Comportamento

Morar fora ou não: eis a questão

Viagem pelo conceito de monumento mundial
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Escrito por Amanda Magliaro

É inegável que morar fora é uma boa experiência. Traumática, às vezes, mas boa. Morar fora é sinônimo de transformação. Cada pessoa tem uma história diferente, encontra contextos diferentes, traz uma bagagem de vida diferente, e isso influencia muito no tipo de experiência que eles encontram. Contudo é possível encontrar certos pontos em comum nas histórias de todos, e é isso que iremos conferir agora!

Prós

Você se descobre

Quando você está no seu país, às vezes é como se fosse uma jaula. Os mesmos amigos, as mesmas companhias, os mesmos dilemas, as mesmas pressões. Mas quando você muda de país, você tem tempo de se descobrir, e o melhor de tudo: no seu tempo. Cada experiência nova exige um “novo você”, e nisso você se transforma e se descobre de maneiras que nunca imaginou antes.

Você aprende o significado de resiliência

Não quero te decepcionar, mas a vida não é um mar de rosas. Posso não conseguir enumerar quantas vezes você vai se frustrar e seus planos não serão como planejado, mas acredite: serão muito mais vezes do que você gostaria. E a verdade é uma só: você não tem escolha a não ser seguir em frente. Você viverá seus lutos, mas quando for a hora perceberá que não pode ficar parado, uma vez que grande parte das coisas não se resolve sozinha.

Sua comunicação com os outros mudará

Na sua jornada você encontrará pessoas boas e ruins. Isso acontece no seu país, contudo quando você está vivendo fora isso terá um peso completamente diferente. Você está por sua conta. Os outros são a maioria, e pelo menos no começo você não se verá tão cheio de amigos. Você pode se tornar uma pessoa mais gentil, pois aprenderá a não ser com os outros os malvados que foram com você. Ou talvez você se veja mais direto e decisivo “Gosta de mim? Ótimo. Não gosta? Então fo*

Um caderno em branco, fotografias, uma lupa, óculos e uma câmera fotográfica em cima de uma mesa de madeira
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Você aprenderá novas habilidades

Assim como Darwin sugeria, nós evoluímos. Nesse caso, nós nos reinventamos. Seja porque você quer tentar algo novo, porque você não encontra trabalho ou porque precisa melhorar alguma habilidade para seu trabalho, você se arriscará mais e descobrirá gostos para coisas que nunca imaginou antes.

Você, em teoria, se tornará mais empático

Ser imigrante não costuma ser fácil. Principalmente se você vem de uma família privilegiada, você se verá sem muitas mordomias e sendo tratado de forma diferenciada – não necessariamente positiva. Isso abrirá seus olhos, você aprenderá que certas situações – que antes você não percebia – não são agradáveis e pensará duas vezes antes de agir ou falar alguma coisa a fim de proteger a confiança, autoestima e dignidade de outra pessoa.

Contras

Você está longe

Tá, todo mundo fala do conceito de “homesick”, quando estamos com saudade de casa. Mas saudade não é uma palavra que explique esse tópico o suficiente. Você está longe, e voltar não depende de apenas querer: você precisa ter às vezes MUITO dinheiro para a passagem – que você não sabe se precisará para outra coisa no futuro, dias de folga para tirar no trabalho (e normalmente você vai precisar de mais do que 3 dias, uma vez que certas viagens já duram um dia inteiro), se tiver um namorado, pet ou filhos isso é mais uma coisa a se pensar. Seus amigos estão seguindo em frente com suas vidas, e você se sente estranho porque não está lá com eles. E esse sentimento só piora quando eles encontram novos amigos e você tem medo de ser substituído de alguma forma. Sem nem mencionar o medo de acontecer algo ruim com algum ente querido enquanto você está longe, talvez essa seja um dos piores aspectos negativos de todos.

