Convivendo

Tripla jornada da mulher. Estamos juntas, queridas!

Mulher com as mãos na cabeça.
Foto: 123rf
Escrito por Denise Mantovani

De início, pensei em escrever sobre as mulheres que não precisam ajudar no sustento do lar e que se dedicam integralmente aos filhos e à família de modo admirável. Sinceramente, eu adoraria ter mais tempo para a minha família e para mim; mas como sou a mulher e o homem da casa, não tenho essa possibilidade. Este texto é para você, mulher, que desempenha diversos papéis na sociedade, que é separada do pai de seu filho ou, mesmo sendo casada, não consegue dividir todas as responsabilidades com o companheiro de forma harmônica. É para você que, muitas vezes, é chamada de “chata”, mas, simplesmente, não entendem que apenas está exausta.

Mulher colocando calendário na parede.
Foto: 123rf

Todo final de ano, eu me questiono como consigo desempenhar todas as minhas funções e responsabilidades durante os 365 dias. Reflito sobre as dificuldades ainda existentes em ser mulher e se é normal estar sempre sobrecarregada. Sozinha há 6 anos, na maior cidade do país, trabalho, cuido do meu filho, da minha casa, do meu bem-estar físico e emocional tento, ainda, ter uma vida social. Deixar de me olhar como mulher é algo que não passa pela minha cabeça. E nunca passará! Mas, confesso que, às vezes sinto-me exausta e tenho vontade de chorar – e sei que não há nada de errado em assumir isso! Se você sente o mesmo, estamos juntas!

Amo minha rotina, porém o cansaço se faz presente em alguns momentos. Então, antes de redigir sobre o assunto, pesquisei muito a respeito, lendo estudos realizados pelo IBGE e conversando com diversas mulheres. Dessa forma, constatei que não sou a única a viver tal situação e não estou elaborando nada de modo a proteger o sexo feminino. Simplesmente retrato essa dura realidade da mulher em nossa sociedade. Pesquisas realizadas confirmam que a mulher enfrenta tripla jornada, que engloba o cuidado com a casa, a sua vida profissional e com a família – o que inclui a responsabilidade com os genitores, pois estamos diante de uma população que assiste a um envelhecimento crescente.

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“Casa, comida e roupa lavada” é uma promessa que as mulheres brasileiras gostariam que os homens cumprissem ao pé da letra. De forma proporcional, é claro! Estudos acerca da divisão dos afazeres domésticos revelam que a proporção de homens que dizem limpar a casa, lavar a louça, fazer supermercado e zelar pelos filhos até aumentou. Infelizmente, não é o que escuto de amigas e de mulheres com quem convivo. E quando os homens compartilham as tarefas com as companheiras, querem elogios, como se merecessem ser premiados por algo que, desde os primórdios, sempre coube a nós como tarefa feminina, realizada em silêncio. Ou seja, exigem reconhecimento de tarefas realizadas que, para nós, sempre foram taxadas como obrigação.

As mulheres sempre se doam mais aos outros do que a si mesmas: colocam a necessidade da família acima das suas, sacrificando-se muito mais do que deveriam. Constatei, durante toda a vida, minhas avós e mãe fazendo isso como sendo algo inato, natural. Merece destaque o fato de que a taxa de realização de afazeres domésticos pelo gênero masculino é maior conforme o seu elevado nível de escolaridade e, consequentemente, menor de acordo com a baixa formação escolar. Não sei dizer se é uma questão de escolaridade, de consciência ou de criação familiar, mas a conclusão da investigação aponta que, aparentemente, os homens menos escolarizados pensam que as tarefas domésticas são de responsabilidade única da mulher.

Mulher apoiada em almofada.
Foto: 123rf

Tenho uma amiga no trabalho que, recentemente, teve o segundo filho. Eu a considero uma mãe muito dedicada e atenciosa. Contudo, outro dia, ela, quase chorando, confessou, para meu espanto, sentir-se uma péssima mãe. Na concepção dela, todas as outras mulheres conseguem trabalhar fora, cuidar dos filhos e da casa de forma exemplar, mas ela sentia-se frustrada por não se enquadrar nesse contexto, nessa ideia errônea. Ela não se permitia “falhar”, termo este pesado demais para quem está além dos seus limites. Na verdade, crescemos acreditando que devemos ser capazes de fazer tudo. Porém, o rótulo da “supermulher” é muito cômodo apenas para os maridos e para a sociedade, uma vez que prejudica nossa autoestima quando parece que não damos conta do recado.

Você, homem, incentive o seu colega a dividir as responsabilidades da casa e a passar maior tempo com os filhos. É apenas uma questão de planejamento e de parar de inventar desculpas. Os pais que não convivem com os filhos estão perdendo uma boa parte da vida ao não vê-los crescendo e, também, a admiração da companheira. Você, mulher, tenha a consciência de que não é normal estar sempre sobrecarregada, pois isso afeta sua saúde física e mental. E, quando encontrar outra nessa situação, não julgue. Acolha! Infelizmente não resolveremos esse problema que o universo feminino enfrenta há milhares de anos em pouco tempo. Mas é preciso começar! Precisamos nos unir, pois tabus e preconceitos enraizados apenas se fazem presentes para serem quebrados!

Sobre o autor

Denise Mantovani

36 anos, aquariana, formada em direito, servidora pública federal, mãe do adolescente Pedro. Tentando o equilíbrio nos papéis de mãe e de mulher. Romântica, prática, sonhadora, batalhadora, corajosa, brava, audaciosa e medrosa ao mesmo tempo. Sou amor, lágrimas e sorrisos, muitos risos. Sou amiga e companheira, mas de quem merece. Sou a soma de defeitos e qualidades. Vida saudável, e meia-maratonista.

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