Energia em Equilíbrio Espiritualidade

A energia primordial

Mãos segurando uma miniatura do planeta Terra iluminada.
123RF/Pop Nukoonrat

Qualquer pessoa que faça uso frequente de avião sabe que as instruções de segurança de voo instruem pessoas acompanhadas de crianças para, em situação de emergência, colocar primeiro a máscara de oxigênio em si mesmas, e depois na criança. O mesmo se aplica aos salva-vidas de um navio em risco iminente de naufrágio. Já se perguntaram a razão dessa aparente inversão de prioridade? A explicação é bastante simples: se você for vitimado antes, as chances de que seu filho não sobreviva será substancialmente menor.

Transpondo essa lógica para o seu dia a dia, antes que qualquer socorrista tenha tempo para chegar até você, ou que consiga alcançar a unidade de atendimento para socorrê-lo numa emergência médica, você só tem a si mesmo para evitar que o pior aconteça. E isso se estende ao “personal” que contrate para cuidar de você de forma exclusiva, lamento dizê-lo. Se não fosse assim, chefes de estado nunca estariam em risco durante seus mandatos, já que se virem cercados de proteção é condição obrigatória.

Também é verdade que sempre lhe restará a opção de rezar e esperar que Deus o livre do pior, mas entre esperar pelo milagre e fazer alguma coisa, existe um entendimento quase unânime de que a primeira alternativa não se apresentará como a mais inteligente, já que lhe cabe cumprir sua parte no processo. Descartadas, portanto, essas possibilidades, o que é que se pode encontrar no fundo do balaio?

Pois é justamente aí que nos deparamos com uma verdade incontestável, independente da corrente filosófica que se defenda: quando todo o mais se mostrar fora do seu alcance, a única coisa que sempre poderá encontrar no mais fundo que alcance será você mesmo!

E quando se diz isso é bom lembrar que não estamos tratando de nenhuma escolha entre ciência, fé ou autoajuda por conta da premissa de que a solução chegará por um protocolo médico, uma intercessão divina ou por um poder curativo decorrente de leitura. Bem ao contrário do que possa sugerir, falamos de algo que não passa nem perto da discussão sobre qual dessas alternativas funciona mais, e sim de um ponto para o qual as diferentes linhas de pensamento convergem à exceção, é claro, de quem se ache sob domínio de alguma corrente extremista e insana, caso em que nenhuma hipótese diferente da própria poderá alcançá-lo.

Mulher com roupas de ginástica alongando os braços.
Foto de Nathan Cowley no Pexels

Mas haveria mesmo um tipo de escolha que obtenha consenso sob óticas tão distintas? Pois acredite: expoentes da ciência, religiosos de múltiplas crenças e psicólogos de todas as escolas costumam compartilhar da mesma certeza de que, quanto mais confiante o paciente lhes chegue, mais chances terá de não sucumbir ao mal que o aflige. Simplificando: quando o paciente já é colocado sob seus cuidados com baixa esperança de superação, pouco se poderá fazer para reverter o seu quadro, ou no mínimo exigirá um esforço substancialmente maior daquele especialista para ajudá-lo. O cientista o justificará com o aumento de imunidade advindo do apego à vida, o crente pela fé que o torna mais confiante, e o místico pela luz que essa pessoa acendeu dentro de si. Sem falar nas filosofias orientais milenares que juntam todos esses argumentos no mesmo prato da balança.

Abrindo espaço para entender um pouco esta última linha de pensamento que, apesar de mais antiga, só bem recentemente começou a ser estudada em nossa cultura ocidental, existe algo dentro de cada indivíduo que é conhecido no oriente por “Chi” — ou “Ki” — entendida como a energia vital que permeia todo o universo. Traduzida para algo mais adaptado à nossa cultura, no mundo ocidental acostumamo-nos a chamar essa energia de Entusiasmo, palavra originária do grego cujo significado é “ter Deus dentro de si”, mas encontrada em todas as culturas sob as mais diferentes denominações, e com pouquíssimas variações em relação à sua origem, natureza, funcionalidade e efeito sobre toda a matéria. A rigor, o que muda é só o contexto em que o homem tenta inseri-la e a forma como tenta explicá-la, em conformidade com a corrente que defenda, e onde todas as tentativas de dar a última palavra acabam extrapoladas por um sentido único que se impõe sobre todas as vertentes.

A começar pelas civilizações mais antigas da humanidade, os chineses desenvolveram uma lógica para explicá-la que persiste até nossos dias, e tem por base um princípio de polaridade aplicado ao positivo e ao negativo conhecido por TAO, e a que também se dá o nome de “Teoria dos Opostos”. Seu sentido é o de um poder magnético que estabelece o equilíbrio perfeito entre os opostos, e seu símbolo revela a necessidade do branco para se perceber o preto, assim como do geral para que o específico se mostre compreensível em movimentos contínuos de rotação, expansão e contração. Nesse contexto, o bem e o mal se apresentam como partes indissociáveis de um mesmo todo, e seus maiores símbolos — Deus e o Diabo — só justificam sua existência pela dicotomia imanente em eterno confronto, de modo a ter-se o equilíbrio preservado.

