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Experiência particular faz jornalista se tornar conhecida a partir de suas reflexões

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Escrito por Eu Sem Fronteiras

Era um dia normal quando Beatriz Franco postou um desabafo pessoal numa rede social. Os compartilhamentos foram tantos que dali alguns dias estava até dando entrevista no programa Mais Você da Rede Globo. No relato, ela conta como foi difícil aceitar uma proposta de emprego em outra área. Ela, que é jornalista, se viu preconceituosa consigo mesma ao aceitar trabalhar no ateliê de doces de sua amiga perto de sua casa. Conversamos com Beatriz que nos contou um pouco dessa experiência e sobre devaneios profissionais. Confira a entrevista:

Eu sem Fronteiras: Me fale um pouco de você. Onde mora? Qual sua formação?

Beatriz Franco: Meu nome é Beatriz Franco, tenho 28 anos e sou de Santos. Morei um tempo em São Paulo, mas agora voltei para morar e trabalhar aqui.

Eu sem Fronteiras: O seu relato no Facebook deu muita repercussão. Você imaginava que em alguns dias estaria conhecida no país?

Beatriz Franco: Eu jamais poderia imaginar que a minha história teria essa repercussão toda. Foi um texto que escrevi pra mim mesma pra compartilhar com meus amigos, era um texto fechado a princípio só para as pessoas da minha página, só que aí alguns amigos quiseram compartilhar, gostaram e quiseram passar para os amigos deles, aí tornei público e foi a parir daí que isso começou. Jamais poderia imaginar, mas fiquei muito feliz em ajudar tanta gente e receber tantas mensagens de carinho.

Eu sem Fronteiras: O relato é bem verdadeiro e muitas pessoas se identificaram com ele. Por que ainda se tem aquela mentalidade de que preciso é trabalhar na formação. Nem sempre é possível, mas a sociedade exige isso. O que acha?

Beatriz Franco: Eu acho que é normal você querer trabalhar na sua área de formação quando escolheu estudar o que gosta, como foi o meu caso. Fiz jornalismo porque eu quis. Eu queria ser jornalista desde criança e nunca me arrependi, mesmo quando precisei procurar outro tipo de trabalho. Nunca me arrependi da minha carreira, do que eu estudei pra fazer. Sou jornalista com muito orgulho, atuando na área ou não. Mas acho que isso não pode ser uma prisão. Se a tua área não está trazendo mais o resultado que tu precisa, se não te faz mais feliz ou se você estudou aquilo simplesmente pra ter um diploma pra mostrar pra família e quer ir atrás de outra coisa, vai atrás de outra coisa. Não existe mais essa necessidade de ficar a vida inteira trabalhando no mesmo lugar, na mesma empresa, fazendo o mesmo trabalho. Hoje a gente tem muito mais liberdade pra fazer o que quiser, onde quiser, a hora que quiser. Se é isso que te faz feliz, claro que te traz um retorno financeiro do jeito que você gosta e é isso que você tem que fazer. Sem se prender às formas de vida que a sociedade impõe ou que sua família exige. A vida é sua é você que tem que viver da melhor forma possível.

Eu sem Fronteiras: Como foi o momento em que você aceitou trabalhar no ateliê de doces da sua amiga? O que você sentiu?

Beatriz Franco: Quando eu aceitei trabalhar no ateliê de doces, foi um momento difícil pra mim porque, como falei anteriormente, gosto da minha profissão. Estudei o que amo fazer, então, pra mim foi muito difícil deixar isso de lado pra fazer outra coisa completamente diferente E isso se uniu à questão que eu comentei no texto do preconceito de achar que isso era inferior pra mim. Então, no começo, foi muito difícil dar esse passo, mas, a partir do momento que eu vi que era isso que eu precisava fazer, que isso ia me trazer um benefício, mesmo que temporário e que, cumprindo o que eu falei antes, eu não preciso fazer isso pro resto da minha vida, ficou mais fácil de assumir e enfrentar.

Eu sem Fronteiras:  Na crise, muitas pessoas afirmam  que é um momento de se reinventar. Como você acha que as pessoas podem fazer isso?

Beatriz Franco: É muito triste em um momento de crise você ter que se reinventar, é um momento de dificuldade, é um momento que, por algum motivo ou vários, o teu país e a tua economia não estão te dando condições de trabalhar no que você quer, no que você sempre trabalhou e gostaria de continuar. Então, eu acho que a primeira coisa é você ter consciência de que aquilo muitas vezes não é sua culpa. Não é incompetência sua não estar conseguindo mais ter algo em sua área. É uma situação pela qual o país está passando e outras pessoas têm responsabilidade sobre isso e devem arcar com essas responsabilidades. Mas, no momento, você precisa fazer algo pra sobreviver, então, é importante ter a cabeça aberta, buscar alternativas, buscar outros trabalhos, porque, muitas vezes, como aconteceu comigo, essas novas experiências podem te ajudar a se reencaminhar pro caminho que você quer. Às vezes é melhor você sair e fazer alguma coisa diferente do que ficar em casa sofrendo e enchendo a cabeça de bobagem. Você vai conhecendo pessoas, fazendo contatos, tendo novas ideias que podem te levar a um caminho de tranquilidade novamente.

