Autoconhecimento

Você tem inveja de que?

Homem olhando por cima da cerca do vizinho simbolizando inveja.
Escrito por Juliana Meyer Luzio

Pode parecer estranho esse titulo, mas sim, sentimos inveja! Às vezes mais, às vezes menos, mas em alguns momentos da vida experimentamos esse sentimento.

E são várias as coisas invejáveis, desde simples objetos materiais como o celular novo do amigo, a bolsa da colega de trabalho, a casa, o carro, as viagens, os passeios e por aí segue a lista… até o modo como os outros levam a vida, com um sorriso solto, a agenda equilibrada entre trabalho e prazeres, atividades físicas, círculo de amigos, lugares que frequentam, bairro onde moram, bem como seu cargo na empresa, sua saúde de ferro, sua bela mulher ou amável marido, seus filhos educadíssimos e tantas outras coisas.

Quando olhamos as pessoas a nossa volta, temos uma grande tendência de compararmos suas supostas vidas às nossas.

E digo supostas porque é o máximo que conseguimos fazer – supor a vida alheia, imaginar o quão feliz é a vida do outro em comparação à nossa. Porque na realidade não sabemos de fato o que aquela pessoa vive ou como vive, temos acesso a um recorte da vida dela, e ainda assim, não temos acesso ao que ela sente intimamente vivendo esse recorte que observamos. Apenas supomos a partir de nosso referencial.

A inveja é coisa antiga e sempre vista como um sentimento inaceitável, feio, inferior, e por isso sempre sentido em segredo. Dificilmente você escuta alguém afirmar que é invejoso, ou se escuta a afirmação, sempre vem acompanhada da inveja branca, inveja boa, raramente é suportável admitir e dizer em voz alta (mesmo que para si mesmo) que somos invejosos.

Talvez porque ao nos percebermos invejosos, temos que admitir nossa sensação de inferioridade, afinal, temos menos ou somos menos do que o outro. E também há nossa maldade, uma vez que, sim, desejamos o que outro tem, e em alguns casos, que ele não tenha ou deixe de ter. Olhar pro espelho, enxergar e sentir nossa inveja, nossa inferioridade e nossa maldade é bem difícil – mas não é insuportável.

Se deixarmos os preconceitos sobre a inveja um pouco de lado, olharmos com atenção para esse sentimento e investigarmos quando o sentimos e o que invejamos, podemos transformá-la em um farol.

Irmã com ciúmes do irmão que come pirulito.

Um farol que ilumina o que em nós está trancafiado, o que em nós não está fluindo por estar esquecido, não valorizado e desacreditado. 

Não tenha medo de perceber-se invejo e use isso para investigar sua vida, sua história e se surpreender ao perceber que o que deseja no outro está em você, afinal, não dá para desejar o que não nos faz sentido e não nos é familiar.

Partindo desta desconstrução, a inveja ocupa um lugar de aprendizado e transformação, porque te colocará num movimento de reconhecimento de seus potenciais e características escondidas pelo medo, pela preguiça, pelo orgulho e outros sentimentos. Temos que nos perguntar por que será que desejo o carro do amigo e não batalho verdadeiramente para ter um? E digo verdadeiramente porque sempre temos desculpas e justificativas para a abundância do outro e não a nossa.

Porque será que a vida da amiga é mais fácil do que a nossa? O que ganhamos tendo uma vida mais difícil? Que crenças e padrões repetitivos guiam nossas vidas?

Faço esse convite e escrevo sobre a inveja porque um dia desses senti tão forte esse sentimento, que me foi impossível não olhar para ele, e foi doloroso admitir que eu queria o que aquela colega tinha. E sim, tentei contornar o incômodo dizendo que eu QUERIA TAMBÉM e não que NÃO QUERIA QUE ELA TIVESSE (a tal inveja boa), mas no fundo, naquele momento em que me encontrava só, eu me perguntava por que EU não tenho isso, minha colega havia sido aniquilada do pensamento.

E então mergulhei e comecei a investigar porque eu não tinha aquilo e o que eu precisava fazer para ter aquilo.

Retrato de funcionária com inveja de colega de trabalho em escritório.

E fui percebendo que várias crenças familiares existiam, que vários boicotes foram feitos por mim mesma, que eu estava tornando o caminho muito mais árduo do que ele realmente é. Claro que foi ficando mais difícil e fui querendo me boicotar de novo, então decidi contar para algumas pessoas queridas e confiáveis, falar para me ouvir e então ir ressignificando. Contar para ter testemunho desse trecho trilhado e dificultar assim uma meia volta.

O farol acertou em cheio algumas sombras minhas e tive que olhar e enxergar o quanto eu bloqueava meu brilho. Enxergar que eu tinha tudo o que precisava para alcançar o que desejava, bastava ter coragem para desamarrar alguns nós, responsabilizar-me por algumas escolhas e seguir adiante com um novo caminhar.

Hoje, percorrido esse trecho, sinto-me mais leve e com a certeza de que em outras curvas encontrarei novamente essa companheira de viagem, mas que ela se tornou apenas isso, uma companheira que às vezes aparece, batemos um papo e nos transformamos juntas, ela numa mera placa da estrada como tantas outras de velocidade, de lombada, de buraco… que sempre nos convidam a reflexão, e eu numa investigadora generosa, corajosa e sabedora de que sou muitas vezes meu maior obstáculo.

Você tem inveja de quê? É um convite à coragem de se olhar e se saber capaz, realizadora e libertar o outro de um lugar de culpa e responsabilidade pelo que nos falta. O outro e a inveja dele é nada menos do que uma LUZ apontando o que em nós precisa ser visto, cuidado, fortalecido e realizado.

Bom mergulho!


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Sobre o autor

Juliana Meyer Luzio

Terapeuta que constrói sua clínica através de um espaço que integra fala, consciência corporal e quietude, tornando possível uma reconexão com o que há de belo, delicado e muito forte em nós - nossa saúde.

Formada em Psicologia, Psicanálise, Terapia de Integração Craniossacral, Transmutation Therapy, entre outros, está sempre em busca de conhecimentos que agreguem, em seu dia-a-dia maneiras, diferentes de olhar a vida.

Atualmente, além de sua clínica, lançou a Îandé, onde tem se dedicado à arte de criar e costurar produtos exclusivos e cheios de carinho.

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