Na história de Aladim, temos um personagem que encontra uma lâmpada mágica e, como benefício, pode fazer três pedidos que serão atendidos pelo Gênio que está aprisionado no objeto. Em vez de fazer três pedidos para si, Aladim escolhe fazer apenas dois, e o terceiro pede para que liberte o Gênio da lâmpada, tornando-o livre.
Da mesma forma que o Gênio fora limitado ao objeto, também limitamos Deus às nossas crenças, como se fôssemos encontrá-lO apenas nas igrejas, nos testamentos e em pedidos de socorro. Quando abrimos mão dessas limitações e O libertamos, passamos a vê-lO em todos os lugares, por trás de todas as coisas, sejam boas ou ruins, simples ou complexas. Deus quer que você O permita estar em tudo, inclusive na sua rotina.
Estamos vivendo um momento excepcional, e muitos se perderam em sua identidade. Nossas vidas um dia resumidas por nossos papéis sociais se esvaem, e sobra o quê? Automatizados por uma rotina cheia de afazeres, aprisionados mentalmente por tantos compromissos e obrigações regidas por status e sucesso, hoje, nos vemos fadados a olhar para os detalhes, e é ali onde mora o relacionamento interrupto com o Divino.
“Para sobreviver à dureza do mundo é preciso polvilhar a alma com beleza e sensibilidade. É preciso cercar-se de pessoas que lhe façam bem. Ouvir boa música, ler bons livros, enfraquecer os estímulos à superficialidade, fazer as pazes com o silêncio e a quietude. Deus mora na rotina positiva. É através dela que Ele nos cura e nos protege. Quem não fizer esse favor, lamentavelmente será alma morta num corpo vivo.” Pe. Fábio de Melo
Para Carl G. Jung, fundador da psicologia analítica, Deus está em todas as manifestações, e se recebemos o fôlego, temos de dar sentido à vida oferecida como forma de gratificar o Sagrado. Não fomos criados para sermos miseráveis e pedintes, mas para sermos manifestações dEle em nós. Como seres, precisamos de vida simbólica, e ela começa pelas pequenas coisas, por detalhes inebriados a olho nu. A beleza cotidiana está na maneira em que nos comportamos, no respeito pelos objetos que nos cercam, e por organizar nosso dia estando presente, de corpo e alma em todos os nossos atos. Isto é viver e dar sentido à vida que nos foi dada. Isto reforça a nós as nossas próprias identidades. Sem compreensão simbólica, somos máquinas e animais racionalizados de propósito vazio.
Você também pode gostar
- Aprofunde-se nesta reflexão sobre o que é Deus
- Saiba como encontrar Deus em sua vida
- Entenda sobre Deus e o espiritismo
“… não é de admirar que as pessoas fiquem neuróticas. A vida é racional demais, não há existência simbólica em que sou outra coisa, em que desempenho um papel, o meu papel, como um ator no drama divino da vida […] E pelo fato de as pessoas não terem isso, não conseguem sair dessa roda-viva, dessa vida assustadora, maçante e banal onde são ‘nada mais do que são’.” Carl G. Jung
Assim como tratamos “grandes acontecimentos” com cuidado e atenção plena, devemos tratar da mesma forma o simples respirar. Como se cada dia fosse uma aula, e se nada tivesse aprendido ao final, teríamos inúmeros ensinamentos perdidos. Fazemos as coisas como simples obrigações, mas há um Deus acenando e nos pedindo atenção a Ele e a tudo o que nEle há.
A comunhão com Deus não é aquela ao acordar para pedir bênçãos, e ao dormir para se redimir dos pecados. A comunhão é a todo instante, e quanto mais compreendemos isso, mais veremos o agir dEle em nós. Compreenderemos que Ele é o azul do céu, mas também é o cinza do nevoeiro. Ele é a ascensão, mas também o tropeço. Tudo fica claro quando entendemos que Deus não está dentro da lâmpada mágica, ou melhor, no céu nos observando de longe, ou na igreja esperando a nossa visita. Deus está aqui, ali e aí. E O adoramos não apenas clamando o Seu nome, mas fazendo jus à vida que fora concedida.