Autocuidado é uma palavra que ganhou espaço rápido. Está em anúncios, redes sociais, embalagens de cosméticos e discursos terapêuticos. Em um mundo que adoece pelo excesso, cuidar de si virou quase um imperativo. A intenção parece boa, mas algo se perdeu no caminho.
Muita gente tem se sentido exausta por tentar cumprir uma rotina de autocuidado ideal. A meditação de manhã, o treino três vezes por semana, a alimentação balanceada, o skincare completo, o tempo longe do celular, o banho relaxante antes de dormir. O que poderia ser pausa e alívio vira mais uma exigência. Em vez de descanso, cobrança. Em vez de prazer, comparação.
É fácil esquecer que esse cuidado só faz sentido se estiver a serviço do bem-estar. Quando se transforma em mais uma meta a alcançar, com horários, padrões e fórmulas que não respeitam a vida real, ele deixa de acolher e começa a pesar. O corpo pode até estar parado, mas a mente continua em ritmo de cobrança.
A pressão por fazer tudo certo também vem de fora. O mercado soube traduzir o autocuidado em produtos, estratégias e imagens sedutoras. E, com isso, muita gente passou a acreditar que se cuidar é seguir um modelo. Mas a ideia de que existe um jeito certo de se cuidar cria frustração e distância da própria experiência.
O problema não está em fazer exercício, organizar a rotina ou buscar hábitos saudáveis. Está em viver tudo isso como uma obrigação, sem escutar o que realmente se sente ou precisa. Há momentos em que descansar é mais urgente do que planejar. E isso também é cuidado.
Para algumas mulheres, cuidar de si virou sinônimo de cumprir etapas. Mas quando a rotina vira rígida e inflexível, ela perde o sentido. Tem dias em que uma caminhada leve resolve. Em outros, a única coisa possível é se deitar por alguns minutos. E tudo bem. Não existe receita que funcione igual para todo mundo.
O que está sendo chamado de autocuidado muitas vezes é só mais uma tentativa de controle. Uma forma de seguir funcionando em meio ao caos. Mas há uma diferença importante entre manter uma estrutura e se violentar em nome de um ideal.
Cuidar de si não é mais uma tarefa. É um jeito de se ouvir com mais gentileza. De reconhecer o que está presente agora. Isso pode incluir uma alimentação atenta, mas também pode ser pedir comida pronta sem culpa. Pode ser uma rotina de beleza, mas também pode ser dormir cedo. Pode ser falar sobre o que sente, mas também pode ser ficar em silêncio. O cuidado é plural e precisa ser adaptado ao que é possível naquele momento.
Se o que você chama de autocuidado está gerando mais estresse do que bem-estar, talvez seja hora de repensar. Às vezes, fazer menos também é uma forma de se proteger. Às vezes, não seguir o plano é o que o corpo está pedindo.
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O cuidado começa quando a gente se permite sair do automático. Quando deixa de cumprir tarefas e começa a perceber o que realmente traz presença. E isso nem sempre é bonito, compartilhável ou produtivo. Mas pode ser profundamente reparador.
O que te ajuda a se sentir mais viva? O que te traz presença, mesmo em meio ao caos? Cuidar de si é encontrar essas respostas, não nas redes, nem nos manuais, mas em você mesma.