Autoconhecimento Comportamento Relacionamentos

Os aplicativos funcionam para encontrar o amor?

Ilustração celular cupido
O que uma pessoa procura ao entrar em um aplicativo para relacionamento amoroso? Se livrar da solidão num sábado à noite? Likes para ficar contente com o número de curtidas? Mostrar como é bacana para os(as) amigos(as)?

Caso se procure uma rápida obtenção do prazer, eles são eficazes, em poucos cliques já se consegue alguém. Semelhantes às entregas delivery, afinal se pedimos táxi, pizza, livros via aplicativos, por que não amor?

Caso se busque algo mais que um fast-food, aí a coisa pode não funcionar tão bem. E pode bater novamente aquela frustração inevitável com relação aos assuntos amorosos. Muitos imaginam que nesse mar de possibilidades haverá alguém interessante que de outra forma não encontrariam, entram porque, nestes tempos, encontrar alguém está difícil e o aplicativo coloca à disposição um farto catálogo de possibilidades.

Os aplicativos seduzem pela oferta e pela facilidade. “É tão facinho, não precisa investir nada, nem no programa”, dizem alguns usuários. E, certamente, a ferramenta permite a obtenção do prazer quase sem custo, sem investimento. Em outros tempos, para ficar com alguém era preciso fazer um certo ritual, chamar o(a) candidato(a) para sair, havia um gasto. Hoje, o aplicativo permite otimizar a relação custo-benefício na melhor lógica mercantil, o usufruto no menor custo do mercado, eis o nó, porque nada funciona nesses termos no mercado dos afetos, nesse reino é preciso aprender a experiência da troca, e da troca honesta.

Ilustração homem com celular em app de relacionamento

Para uma troca honesta na seara dos afetos, é preciso existência de uma disponibilidade para o encontro. Aí já surge um entrave, pois todo encontro comporta o receio daquilo que nos foge ao controle. E se eu gostar, e ele(ela) não gostar de mim? E se me apaixonar e me perder nessa paixão? Tanta coisa pode acontecer, meu coração estará preparado? Na verdade, nunca está. O amor é um risco, mas só conhece essa chama aquele que se arrisca no fogo.

Em nossa sociedade é mais fácil desnudar o corpo do que a mente ou o espírito; mais fácil partilhar o corpo do que as ideias, os desejos, os sonhos e os temores, pois esses são assuntos privados que nos tornam vulneráveis, teme-se a fragilidade da partilha daquilo que realmente importa. Esse núcleo tornou-se perigoso, e as pessoas vão diretamente ao sexo. Afinal de contas, o corpo é um objeto e pode ser tratado como tal. Lavou, tá limpo! O problema é que a intimidade que começa pelo nível físico cai num vazio quando ali permanece.

Ilustração casal trocando mensagens

O indivíduo precisa de coragem simultaneamente em diversos níveis para vencer o isolamento. Qualquer relacionamento verdadeiro exige coragem, a capacidade de arriscar o próprio eu, na esperança de atingir uma intimidade significativa. O relacionamento crescerá ou nos destruirá? A única coisa certa é que, se nos entregarmos totalmente, para o bem ou para o mal não sairemos ilesos.

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Não raro, logo depois da saída, mesmo se tiver sido ótima (ou principalmente se tiver sido ótima), o usuário volta para o aplicativo e dá um like para outro(a) candidato(a). Parece

um paradoxo? Não em nossa época, na qual a ansiedade e o medo nos colocam em movimento, impedindo a ligação entre os sujeitos, que, por sua vez, se queixam da solidão.

E encontros são possibilidades, e relacionamentos construções.

O artigo contém pensamentos presentes no livro “Os Homens no Jogo do Amor”, escrito pela autora junto com Thais de Menezes, e recém-lançado pela Editora Appris, em São Paulo.

Foto capa do livro e foto de autora com livro

Sobre o autor

Verónica Aravena Cortes

Psicóloga (Terapia infantil, adultos e familiar, orientação e aconselhamento aos pais).

Graduação em Filosofia/USP e em Jornalismo pela Cásper Líbero, doutorado em Sociologia /USP e mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo.

Trabalhou como professora na Universidade Metodista de São Paulo nos cursos de Psicologia, Jornalismo, Ciências Sociais e Filosofia (1998-2018).

Organizou o livro "Chilena tu eres parte no te quedes aparte".

Edita o blog Saber Plural - Psicologia e afins para mentes curiosas.

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