Convivendo

Educação para um novo tempo

Educação emocional
Escrito por Alex Gabriel

Segundo Sri Prem Baba – psicólogo e mestre espiritual brasileiro com frequentes aparições na mídia –, está na educação a única chance de acelerar o processo de despertar de que estamos tão urgentemente precisados, dado que são os alunos de agora os futuros herdeiros do nosso mundo.

Bom, até aí, nenhuma novidade, visto que essa ideia de o futuro da humanidade estar na educação já foi tão exaustivamente repetida que já se tornou até clichê. Mas o que homens como Prem Baba – que, ao lado de Augusto Cury e tantos outros são tão duramente criticados por falarem de altruísmo, paz, amor e tratarem temas seculares com uma abordagem metafísica – têm a dizer de novo, contribuindo para uma educação transformadora e revolucionária?

Chamando-nos a atenção para a dimensão do desafio que é descondicionar uma mente adulta, afinando-a com o prazer positivamente orientado, com a paz, o amor e a união, Prem Baba defende a importância de que já no início de sua vida escolar, quando se encontra mais aflorado o poder de acessar a própria essência, o discente seja habilitado a lidar com os seus conteúdos emocionais – em especial, com os seus conteúdos sombrios –, e, por conseguinte, a utilizar-se de suas ferramentas internas para ser feliz, para amar e ter paz.

No que tange a esses conteúdos sombrios, Prem Baba se mostra um severo crítico da repressão que permeia o modelo educacional vigente, que ao transmitir noções fechadas do que é certo ou errado impõe à criança uma autoimagem idealizada a ser perseguida, levando-a a varrer para debaixo do tapete tudo o que de alguma forma associa ao que é “errado”, mesmo que, em sua raiz, esteja relacionado a algum sentimento importante com o qual ela deveria lidar.

Dessa forma, o discente é privado da compreensão do potencial transformador da raiva, por exemplo, que uma vez colocada fora do campo iluminado da consciência, só se manifesta em momentos de desatenção, causando os muitos estragos que temos visto.

Segundo Prem Baba, ao treinar o indivíduo para uma suposta perfeição, esse sistema o leva a criar para si uma série de máscaras com base em referências exteriores a respeito daquilo que é “certo”. E é dessa forma – formando sujeitos artificiais, com ações condicionadas a códigos sociais – que vamos contribuindo para a desumanização nas relações em detrimento de uma interação construtiva, de uma comunicação pacífica, assertiva e não-violenta.

Educação emocional

Partindo do princípio de que, atualmente, tudo o que os jovens aprendem em casa e na escola é a manipulação da matéria, de forma totalmente desvinculada de seu universo psicoemocional, Prem Baba defende a necessidade de que o sistema tradicional de ensino seja enriquecido, basicamente, com habilidades sócio-emocionais por meio de um currículo que tenha o autoconhecimento e o autocuidado como foco. Trata-se da defesa de uma educação com desenvolvimento integral como política pública, bem como de uma escola que desenvolva habilidades emocionais e sociais, ensinando a criança a ser feliz, e não apenas oportunizando-lhe um lugar no mercado de trabalho.

Nesse contexto, é importante ressaltar que as pautas defendidas por Prem Baba não estão nada distantes de nossa realidade legal, visto que a Constituição de 1988 já colocava a educação como estando a serviço do pleno desenvolvimento da pessoa, do seu preparo para o exercício da cidadania e da sua qualificação para o trabalho.

Não obstante, as insatisfações internas, bem como a rápida degradação do ambiente e os desafios da sustentabilidade, evidenciam, segundo o líder espiritual, a falha de um sistema educacional secular focado no desenvolvimento do ego, bem como, ao meu ver, uma notória incoerência entre o que está previsto em nossa Constituição e a nossa realidade factual.

Educação começa em cada um de nós

Prem Baba nos chama a atenção, no entanto, para a necessidade de se promover a consciência de pais e educadores, cujas ações, e não os ensinamentos, são o que arrasta os jovens. O mestre ressalta, no entanto, que não se trata de alcançar um grau de perfeição para, então, poder educar. Trata-se apenas de haver desenvolvido alguma integridade e autoconsciência das próprias vulnerabilidades.

Diante da incomum perspicácia das crianças da nova geração, afirma ele, detentoras de um sistema operacional avançado e linguagem adequada à nova realidade, se faz necessária a humildade por parte de nós adultos – pais e educadores –, que precisamos nos abrir ao conhecimento dos próprios jovens, admitindo o que não sabemos e desafiando as nossas próprias crenças.

Prem Baba nos alerta para o fato de que, não raro, perdemos a grata oportunidade de aprendermos com esses jovens mestres, pelos quais as nossas limitações, comumente, não passam despercebidas. Tal autenticidade e humildade, portanto, consistem em nos desvencilharmos do papel de “ajudadores” dos jovens, condição essa que, equivocadamente, nos coloca em um degrau acima dos mesmos.

educação emocional

O líder espiritual, no entanto, não desconsidera o quão desafiadora essa tarefa se mostra para os adultos, tais os condicionamentos mencionados no segundo parágrafo.

Segundo ele, sustentar as condições para que os jovens possam se expressar livremente, desenvolvendo valores humanos e exercendo a sua autonomia, exige que o adulto tenha a disposição necessária para educar a sua própria natureza inferior, desafiando os condicionamentos que lhes foram impostos desde a mais tenra infância.

Somente dessa forma se terá algo de verdadeiro para oferecer aos jovens, e os limites e regras – necessários à realização da travessia que é a infância – nascerão da consciência amorosa de pais e educadores, e não do ego deles, que, comumente, oferecem aos pequenos uma Educação embasada numa espécie de barganha. “Se você fizer desse jeito, eu te amo”. E o ser passa toda uma vida escondido por trás de uma máscara, sem a qual, conforme aprendido na infância, ele não poderá ser aceito…

Educar em prol da espontaneidade dos jovens é, portanto, na perspectiva de Prem Baba, também uma boa oportunidade para nos autoeducarmos, visto que a sua espontaneidade nos traz a percepção do quão distantes estamos de nós mesmos. Eis uma dentre as tantas circunstâncias nas quais os jovens nos revelam a sua qualidade de mestres.

A Educação focada numa revolução no paradigma social, portanto, não é uma utopia para Prem Baba, o que não significa, porém, que lhe pareça fácil, visto que urge a ressignificação de todo um processo. Já é um enorme passo, no entanto, se compreendermos que, se o jovem aprende, sobretudo, através do exemplo e se ansiamos por uma sociedade amorosa, pacífica e igualitária, só nos cabe dar exemplos de amor.

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Referências
Prem Baba, Sri. “A educação da nova era”. In: Transformando o sofrimento em alegria. Rio de Janeiro: Sextante, 2017, p. 118-124.
Prem Baba, Sri. “Porque a educação das crianças começa dentro de cada um de nós”. In: Sri Prem Baba. Disponível em: <https://www.sriprembaba.org/blog/porque-educacao-das-criancas-comeca-dentro-de-cada-um-de-nos/>. Acesso em: 26 mar. 2018.

Sobre o autor

Alex Gabriel

Mineiro de Belo Horizonte, Alex Gabriel é graduado em Letras e especialista em Revisão de Textos pela PUC Minas. É poeta, pai adotivo das vira-latas Diva e Nathalie, tem sempre um bom livro a tiracolo, acredita na Educação e vive cheio de fé na humanidade.

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