Autoconhecimento

Você é resiliente?

Mulher com os braços abertos em cima de uma rocha
Evicas de Getty Images / Canva

A resiliência é uma qualidade que permite que uma pessoa supere os desafios da vida sem desanimar. Se você é resiliente, nada pode te abalar. A partir do conteúdo de Conceição Castelo Branco, nossa colunista, navegue pela sua interioridade para saber se essa característica está presente em você.

Recentemente, chegou às minhas mãos o livro “Na Solitária”, de autoria de Albert Woodfox1, um homem que ficou confinado, durante mais de 40 anos, numa cela de 2m x 3m, 23 horas por dia, na penitenciária Angola, que fica no estado de Louisiana. Ele cumpria pena por assalto à mão armada e foi acusado, sem provas e julgamento, com dois outros prisioneiros, pela morte de um agente penitenciário.

Albert tinha consciência de que sua condenação era meramente política porque ele pertencia ao partido político “Os Panteras Negras”, que tinha, entre outros objetivos, combater a violência policial contra os negros. Apesar de sua indignação com a injusta condenação, Albert sobreviveu, de uma forma resiliente e ativa e com a ajuda de seu partido, às condições desumanas a que foi submetido. No livro supracitado, o autor relata sua história familiar e os detalhes de seu julgamento e de sua vida na prisão.

A história de vida de Albert Woodfox como a de Nelson Mandela, Stephen Hawking e Viktor Frankl, dentre muitos outros, são exemplos de resiliência para nós. O que essas histórias têm em comum?

Apesar de ocorrerem em contextos diferentes, elas nos relatam a capacidade que essas pessoas tiveram de enfrentar as adversidades e superá-las, transformando todos os momentos mais difíceis e dolorosos em oportunidades para aprender, crescer e mudar suas vidas.

Há muita discussão e divergência sobre o conceito de resiliência porque ele envolve muitos fatores, tais como: as características pessoais das pessoas resilientes, as circunstâncias vivenciadas por elas, as relações que estabeleceram no meio em que vivem, a capacidade de adaptação às circunstâncias adversas e de transformação pessoal ao enfrentá-las.

Pessoa deitada na grama enquanto olha o céu
Pexels de pixabay / Canva

Optamos pelos argumentos de estudiosos que defendem uma concepção de resiliência como um processo que compreende a ideia de superação, no sentido do enfrentamento das adversidades e do crescimento pessoal. Isso vai além do mero ajustamento ou da adaptação do sujeito a uma determinada situação e destaca a sua capacidade de elaboração pessoal por meio da mudança de crenças e de visão de mundo.

Ressalto aqui um aspecto que não observei nas leituras que fiz sobre o tema aqui abordado: a concentração mental. Pessoas resilientes elegem um foco, a visão de um objetivo para o qual converge o seu esforço de superação. Elas mantêm o pensamento e a vontade direcionados a esse foco. Dedicam-se de corpo e alma a ele. Tornam-se, por assim dizer, obcecadas por ele. As limitações físicas, espaciais, ambientais não dispersam sua atenção. Ocupam totalmente sua mente numa determinada direção e mantêm-se íntegras, sãs, embora o contexto seja extremamente difícil e desafiador. Essa atitude transforma o conformismo em ativismo, o desencanto em esperança, a resignação em perseverança.

Pode-se afirmar que pessoas resilientes são frutos das adversidades. Elas (as adversidades) são oportunidades para o autoconhecimento, o esclarecimento, a mudança de concepções e de valores. Elas nos tiram da zona de conforto, da passividade diante dos desafios. Em muitas situações de vida, como a de Albert Woodfox, a resiliência representa a garantia de sobrevivência.

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É importante destacar que pessoas resilientes são pessoas que cultivam uma visão mais positiva da vida, adotam valores mais essenciais, têm uma certa coerência em suas escolhas, são mais determinadas e autônomas. Por isso, quando enfrentam as adversidades, não as temem; ao contrário disso, sentem-se desafiadas por elas. No entanto, a atitude de resiliência não é inata, ela é formada no processo da vida de cada pessoa porque o ser humano não pode isolar-se de sua circunstância e esta não pode subsistir sem a presença humana. Nessa relação, a pessoa vai modificando a si mesma e o mundo ao seu redor.

Assim sendo, é indispensável entender que a extensão de nossa vida está condicionada por nossa capacidade de buscar o sentido de tudo que nos rodeia. Ortega y Gasset, filósofo espanhol do século XX, que enfrentou de maneira resiliente o período da ditadura em seu país, concebe o problema da vida como a preocupação de um eu que busca sua identidade no âmbito de adversidades e possibilidades concretas. Nesse sentido, afirmou: “Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo a mim”.

Sobre o autor

Conceição Castelo Branco

Sou formada em filosofia e pedagogia. Na verdade, sou uma eterna aprendiz que, aprendendo, também ensina. Sou uma educadora em construção. Nesse processo, descobri meus talentos. Ensinar e aprender foi um deles. Trabalhei com crianças como professora alfabetizadora. Tarefa difícil e desafiadora, mas também apaixonante. Trabalhei com adolescentes e jovens de escolas públicas e particulares de ensino fundamental e médio, realidades completamente diferentes, com desafios complexos. Nesse contexto, atuei como arte-educadora, vivência que me enriqueceu extraordinariamente. Trabalhei, enfim, com jovens e adultos na universidade pública, onde pratiquei o exercício da reflexão e da crítica com maior profundidade.

Durante algum tempo, prestei serviços na Secretaria Estadual de Educação, na área de currículo, planejamento educacional e formação de profissionais de educação. Constatei que, sem a experiência do magistério, o meu trabalho jamais teria repercussão no chão da escola. Fui consultora do Ministério de Educação em alguns trabalhos, entre eles na elaboração dos Planos Municipais de Educação do Piauí. Atuei também como conselheira estadual de educação, função que exige muito estudo e conhecimento da realidade.

Em dado momento de minha carreira, resolvi escrever um livro, no qual abordei os problemas e desafios de quem assume o magistério com compromisso e responsabilidade. Seu título: "Professor, sai da caverna". Foi publicado pela editora da UFPI. Paralelamente a essas atividades, fiz o curso de instrutora de Yoga, cuja prática mantenho até o momento em que vivo. Tenho outros projetos: escrever um outro livro (dessa vez com a participação de alunos) e trabalhar Yoga com crianças de uma escola municipal da periferia de Teresina, cidade onde moro. Talvez eu continue a sonhar até o fim da vida, porque, no fundo, sei quem sou e para que estou nesse mundo.

Contato:
Email: ceicacb@hotmail.com