Eu sem Fronteiras: Como tem sido a sua rotina desde a publicação?

Beatriz Franco: Tirando a parte das entrevistas, a minha rotina tem sido praticamente a mesma. Trabalho no ateliê de quarta a sábado a partir do meio dia, então, nesse horário, estou lá. Muita gente vem conversar comigo, comentar que leu o texto, que viu a reportagem que saiu na TV, que leu alguma matéria na Internet, parabeniza e me dá uma força. Fora isso, estranho normal, vida normal. Eu continuo dando aulas de inglês e continuo fazendo minhas coisas, continuo buscando oportunidades na minha área de comunicação. Vida que segue, a gente precisa continuar batalhando. Não tem nada resolvido ainda.

Eu sem Fronteiras: O blog “Posso Ajudar” vai ao encontro de muitas dúvidas que as pessoas podem ler em seus relatos. Como você pensou nele?

Beatriz Franco: O blog é um sonho muito antigo. Sempre tive vontade de ter um espaço onde pudesse ajudar as pessoas com opiniões e histórias, porque sempre fui uma referência pros meus amigos num momento de dificuldade, sempre fui o ombro em que eles vinham chorar e conversar e pedir conselhos e ajuda. Então, eu achava que podia ajudar mais gente dessa forma, mas, como sempre escrevi, sempre fiz meus textos, e não tinha essa repercussão, só entre amigos e família, eu achava que não tinha público pra isso e que ninguém tinha interesse num espaço como esse. Eu tinha muito a ideia de que ninguém lia  mais. Então, quando tudo isso aconteceu, foi meio que um abrir de olhos pra perceber que dá certo, que tem gente que se interessa por isso, que quer saber o que acontece na vida do outro, se identifica e quer ser ajudado, quer ter um lugar pra se sentir acolhido. É foi aí que surgiu o “Posso ajudar”, que juntou a questão do atendimento ao público, que é uma frase padrão com a questão de ajudar os próximos. Foi a partir dessa ideia que ele foi  construído.

Eu sem Fronteiras: Após o seu relato no Facebook, muitas pessoas escreveram para você. Como você está lidando com esse retorno das pessoas?

Beatriz Franco: Muitas pessoas me escreveram. Muitas mesmo. Ainda não consegui ler todas, nem da primeira leva quando o texto viralizou nem agora depois que saiu a reportagem no Mais Você  Chegaram muitas mais e eu não consegui ler tudo. Recebi muita coisa de muita gente me parabenizando pela iniciativa, pela coragem de me identificar e falar a verdade, o que muita gente não tem coragem de fazer. Recebi agradecimentos de pessoas que  estavam na mesma situação que eu e não estavam conseguindo força pra ir atrás, pra achar um novo trabalho, pra sair de onde estavam e tiveram essa força ao ler o meu texto. Que estavam deprimidas, que estavam com problemas na família e que engoliram o orgulho, assumiram seu preconceito e foram lá e começaram a trabalhar em outra coisa que não era sua área. Recebi muita coisa e essa é a parte mais gratificante. É muito emocionante ler tudo isso e perceber o quanto a gente consegue atingir as pessoas com uma coisa simples  como abrir o coração, com uma história minha. É muito emocionante isso.

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Eu sem Fronteiras: O que foi mais difícil até agora?

Beatriz Franco: O mais difícil foi assumir isso publicamente. Fiquei com esse texto na cabeça por vários dias. As frases vinham e eu começava a escrever tudo na minha mente, mas acabava nunca colocando isso no papel. Aí, depois que eu escrevi e ia publicar, pensei se eu realmente colocaria a minha foto. Deu uma vergonha muito grande e foi a parte mais difícil… Assumir isso tudo e publicar, que nem era pra ser tão público assim. Era pra ser algo para os mais próximos, entre os amigos, e cresceu muito. Essa foi a parte mais difícil, mas depois disso foram só coisas boas. Foi muito carinho que recebi de todo mundo. Sempre tem umas pessoas que não entendem ou não querem entender, que criticam, que não gostam, isso também aconteceu, também dói e é um pouco difícil ler, mas faz parte e foi uma minoria das centenas de mensagens que recebi.

Deixe uma mensagem:

Beatriz Franco: É importante se unir mesmo e formar uma teia de conexões. É só por meio dessa união que a gente vai conseguir melhorar a nossa cidade, o nosso país, as nossas vidas.


Texto escrito por Angélica Fabiane Weise da Equipe Eu Sem Fronteiras

Sobre o autor

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