Autoconhecimento

Recomeçar… Um bom começo de nova vida – Capítulo 13

Capa do livro "Recomeçar... Um bom começo de nova vida".
Canva/Eu Sem Fronteiras
Escrito por Benedito Milioni

Capítulo 13 – FAIÔ? CHACUAIA, QUE O TREM PEGA!

E se pudéssemos reescrever o Mito de Sísifo? Por fim, Zeus conseguiu capturá-lo, Sísifo, e, por ter enganado e despertado a ira dos deuses, foi condenado a passar a eternidade empurrando uma pedra até o cume de uma montanha. No entanto, sempre que a pedra estava prestes a chegar ao seu objetivo, rolava montanha abaixo e Sísifo tinha que voltar a executar o trabalho todo novamente. E assim por todos os séculos, até o final dos tempos…

Nossa vida, por vezes, se assemelha a esse imenso sofrimento, o de Sísifo, qual seja, o de ter que enfrentar a síndrome do “quase” ou:

  • quase cheguei lá;
  • quase deu;
  • quase fui feliz;
  • quase ganhei…

E de quase em quase ficamos pelo meio do caminho, muitas vezes sendo esmagados pela imensa rocha que desce da montanha e a vemos depois, empoeirada mas ainda inteira, bem lá no começo do caminho, quando a empurrávamos e acreditávamos que a levaríamos ao cume e lá a deixaríamos, como em um altar em que se reverenciasse a nossa vitória. Ficando pelo meio do caminho, resignados após a dor da frustração, voltamos ao início, para retomar a luta do empurra-empurra, ladeira acima, e deparando com um fato doloroso: a rocha fica maior e mais pesada a cada tentativa frustrada e isso é desesperador.

Um recomeço é mais doloroso por causa de um equívoco: a rocha não fica mais pesada e maior! As nossas forças é que se vão a cada tentativa e nos faltam na seguinte, e tudo fica muito mais difícil! E, à medida que a dificuldade vai aumentando, se expande nosso desejo de desistir, abandonar e deixar nas mãos dos deuses que regem o porvir, sobretudo nas dos que nele gerenciam o Departamento do Acaso.

Aprendi duas boas lições a esse respeito. A primeira, ainda aos 14 anos de idade, num grupo de escoteiros: o instrutor pediu que nossa tropinha, meia dúzia de magricelas, deslocasse uma rocha nas proximidades de uma trilha em que fazíamos a marcha de instrução. Era enorme e sempre impassível diante dos nossos esforços para deslocá-la até o ponto determinado pelo instrutor. Quando já tínhamos virado um trapo de tanto cansaço e suor, eis que o instrutor solta a bomba: “Por que não partem a rocha e levam os pedaços, um de cada vez, para o ponto determinado?” Surpresos, foi o que fizemos, usando nossas ferramentas-padrão e, depois de muita bordoada, a rocha se rendeu, partindo-se em pedaços, que foram levados pela tropinha triunfante para um local metros adiante.

Foto de uma rocha redonda parada no chão.
Foto: Pixabay

A segunda ocorreu por ocasião do serviço militar obrigatório. O pelotão a que pertencia deveria levantar um tubo de obus de 105 mm, peça de artilharia sobre rodas e tracionada por jipes e outros veículos. Depois de muito esforço, mal conseguimos levantar o tubo (comumente chamado de cano…), quando, então, o sargento instrutor nos disse: “Por que não pegam os macacos hidráulicos dos caminhões e os usam para levantar o tubo?” E foi o que fizemos e, para nossa alegria, conseguimos levantar aquele peso imenso e colocá-lo sobre uma espécie de carrinho para deslocá-lo até onde deveria ser disposto para inspeção e manutenção.

Nos dois casos aprendi que:

  • se estiver grande e pesado demais, divida em pedaços menores, e é só uma questão de tempo para vencermos peso e tamanho superiores;
  • se estiver difícil levantar um determinado peso ou forma, experimente buscar apoio de alavancagem, seja de que tipo for.

