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Você conhece Ailton Krenak?

O ativista, filósofo e professor Ailton Krenak.
Produção Cultural no Brasil, CC BY-SA 2.0 / Wikimedia Commons
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Certamente, você conhece nomes como Greta Thunberg, ativista europeia, e instituições como o Greenpeace. Mas já parou para pensar em militantes e personalidades que cumprem papéis tão importantes quanto os desses citados e fazem história dentro do seu próprio país?

No Brasil, desde a colonização e até os dias de hoje, travam-se inúmeras batalhas relacionadas ao meio ambiente e aos povos indígenas, mas muito pouco se fala a respeito disso. Assumindo uma luta essencial não só para as comunidades nativas brasileiras, mas também para toda a ecologia de territórios diversos do país, existem personalidades como o grande Ailton Krenak.

Conheça agora a história, o povo, a obra e o ativismo desse importante ambientalista nacional!

Quem é Ailton Krenak

Ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas, Ailton Alves Lacerda Krenak, mais conhecido como Ailton Krenak, é filósofo, poeta, escritor e também professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Nascido na região do Rio Doce, em Minas Gerais, o intelectual possui reconhecimento internacional por seus feitos como líder indígena.

Nasceu em 1953 e, aos 17 anos de idade, mudou-se com sua família para o Paraná, onde pôde se alfabetizar e se tornou produtor gráfico e jornalista. A partir da década de 1980, Ailton passou a dedicar-se exclusivamente ao movimento indígena.

Ailton Krenak recebendo um título de professor Honoris Causa.
Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania do Brasil / Flickr

Em 1987, protagonizou uma das cenas mais marcantes da militância indígena brasileira. Na Assembleia Constituinte, durante a elaboração da Constituição Brasileira de 1988, ele pintou o próprio rosto com tinta preta de jenipapo, segundo tradicional costume indígena, durante um discurso, para protestar contra o que considerava um retrocesso na luta pelos direitos dos povos nativos brasileiros.

Participou da fundação da União dos Povos Indígenas, da Aliança dos Povos da Floresta e fundou também a organização não governamental Núcleo de Cultura Indígena. Protagonizou o documentário “Índios no Brasil”, produzido pela TV Escola no ano de 2000, participou da série da Netflix “Guerras do Brasil.doc”, de 2018, e também do TEDTalk “Life, always: Aílton Krenak”.

O povo Krenak

O nome Krenak é constituído por dois termos: um é a primeira partícula, “kre”, que significa “cabeça”; a outra, “nak”, significa terra. Portanto diz-se que a nomenclatura quer dizer “cabeça da terra”. Ailton Krenak identifica essa denominação do povo “como uma humanidade que não consegue se conceber sem essa conexão, sem essa profunda comunhão com a terra”.

Também chamado de Crenaque, trata-se de um povo indígena que, hoje em dia, tem significativa população nos estados de Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo. Em Minas Gerais, na região do Vale do Rio Doce, de onde é o filósofo Ailton Krenak, a comunidade e a ecologia se encontram profundamente afetadas pela atividade de extração de minérios.

Os Krenak ganharam visibilidade nacional após a catástrofe de Mariana (MG), ocorrida em novembro de 2015, na qual uma barragem da mineradora Samarco se rompeu, provocando a devastação de toda a vegetação e a fauna do Rio Doce, que era a principal fonte de subsistência do povo Krenak. Apesar disso, a luta e a resistência dessa comunidade acontece há mais de dois séculos, já que, desde a chegada dos portugueses em terras brasileiras, diversas disputas foram travadas.

Em 2017, o canal Futura lançou a série “Krenak, vivos na Natureza Morta”, mostrando os desafios enfrentados cotidianamente pelos Crenaques após o episódio devastador da barragem da Vale. Dois anos depois, outro documentário foi lançado pelo mesmo canal, “Krenak, sobreviventes do Vale”, com o objetivo de mostrar a história real do Brasil contada por suas vítimas, os indígenas.

Obras de Ailton Krenak

Além de diversas aparições em entrevistas, palestras, conferências, assembleias, documentários e outras produções audiovisuais, o filósofo e ambientalista também conta com publicações de obras diversas, nas quais destrincha assuntos referentes ao povo indígena brasileiro e suas respectivas batalhas. Confira algumas delas a seguir.

“Ideias para adiar o fim do mundo”

A capa do livro "Ideias para adiar o fim do mundo".
Divulgação / Companhia das Letras / Amazon / Canva / Eu Sem Fronteiras

Lançado em 2019, “Ideias para adiar o fim do mundo” é o livro mais famoso de Krenak. Foi escrito a partir de uma palestra dada pelo autor em Brasília e critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, ressaltando a importância de o ser humano respeitar o meio natural como se fosse um parente da família.

“Quando despersonalizamos o rio, a montanha, quando tiramos deles os seus sentidos, considerando que isso é atributo exclusivo dos humanos, nós liberamos esses lugares para que se tornem resíduos da atividade industrial e extrativista. Do nosso divórcio das integrações com a nossa mãe, a Terra, resulta que ela está nos deixando órfãos, não só aos que em diferente graduação são chamados de índios, indígenas, mas a todos.” (Trecho do livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, de Ailton Krenak.)

“O amanhã não está à venda”

A capa do livro "O amanhã não está à venda".
Divulgação / Companhia das Letras / Zendo Brasil / Canva / Eu Sem Fronteiras

Fruto da pandemia da covid-19, “O amanhã não está à venda” é um livro que foi publicado em abril de 2020. Nele, o autor reflete sobre as complexidades do isolamento social e ressalta que, diante dos modelos de vida da atualidade, ninguém mais está a salvo.

“A natureza segue. O vírus não mata pássaros, ursos, nenhum outro ser, apenas humanos. Quem está em pânico são os povos humanos e seu mundo artificial, seu modo de funcionamento que entrou em crise.” (Trecho do livro “O amanhã não está à venda”, de Ailton Krenak.)

“A vida não é útil”

A capa do livro "A vida não é útil".
Divulgação / Companhia das Letras / Amazon / Canva / Eu Sem Fronteiras

Publicado no final de 2020 e versando também sobre a temática da pandemia, o livro “A vida não é útil” volta a apontar as tendências destrutivas da chamada atual civilização, como o consumismo desenfreado, a devastação ambiental e uma visão estreita e excludente do que é a humanidade.

“É mais ou menos o seguinte: se acreditamos que quem apita nesse organismo maravilhoso que é a Terra são os tais humanos, acabamos incorrendo no grave erro de achar que existe uma qualidade humana especial. Ora, se essa qualidade existisse, nós não estaríamos hoje discutindo a indiferença de algumas pessoas em relação à morte e à destruição da base da vida no planeta.” (Trecho do livro “A vida não é útil”, de Ailton Krenak.)

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Agora que você já sabe quem é Ailton Krenak e qual a importância dele para as batalhas indígenas e ambientalistas no Brasil e no mundo, que tal se aprofundar no assunto lendo as obras desse importante filósofo nacional? Reconhecer o trabalho e a influência de personalidades como essa é um ato de suma importância para apoiarmos pautas que falam sobre a existência e resistência de nosso próprio país.

Sobre o autor

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