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Ceteris paribus e as cianobactérias: uma educação de laboratório?

Pesquisa de algas em um laboratório. Imagem que representa o conceito de biotecnologia.
Ckstockphoto / Canva
Escrito por Nina Veiga

Já pensou na educação como um experimento de laboratório? E se estivermos isolando demais o sujeito da vida real? O que a ciência das cianobactérias tem a ver com isso? Descubra como a “vida viva” desafia concepções tradicionais. Continue lendo!

Um protótipo da cianobactéria isolada. Todo o resto é ceteris paribus.
Não dá para fazer a mesma coisa com gente, nem com a educação.
A vida viva não para em uma lâmina de laboratório.

Isso de que vamos falar hoje tem a ver com educação. Tem a ver também com uma certa concepção de gente. Gente chamada de sujeito. Além disso, o que vamos falar hoje tem a ver com uma maneira muito comum de produzir conhecimento: o conhecimento in vitro, feito em laboratório, isolado da vida viva. Pensar na educação e pensar no sujeito, na maioria das vezes, é como pensar em cianobactérias. Sabe aquelas algas azuis? Aqueles micro-organismos com células procariontes que fazem fotossíntese, como as algas?

Uma cientista ou pesquisadora está trabalhando no laboratório de botânica.
StockRocket / Getty Images / Canva

Então, soube de um cientista que estuda as cianobactérias em um laboratório de ecologia aquática que, para saber sobre as cianobactérias, é preciso um procedimento esterilizador. Primeiro eles coletam a água, aí tem que isolar a bactéria. Colocam uma gota na lâmina do microscópio e tentam capturá-la com um instrumento apropriado. Se for preciso, vão diminuindo a gota d’água até conseguirem isolar. Aí vão para o cultivo para estudarem as reações da bactéria a diversos elementos. Existe um cuidado imenso para o banco de cianobactérias não contaminar, não ser invadido por outros organismos. Se contaminar, trabalho perdido, tem de isolar tudo de novo. Ou seja, estudam as cianobactérias como se só elas existissem no mundo.

Para certas concepções, a compreensão de sujeito e educação também é assim: os pensam como elementos isolados, in lamini. Os pensam no laboratório, algo que pode ser isolado e manipulado para responder a esse ou aquele estímulo. Para essas concepções, todo o resto, toda a influência interna ou externa: ambiente, genética, cultura, história, todas as forças impossíveis de mensurar são consideradas ceteris paribus. Ceteris paribus é uma expressão latina que significa “tudo mais é constante” ou “mantidas inalteradas todas as outras coisas”. Ou seja, isola-se o sujeito para compreendê-lo. Todo o restante é considerado fixo.

Olha-se para a educação in vitro. Constroem-se fundamentos e teorias, sistematiza-se, avalia-se, considerando que todo o restante é ceteris paribus. As relações, os processos, as forças que atuam configurando provisoriamente sujeito e educação são desconsideradas, somente é aceito aquilo que pode ser isolado. Se a vida invadir essas concepções, bau-bau… trabalho perdido. Vale não. Tem de começar a pensar tudo de novo. Afinal, foi contaminado pela vida viva. E o que vida viva tem a ver com sujeito e educação?

Sobre o autor

Nina Veiga

A artemanualista e ativista delicada Nina Veiga é doutora em educação, escritora, conferencista. Sua pesquisa habita o território da casa e suas artes, na perspectiva da antroposofia da imanência. É idealizadora e coordenadora do coletivo Ativismo Delicado e das pós-graduações: Artes-Manuais para Educação, Artes-Manuais para Terapias e Artes-Manuais para o Brincar. Desenvolve trabalhos de formação de artífices e escritores. Suas oficinas associam o saber teórico-conceitual às artes-manuais como modo de existir e à escrita como produção de si e do mundo.

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