, trouxe peças para um mosaico em constante formação. Marketing, design, gestão estratégica – cada aprendizado me preparou para algo que, na época, eu ainda não conseguia nomear. Hoje, entendo que tudo se conecta.

Minha missão não é ensinar verdades absolutas, mas oferecer ferramentas para que cada pessoa possa encontrar suas próprias respostas. Seja através da meditação, da escrita ou de uma simples conversa, acredito que o autoconhecimento é um processo contínuo, sem fim, mas cheio de significado.

E você, o que tem feito para ouvir as perguntas que habitam em você? Talvez nelas esteja o próximo passo para um novo horizonte.

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Meditação para quem não sabe meditar

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