Você já parou para pensar no que aceita nos seus relacionamentos? Não estou falando do que você diz aceitar, mas do que de fato tolera no dia a dia. Porque uma coisa é o discurso que você tem sobre o que merece. Outra bem diferente é o que acontece quando a porta se fecha e vocês dois estão ali, sozinhos.
Tem gente que tolera ser tratada com indiferença. Outras aceitam gritos. Algumas normalizam a traição. Muitas convivem com desrespeito disfarçado de sinceridade. E tem aquelas que aguentam ser a segunda opção, sempre.
Cada uma dessas tolerâncias conta uma história. A sua história. Sobre o que você aprendeu que amor é. Sobre o que você acredita merecer. Sobre as feridas que você carrega e que ainda não cicatrizaram.
Ninguém acorda um dia e decide aceitar migalhas. Isso se constrói ao longo do tempo, em pequenas concessões que parecem bobagem no momento. Um comentário maldoso que você deixa passar. Uma promessa quebrada que você releva. Um plano cancelado de última hora que você engole sem reclamar.
No começo, você até reage. Fica incomodada. Pensa em falar algo. Mas aí vem aquela voz interna dizendo que você está exagerando, que todo relacionamento tem problemas, que ninguém é perfeito. E você vai cedendo. Vai abaixando a régua. Vai aceitando menos.
Até que um dia você olha para trás e não reconhece mais quem virou. Aquela mulher que jurava que nunca aceitaria certas coisas está ali, aceitando tudo. Aquela que dizia ter amor próprio está mendigando atenção. Aquela que falava em respeito está sendo desrespeitada diariamente.
O que aconteceu no meio do caminho?
Você aprendeu que reclamar cansa. Que brigar não adianta. Que cobrar afasta. Então parou de exigir. Parou de esperar. Parou de acreditar que merece diferente.
E aqui está o ponto que dói: o que você tolera não fala sobre a pessoa que está com você. Fala sobre você. Sobre o quanto você se valoriza. Sobre o limite que você coloca entre o que é aceitável e o que não é.
Porque todo mundo vai tentar até onde consegue. Vai empurrar a linha até você dizer “aqui não”. E se você nunca diz, a linha continua sendo empurrada.
Tem mulher que tolera ser xingada porque cresceu vendo a mãe ser xingada. Normalizou. Acha que homem é assim mesmo, explode e depois pede desculpas. E segue aceitando porque aquilo parece familiar, parece normal.
Tem outra que aceita traição porque tem medo de ficar sozinha. Prefere dividir o parceiro a não ter ninguém. Prefere a humilhação conhecida ao vazio desconhecido.
Tem aquela que suporta frieza emocional porque aprendeu desde cedo que pedir afeto é ser carente. Que demonstrar necessidade é fraqueza. Então ela engole a falta, finge que não precisa, se contenta com o mínimo.
Cada tolerância tem uma raiz. E enquanto você não olhar para essa raiz, vai continuar repetindo o padrão. Vai trocar de pessoa, mas vai aceitar a mesma coisa. Porque o problema não está em quem você escolhe. Está em por que você escolhe.
Você tolera porque acredita que é o máximo que consegue. Que ninguém vai te tratar melhor. Que todo relacionamento é assim. Que você pede demais. Que precisa ser mais compreensiva, mais paciente, mais flexível.
Mas tem uma diferença entre compreender e se anular. Entre ser paciente e ser capacho. Entre flexibilidade e ausência de limites.
Relacionamento saudável não é aquele em que você aceita tudo. É aquele em que você pode falar quando algo te incomoda sem ser taxada de louca, exagerada ou problemática. Onde suas necessidades importam tanto quanto as do outro. Onde respeito não é favor, é base.
E olha, não estou dizendo que você precisa ser inflexível, que qualquer deslize é motivo para terminar, que as coisas precisam ser perfeitas. Longe disso. Estou dizendo que você precisa parar de normalizar o anormal. Parar de justificar o injustificável.
Porque quando você tolera desrespeito, está ensinando o outro que pode te desrespeitar. Quando você aceita indiferença, está dizendo que sua presença não vale atenção. Quando você releva traição, está mostrando que sua dor não tem peso.
E pior: está se ensinando que você vale pouco. Que pode ser tratada de qualquer jeito. Que suas necessidades não importam.
Seu corpo sabe. Aquela dor no peito quando ele fala grosso. O nó no estômago quando vê uma mensagem estranha no celular dele. A insônia nas noites em que ele sai sem avisar. A ansiedade constante tentando adivinhar o humor dele. Isso tudo é seu corpo gritando que algo está errado.
Mas você sufoca esses sinais. Porque admitir que está errado significa ter que fazer algo a respeito. E fazer algo a respeito dá medo. Muito medo.
Medo de terminar e se arrepender. Medo de não encontrar ninguém melhor. Medo de estar sozinha. Medo do julgamento dos outros. Medo de admitir que perdeu tempo. Medo de recomeçar.
Então você fica. E vai tolerando. Vai se acostumando. Vai morrendo aos poucos por dentro enquanto finge que está tudo bem por fora.
Até que um dia você acorda e percebe: o relacionamento te custa sua paz, sua autoestima, sua saúde mental. E aí vem a pergunta que deveria ter vindo antes: isso vale a pena?
Olhar para o que você tolera é doloroso. Porque te obriga a ver verdades sobre você mesma que preferia ignorar. Te força a reconhecer que você tem participação nisso tudo. Que você permitiu. Que você aceitou.
Mas também te dá poder. Porque se você permitiu, você pode deixar de permitir. Se você aceitou, você pode parar de aceitar. Se você tolerou até aqui, você pode escolher não tolerar mais.
Mudar esse padrão exige que você olhe para dentro. Que entenda de onde vem essa tolerância. Que questione as crenças que te mantêm presa. Que trabalhe sua autoestima. Que aprenda a se valorizar.
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E, principalmente: que entenda que ficar sozinha é melhor que estar mal acompanhada. Que você merece ser tratada com respeito, carinho e consideração. Que suas necessidades são legítimas. Que você não precisa se contentar com menos.
O que você tolera hoje vai definir como será tratada amanhã. Não só nesse relacionamento, mas nos próximos também. Porque você ensina as pessoas como te tratar pela forma como se trata.
Então pergunte a si mesma: o que você está tolerando? E mais importante: por quê?
Se você está se reconhecendo aqui, agende sua avaliação comigo:
Carla Marçal, Psicóloga
CRP 06/35821-9
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