Menina loira dentro do avião olhando pela janela
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Você tem que lidar com a solidão

Você pode gostar de ficar sozinho, muitos de nós gostamos. Mas a verdade é que chegar em casa e não ter ninguém… enfrentar essa realidade por meses é difícil. Sem contar que toda vez que tiver um pepino para resolver, tudo só depende de você. Seus pais não vão aparecer para resolver as coisas para você. Tá cansado e com fome? Você precisa levantar e ir fazer alguma coisa, caso não tenha dinheiro para pedir delivery. Pode parecer coisa de gente “coxinha”, mas a verdade é que se você está em seu país, sempre tem alguém da família ou do seu ciclo de amigos de quem você pode depender, mas quando está em outro país essa mordomia não existe.

Você se sente preso às suas escolhas

“O verdadeiro lar é o nosso coração”. Isso de certa forma é verdade, principalmente se você se adapta bem à sua nova realidade. De repente você tem duas casas e todos os dias está fazendo escolhas. Quando você fica na dúvida entre voltar para casa ou não, você se vê dividido, pois existem coisas que você gosta e desgosta em ambos os países. Quando você se encontra nesse dilema, você finalmente entende o peso da frase “Quando você escolhe um caminho você está abrindo mão de outro”, e esse pensamento é algo que realmente abre uma ferida no coração. Quando você é apegado a alguma coisa, é difícil soltar.

Menina apontando para um mapa dentro do carro
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Sua vida se torna cheia de “E se”

Você sempre se questionou “E se eu fizesse isso?”, “E se não der certo?”. Bom, sinto dizer, mas esses questionamentos só pioram quando você mora fora. A não ser que você tenha uma confiança bastante sólida, a verdade é que a tendência é a sua insegurança aumentar. Você não tem muitas certezas. E se você é o tipo de pessoa que gosta de segurança e estabilidade, esse tipo de coisa te deixará louco.

Você pode ficar mais receoso em relação aos seus arrependimentos

Consequência dos “e se”: tudo é muito incerto. Se você estiver num ponto em que não tem muita certeza do que quer, o medo dos arrependimentos só piora. Muitas pessoas fazem suas escolhas e não têm nenhum problema em viver com as consequências, porém outras vivem presas no mundo das possibilidades e constantemente se questionam se estão no caminho certo.

O tempo ou clima do local pode mexer com seu humor

Existem alguns brasileiros que adoram dizer “AMO FRIO”. De fato, é gostoso, mas tudo que é demais se torna um pouco incômodo, pelo menos para a maioria das pessoas. Experimentar as quatro estações é uma experiência maravilhosa, mas muitos países só têm duas estações (em relação a temperatura): 10 meses de inverno e 2 de primavera, e dentro desses dois meses você terá 1 semana de verão. O frio constante junto à escuridão – no inverno costuma escurecer muito cedo e amanhecer muito tarde – mexe com o humor das pessoas, trazendo uma vibe mais depressiva. Seja por falta de vitamina D ou porque mexe com nosso horário biológico, é comum se sentir com menos energia e isso acaba com a qualidade de vida para quem não está acostumado (ou para quem não gosta).

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Viver em outro país é realmente uma aventura. Você sai dela cheia de aprendizados, histórias para contar e talvez mais alguns traumas para tratar na terapia. Refletir sobre tudo isso te faz pensar que Frodo teve bastante sorte em ter Sam para carregá-lo e encorajá-lo nos momentos difíceis, contudo nem todos têm essa sorte. O máximo que alguns conseguem é um amigo morto de fome que está sempre pronto para um segundo café da manhã às suas custas. Mas, brincadeiras à parte, existe apenas uma conclusão: morar fora pelo menos uma vez na vida deveria ser uma experiência pela qual todos deveriam passar. Agora ficar ou não, essa escolha é pessoal. De qualquer forma, assim como em Senhor dos Anéis, depois de uma grande aventura, ninguém volta mais o mesmo.

Sobre o autor

Amanda Magliaro

Redatora e tradutora, me apaixonei pela vida desde que aprendi a enxergar tudo o que ela tem para oferecer. Existem aquelas pessoas que nunca conseguiram encontrar seu caminho, até o próprio caminho decidir ir ao seu encontro, eu fui uma delas.

Num mundo cheio de possibilidades, escolhi acolher todas quando comecei a escrever. A busca por ser alguém melhor e mais feliz, e a chance de poder auxiliar uma pessoa que seja através da magia das palavras é o que significa para mim ter meu sonho se realizando todos os dias.