Pois é… Um recomeço pra valer pode demandar medidas especiais em termos de auxílio, pelo menos para as medidas iniciais. Não é possível levar a efeito 100% das ações que configurem um recomeço real e consistente, o melhor é executar o que estiver mais próximo, quem sabe dividindo o todo em partes, como propõe o método cartesiano, de René Descartes (1596-1650). Cada parte trabalhada e finalizada é uma boa opção para que a totalidade seja alcançada. Não consegue empurrar a rocha de uma vez só até o topo, tente milímetro a milímetro, o que vale dizer: não é possível recomeçar o que precisa ser feito de forma integral, faça-o conforme seja possível na estratégia do “pedacinho mais pedacinho forma um pedação!” Uma vez um palestrante fez uma pergunta para uma plateia daquelas bem “travadas”, ultraconservadoras e de cabeça formatada por manuais de instruções: “Como se come um elefante inteiro?” Depois de minutos de confusos e inquietos debates, sem nenhuma resposta, além daquela que afirmava ser impossível, o palestrante disse em alto e bom som: “Um pedacinho de cada vez, oras!” Quando as pessoas presentes entenderam a extensão de sabedoria na despretensiosa pergunta, uma bela salva de palmas cresceu no ambiente e muitos sorrisos apareceram nos rostos antes vincados pela incerteza e desconforto.

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Um ritualzinho para ajudar a fixar o que se disse sobre problemas e o seu peso e tamanho. Arranje uma pedra grande e nela escreva o nome do seu projeto de recomeço e, com letras menores, uma palavra para cada obstáculo ou força de oposição ao seu projeto de recomeço. Feito isso e em seguida a uma prece em favor do seu anjo da guarda, aplique uma marretada na pedra e depois veja os pedaços em que ela se fragmentou, junte-os e imagine que assim era e agora é o seu projeto de recomeço: antes um imenso problema e agora um monte de problemas de diversos tamanhos, os quais você decide que são muito menores que sua capacidade de luta e obstinação por resolvê-los e vá em frente!

Uma alavancagem no início do seu projeto de recomeço é sempre uma boa ideia! Não vire as costas para uma oportunidade de alavancagem, mesmo que pequena e sem prometer explosões de resultados e liberação de energias das mais intensas. Veja o que pode ajudar a dar movimento ao projeto de recomeço, assim como um macaco hidráulico consegue levantar o tubo do canhão 1 milímetro apenas, mas o suficiente para juntar mais energia para o milímetro seguinte. Conte com a força do primeiro passo, porque não haverá a série de outros passos, se o primeiro não vier a ser efetuado, e busque as oportunidades de alavancagem, como:

  • estudar e pesquisar o que outras pessoas fizeram na mesma situação em que você se encontra;
  • buscar conselhos com pessoas da sua confiança;
  • procurar apoio onde seja possível, como se fosse uma “mãozinha” para dar uma “chaquaiada” no problema em si;
  • começar por onde der, mesmo que sejam passos adiante daquele que se configura como passo inicial pra valer.
Peças de dominó dispostas sobre uma mesa.
Foto: Pixabay

Vamos a um ritual cheio de simbolismo e que pode vir a ser uma interessante alavancagem do que se pretende recompor como recomeço: monte uma torre com peças de dominó, preferencialmente de plástico, com duas em cada “andar”, dispostas de forma simetricamente paralela. Tome para isso pelo menos duas caixas do jogo, porque uma apenas não será suficiente. Faça a torre, dela retirando uma peça de cada vez, claro que sem demolir a torre, usando apenas o polegar e o indicador da sua mão dominante. Coloque a peça retirada em novo andar, no topo da torre, contando quantas peças são retiradas e assim redispostas e vá até não ser mais possível retirar peça alguma. Remonte a torre e siga o mesmo método de retirada, porém com a sua mão não dominante e depois compare o número de peças movimentadas em cada fase e veja que… com a mão dominante a produtividade é MUITO maior, e tome isso com um simbolismo de que tudo se pode fazer, na ordem possível, no momento certo, começando por onde possa começar, com a velocidade cabível.

Não há montanha, muito menos pedra que justifique receios da sua parte! Suba pelas encostas de uma e quebre a outra, mas vá em frente!

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Sobre o autor

Benedito Milioni

Graduado em Sociologia e Administração, 46 anos de carreira executiva e técnica em Desenvolvimento de Pessoas, autor de 32 livros, autor de 5 e-books, co-autor de 15 livros e autor de 25 manuais técnicos.

Dirigiu treinamento para mais de 3.349 grupos (cerca de 81.000 treinandos), dos quais 36.760 da área de RH, cerca de 24.736 Gestores e Líderes, 18.610 na área Comercial e 3.318 em Competências de Negociações . Formou cerca de 2.450 Instrutores e Multiplicadores Internos e 610 Consultores Internos Participa, regularmente, como conferencista sobre Tecnologia de Gestão em T&D em eventos nacionais e internacionais.

Apresentou mais de 2.104 conferências e palestras para mais de 200.000 pessoas. Prestou serviços a mais de 440 empresas, no Brasil e no exterior (América Latina, América Central, África e Europa). Júri de prêmios de Excelência na Gestão de Pessoas.

Publisher da GESTÃO DE PESSOAS EM REVISTA.

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