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Um ensaio sobre o Transtorno da Sobrecarga Sensorial – Episódio 5

Imagem de um homem sentando. Ele está em seu ambiente de trabalho segurando um notebook e uma bandeira com a palavra Help. Ele tem o sintoma do Transtorno da Sobrecarga Sensorial.
AndreyPopov / Getty Images / Canva

Compreender o TSS como dissonância é perceber que a sensibilidade não é fraqueza, mas inteligência em expansão. O desafio não é sentir demais, e sim viver em um mundo que sente de menos. Quando ambiente e sensibilidade se ajustam, surge uma nova forma de humanidade.

Conclusão

Chegar à compreensão do TSS como um espectro comum entre pessoas dissonantes é mais do que redefinir um diagnóstico: é reconhecer uma linguagem da sensibilidade que, até recentemente, foi traduzida de forma imprecisa pela ciência e pela cultura.

O que a medicina chamou de hipersensibilidade, a psicologia das vulnerabilidades e a sociedade das fragilidades podem, à luz de um olhar mais apurado, ser entendidos como uma expansão funcional da consciência perceptiva.

O desafio dessa expansão é a desproporção entre o alcance do sentir e a estrutura do mundo. 

O organismo dissonante percebe demais, pensa demais, sente demais, e o ambiente moderno, saturado de estímulos, responde de menos.

Essa defasagem gera a sobrecarga, mas também revela o potencial evolutivo da espécie: a dissonância como vanguarda da percepção. O que hoje é incômodo, amanhã poderá ser padrão de sensibilidade em uma humanidade mais refinada. 

O verdadeiro sentido de cura, portanto, não é anular a intensidade, mas educar o ambiente e o próprio corpo para dialogar com ela.

Isso implica construir uma nova ética sensorial, um modo de existir que valoriza o silêncio, a pausa, a escuta, a respiração e a lentidão como forças vitais, não como evidências de fragilidade.

A pessoa dissonante, nesse contexto, é convertida numa guardiã da medida: ela lembra o mundo de que o excesso não é progresso, e de que o ruído não é comunicação. 

Em última instância, compreender o TSS como fenômeno dissonante é compreender que a sensibilidade é uma forma de inteligência.

A mesma percepção que provoca cansaço pode gerar intuição criadora, e a mesma vulnerabilidade que isola pode dar origem à empatia mais refinada.

O dissonante não é o oposto do funcional, é a versão ampliada do humano, que precisa de um ambiente igualmente sensível para se manter inteiro.

Quando o mundo for capaz de se ajustar a essa frequência, talvez se descubra que o TSS nunca foi uma síndrome, mas um sinal de que ainda há seres capazes de sentir a vida profunda e intensamente.

E é por meio deles que o futuro da consciência se torna possível.

Sobre o autor

Luiz Roberto Bodstein

Formado pela Universidade Federal Fluminense e pós-graduado em docência do ensino superior pela Universidade Cândido Mendes. Ocupou vários cargos executivos em empresas como Trimens Consultores, Boehringer do Brasil e Estaleiro Verolme. Consultor pelo Sebrae Nacional para planejamento estratégico e docente da Fundação Getúlio Vargas e do Instituto Brasileiro da Qualidade Nuclear (IBQN) para Sistemas de Gestão. Especializou-se em qualidade na educação (Penn State University, EUA) e desenvolvimento gerencial (London Human Resources Institute, Inglaterra). Atualmente é diretor da Ad Modum Soluções Corporativas, tendo publicado mais de 20 livros e desenvolvido inúmeros cursos organizacionais em suas diferentes áreas de atuação. Conferencista convidado por várias instituições de ensino superior, teve vários de seus artigos publicados em revistas especializadas e jornais de grande circulação, como “O Globo”, “Diário do Comércio” e “Jornal do Brasil”.

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