Convivendo

Mulheres que vivem e realizam

Portrait of a happy young african american woman posing with arms crossed

Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de…

– Clarice Lispector

A vida passa. As coisas acontecem. A cada dia, a cada momento, uma novidade nos aparece, uma notícia nos entristece ou nos alegra, alguma situação se converte em problema ou em solução, um acontecimento marca a humanidade de forma implacável, um conflito no Oriente Médio nos choca, a cura de uma doença é descoberta…e, assim, a vida segue.

Vivemos nossos dias apesar de tudo o que  nos acontece, seja bom ou ruim. Porém, não devemos deixar que tudo passe sem nos darmos conta de seu real valor; não devemos ficar impassíveis diante de determinadas situações, de determinadas agressões ou violações.

Posso contar um segredo? Aos meus seis anos de idade, queria ser Branca de Neve. Qual garotinha, não? Eu a via na TV e meus olhos se enchiam de lágrimas. Lembro-me de meu aniversário temático ‘Branca de Neve e os Sete Anões’…meus álbuns de figurinhas de princesas, meus livros e outras tantas coisas que traziam estampado aquele rostinho lindo da Branca de Neve.

Na minha visão, genuinamente limitante, ela era perfeita, tinha lá seus sete amigos fíéis, cantava enquanto realizava as tarefas domésticas, vivia cercada de natureza e cantarolava com os pássaros! Aos seis anos de idade, minha única preocupação era a seguinte: quero ser Branca de Neve.

Até que um dia, em especial uma tarde de  terça-feira, minha mãe e minha avó assistiam a um programa diferente de tudo o que já havia visto…bem, leitor, lembre-se de que eu, até então, só conhecia o  mundo das minhas princesas, ok? Então, lá na tela eu via algo como carros em alta velocidade, gente correndo, muita ação, explosões, e três mulheres lindas e inteligentes praticamente saindo de toda a confusão ilesas, belíssimas, encantadoras e com um sorriso devastador! Sem contar os cabelos impecáveis, esvoaçantes.

Naquela tarde, pairou uma dúvida: Branca de Neve ou Charlies Angels? Eu imaginava o quão bom seria viver ao redor da natureza, ter sete amigos fiéis, cantar com os pássaros, mas ao mesmo tempo, ser como Farrah Fawcett em sua inesquecível Gil Monroe, com aquelas madeixas lourissímas, seu sorriso lindo e sua perspicácia que me faziam vibrar num mundo de possibilidades, onde ter um chefe misterioso e tanto preparo para lidar com situações perigosas me pareciam naquele momento mais emocionante, e rendida, passei a acreditar que era uma Charlie Angel. Isso, aos seis anos. O tempo passou.

Não sou uma Charlie Angel, tampouco uma Branca de Neve. Não tenho as madeixas da Farrah Fawcett, não é possível desfilar com um vestido de Branca de Neve e a vida não é um filme, um seriado ou coisa que o valha. Gil Monroe e Branca de Neve são personagens centrais de minha infância, mas na vida somos feitos de carne e osso, e Freud dizia muito sabiamente que mesmo sendo de carne e osso, tínhamos de viver como se fôssemos de ferro.

Mas gosto de como sou; não tenho o dom de cantar com os pássaros em meio à natureza, talvez não reúna coragem suficiente para perseguir um criminoso, mas me surpreendo com os pequenos presentes da vida, como o sorriso de uma criança ou o ‘bom dia’ vindo de um senhor simpático; há momentos de muita felicidade, assim como há momentos de muita angústia, medo, mas ainda assim, vivemos.

Branca de Neve não existiu. Uma vez, li que sim, ela existiu. Viveu na Alemanha, e sim, tinha uma madrasta muito má e invejosa. Sua vida não fora fácil. Farrah Fawcett não foi uma Charlie Angel em sua atribulada vida, não pode lançar mão da inteligência e perspicácia de Gil Monroe quando teve  problemas com o filho  e  quando  lutou contra um câncer que a vitimou anos atrás. Mas Farrah viveu seus dias. Viveu todos eles, apesar de.

E assim vivemos…apesar de. Todos vivemos apesar de estarmos fatigados, de sermos injustiçados, de estarmos cansados, de sermos hostilizados, vivemos sempre apesar de.

Isso é ruim?

Não! Devemos viver apesar de.

Aqui trago exemplos de mulheres que, apesar de algum momento difícil em suas vidas, simplesmente viveram seus dias apesar de, e nos deixam uma importante lição: tudo é aprendizado, ainda que dor, também. Elas não são princesas, não são atrizes famosas, são mulheres de carne e osso.

 Carolina Larriera

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A argentina Carolina Larriera trabalhava nas Nações Unidas quando conheceu o amor de sua vida, o brasileiro Sergio Vieira de Melo. Juntos, participaram de algumas missões pela organização internacional, até que, em agosto de 2003, um atentado à sede da ONU em Bagdá vitimou Sergio.

Carolina mudou-se para o Rio de Janeiro, cidade onde Sergio nasceu e deixou as Nações Unidas, dedicando-se a trabalhos em organizações não governamentais e mantendo viva a memória de Sergio. Tive a oportunidade de falar com Carolina certa vez e com uma frase linda ela me presenteou, dizendo: ‘Sergio foi e sempre será o amor de minha vida”.

 Waris Dirie

Waris Dirie

A modelo africana Waris Dirie viveu os horrores da prática religiosa, considerada pela ONU uma mutilação genital feminina, uma violação ao direito das mulheres e meninas nos países africanos, e reuniu suas forças para mostrar ao mundo a crueldade do ato. A modelo realiza campanhas de conscientização sobre a mutilação genital feminina, levando informação e buscando ajuda para sua erradicação.

 Malala Yousafzai

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A garotinha paquistã que só queria defender o direito à educação para as meninas em seu país é hoje a mais jovem laureada com o Prêmio Nobel da Paz. Por sua força e determinação, Malala foi vítima de tentativa de assassinato e hoje vive na Inglaterra com sua família. Malala ainda defende o direito à educação das meninas em seu país.

Maria da Penha

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A biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes foi uma das muitas  vítimas de violência doméstica. Porém, sua voz na luta contra a violência ecoou por todo o país. Após sofrer a segunda tentativa de assassinato pelo então esposo, Maria o denunciou e, hoje, a lei que protege a mulher contra a agressão de seus companheiros leva o seu nome.

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A coragem de Maria da Penha nos orgulha e a lei é um importante instrumento de proteção aos direitos da mulher no Brasil.

Sobre o autor

Claudia Jana Sinibaldi Bento

Olá, sou a Claudia Jana Sinibaldi Bento, metade brasileira, sendo a outra metade encontrada na Espanha… rs... e aqui compartilho o que aprendi ao longo desta trajetória, seja estudando, traduzindo, escrevendo, lendo ou conversando… ah, melhor ainda: conhecendo pessoas que me acrescentaram o que carrego como sendo meu tesouro mais precioso: conhecimento. São anos aqui e ali, onde me chamam ou aonde eu simplesmente vou, para aprender, ajudar, sentir… e assim sigo esta estrada rumo ao autoconhecimento, evolução e simplicidade! Vem comigo aprender! Ah, também quero aprender com você!

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