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Comportamento: O dilema cada vez maior entre ser ou fingir que se é

Imagem de uma mulher segurando uma máscara branca na frente do rosto, como se estivesse se escondendo
stock_colors de Getty Images Signature/ Canva

As redes sociais são uma ferramenta que nos auxilia a entrar em contato com o mundo, com quem amamos e com todo tipo de informação. Entretanto, é verdade que elas podem criar um ambiente tóxico, de competitividade e inveja. Nesse sentido, você pode acabar fingindo ser outra pessoa para melhorar a imagem que você transmite no meio virtual. Descubra quais são os efeitos disso!

As redes sociais inauguraram uma forma nova de relacionamento entre as pessoas que foge totalmente à realidade com que convivíamos há 30 anos, por exemplo, o “mostrar que se é” passou a ser a regra, e ser realmente passou para segundo plano. Então temos que pensar as relações de uma forma muito diferente daquela que conhecíamos antes da internet.

Sou daquelas pessoas que nunca dá um presente a alguém simplesmente porque encontrei algum que achei bonito e interessante. Eu irei antes pensar na pessoa pra quem será oferecido, nos seus gostos, na sua forma de usar as coisas, de viver e, principalmente, na sua forma de pensar. E vou levar um tempo longo para escolher o presente que possa se enquadrar nas escolhas que ela própria faria, se fosse ela a comprá-lo.

E isso serve também para o conteúdo que envio aos meus contatos: nunca repasso um deles para toda a minha lista de conhecidos. Na verdade acabo enviando-o, quando muito, para dois ou três entre as muitas dezenas que figuram no meu aplicativo de mensagens, e isso após o trabalho de rever um por um da minha lista, e pensar em como receberiam o conteúdo que recebi e achei interessante.

Pois é: quando achamos algo que nos parece interessante, o primeiro pensamento é o de que todo mundo vai achar o mesmo, mas isso fica muito longe de ser verdadeiro. As pessoas são diferentes na forma de pensar, de agir e de interpretar o que recebem, e o correto é estabelecermos um diálogo próprio e personalizado com cada uma.

O conteúdo que achei engraçado, por exemplo, pode parecer agressivo para um contato meu, simplesmente porque ele se vê na piada ou teve uma experiência ruim que se encaixa no conteúdo aparentemente divertido e inocente.

Imagine o tempo que cada conteúdo me toma, então, toda vez que quero enviá-lo a alguém, pois vou sempre pensar antes em como cada pessoa irá recebê-lo, se ele será tão interessante para o outro como foi para mim.

Então, como regra, estabeleci que só repasso o que sei que será importante para esta ou aquela pessoa, e para ninguém mais, sob risco de magoar alguém, ou desagradá-la, baseado numa referência que é apenas minha.

Note-se então como é importante conhecer as pessoas para quem enviamos coisas, e depois se entenda como somos afetados quando as pessoas “panfletam” mensagens sem se dar ao trabalho de pensar se gostaríamos de recebê-las ou não.

Imagem vista de cima de um homem e uma mulher conversando
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Meus contatos fazem o mesmo comigo? Não! Na verdade, de quase uma centena da minha lista, não chega a meia dúzia os que agem de forma responsável quando me enviam suas mensagens.

Neste mundo digital de agora tudo é rápido, automatizado, desprovido de significados. Uma maioria nem pensa em nada disso associado a uma simples mensagem, e aqueles que me enviam mensagens de “bom dia” e “boa noite” todo santo dia, geralmente mandam textos religiosos que exaltam a amizade, o respeito e o amor entre pessoas.

Costumam ser mensagens prontas que circulam por um número enorme de pessoas que apenas as repassam, e têm uma para cada dia da semana, para cada mês que começa, para cada estação nova e para cada data comemorativa do calendário. E ninguém para pra pensar que talvez eu odeie recebê-las!

Sim, as pessoas são legais, as mensagens são lindas até, e elas parecem querer demonstrar que querem o melhor pra mim, não é assim? Mas esses conteúdos me soam automáticos e vazios, desprovidos de uma ligação real, de um sentimento verdadeiro no momento em que a enviam, além de que a frequência diária se revela robotizada e superficial, o que me deixa profundamente irritado em vez de me deixar feliz!

Mas agora pense: de que forma eu poderia dizer isso aos meus contatos? Na cabeça deles estão fazendo uma manifestação de carinho… Dá pra lhes dizer que eu preferia que fizessem isso lá uma vez ou outra, quando realmente estivessem sentindo minha falta, em vez de fazê-lo todos os dias com aquelas mensagens prontas que não me dizem coisa alguma, a não ser que elas perderam a capacidade de expressar sentimentos reais e profundos?

E que enviá-las todas as manhãs não as tornam menos superficiais, mas me chegam como se marcassem o ponto na chegada do trabalho? Como dizer isso a elas sem magoá-las, já que pensam que estão me fazendo algo bom, e não conseguem entender a diferença entre suas mensagens e o que eu realmente cultivo como importante? Eu não envio mensagens de “bom dia” todos os dias para pessoas que amo.

Mas nos dias em que sinto o peito apertado pela ausência delas, pego o celular e lhes digo ao vivo que me faziam uma falta tão intensa que precisava pelo menos ouvir suas vozes, e sei que a emoção que ambos sentimos naquele momento é real e profunda, além de impossíveis de encontrar nas lojas de aplicativos.

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Nestes tempos de mensagens instantâneas e textos pré-fabricados, de “amigos” que nunca vimos, e de frases selecionadas em algum catálogo, as pessoas perderam a capacidade de experimentar sentimentos verdadeiros e profundos. Tudo é feito para “ficar bonito na foto”, pra exibir uma vida completa e feliz, uma família harmoniosa e perfeita, e sorrisos “pasteurizados” que se desmancham logo depois de um “click” e se repetem no próximo, apenas para compor a paisagem.

As novas gerações estariam perdendo a capacidade de vivenciar emoções autênticas para seguir o “script” das novas regras sociais, que não passam pelo coração?

Sobre o autor

Luiz Roberto Bodstein

Formado pela Universidade Federal Fluminense e pós-graduado em docência do ensino superior pela Universidade Cândido Mendes. Ocupou vários cargos executivos em empresas como Trimens Consultores, Boehringer do Brasil e Estaleiro Verolme. Consultor pelo Sebrae Nacional para planejamento estratégico e docente da Fundação Getúlio Vargas e do Instituto Brasileiro da Qualidade Nuclear (IBQN) para Sistemas de Gestão. Especializou-se em qualidade na educação (Penn State University, EUA) e desenvolvimento gerencial (London Human Resources Institute, Inglaterra). Atualmente é diretor da Ad Modum Soluções Corporativas, tendo publicado mais de 20 livros e desenvolvido inúmeros cursos organizacionais em suas diferentes áreas de atuação. Conferencista convidado por várias instituições de ensino superior, teve vários de seus artigos publicados em revistas especializadas e jornais de grande circulação, como “O Globo”, “Diário do Comércio” e “Jornal do Brasil”.

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