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Para os antigos gregos, essa mesma energia vital ficou conhecida como “O Éter”, um quinto elemento da esfera celestial além da Terra e distinto dos outros quatro encontrados nela — Fogo, Água, Terra e Ar — constituindo-se em algo ainda maior do que o próprio ar que nos garante a vida. Tal tese deu origem a inúmeros estudos sobre o comportamento da luz pelos físicos da época e por muitos outros que os sucederam, na tentativa de entender como essa energia se propagava no espaço.

Os indianos, por sua vez, deram a essa força o nome de Kundalini, descrevendo-a como um fenômeno não apenas espiritual, como foi entendido no ocidente, mas também bioelétrico. Ela se alojaria, em estado latente, na base da coluna dorsal humana, tratando-se de um poder espiritual despertado somente pelo alcance do estágio mais elevado de consciência — o “Samadhi” — após a plena compreensão da Existência e comunhão com o Universo. Tal estado pode ser entendido como a conexão do homem ao poder primordial divino que chamam de Param Chaitanya. No Budismo tal estado encontra correspondência no “Nirvana”, traduzido por seus adeptos como o estado de libertação dos grilhões da matéria e da extinção do sofrimento pela integração com o divino, ou seja: a fusão entre matéria e antimatéria.

A chamada “antimatéria” — que não ocorre na Terra por nenhum meio natural — consiste no inverso da matéria em que cada partícula elementar possui uma outra que lhe é oposta, embora preserve as mesmas características. Desse modo, tem-se no pósitron a antimatéria do elétron, porém com a mesma massa, rotação e tamanho. Tal fenômeno é o equilíbrio entre opostos expresso pelo TAO. A razão para a inexistência da Antimatéria em nosso mundo físico é que o encontro com seu oposto — a Matéria — traz como efeito a aniquilação, quando uma destrói a outra pela intensa quantidade de energia resultante do choque entre ambas.

Imagem de uma galáxia vista do espaço.
Foto de Pixabay no Pexels

O aspecto mais incrível deste fenômeno provém da coalizão entre espiritualidade e ciência: o Éter e a Física passam a compor um todo único, impossibilitando determinar onde termina um e começa o outro. Em 2013, o físico teórico Petter Higgs pode presenciar o experimento que reproduziu sua teoria de 1964 por meio de um acelerador de partículas cujo resultado se chamou de “Partícula de Deus”. Tal feito foi reconhecido como a experiência científica mais relevante de todos os tempos ao demonstrar como surge a matéria a partir do Nada. E não é para menos: o experimento simplesmente trouxe para a concretude científica o que os espiritualistas só experimentavam por meio da fé.

Poder-se-ia extrair milhares de conclusões desse fato que ligou, de forma inquestionável, tantas correntes distintas que, ao longo de séculos, buscaram explicar a mesma coisa por meio de diferentes meios e denominações. O fato é que a Energia Vril dos estudiosos da teosofia cósmica ou dos magos quânticos da antiguidade acabou sendo constatada pelos físicos teóricos da atualidade. Teóricos de ontem e de hoje como Newton, Huygens, Foucault e Einsten possibilitaram chegar-se à verdade, que ora se impôs, de uma Energia Primordial permeando o universo visível e invisível.

Crianças abraçadas em um círculo, rindo.
Foto de Archie Binamira no Pexels

Descrita como “a Força”, “The Field” ou “Energia de Ponto Zero”, o fato é que estamos todos conectados a um oceano de energia abundante e infinita que tem na matéria sua coalescência, interligando esse todo de espiritualidade viva do qual extraímos toda a força vital. Cada indivíduo, bem como a humanidade inteira, é agente e paciente desse campo magnético que os físicos chamam de Energia e os místicos de Consciência, e que transforma nossas certezas internas no canal de distribuição do poder levado a cada quark da matéria.

E essa energia implantada no âmago de seu ser estará disponível e aguardando apenas pelo momento em que a acione, por mais que se sinta exaurido e todo o resto lhe pareça inalcançável. Ela estará lá, aguardando pela ação que torna possível o que nenhuma outra fonte lhe poderá oferecer, não importando se escolha chamá-la de esforço supremo, providência, ou do deus que você próprio nomeou. Apenas movimente o dínamo, e terá a resposta que busca.

Namastê!

Sobre o autor

Luiz Roberto Bodstein

Formado pela Universidade Federal Fluminense e pós-graduado em docência do ensino superior pela Universidade Cândido Mendes. Ocupou vários cargos executivos em empresas como Trimens Consultores, Boehringer do Brasil e Estaleiro Verolme. Consultor pelo Sebrae Nacional para planejamento estratégico e docente da Fundação Getúlio Vargas e do Instituto Brasileiro da Qualidade Nuclear (IBQN) para Sistemas de Gestão. Especializou-se em qualidade na educação (Penn State University, EUA) e desenvolvimento gerencial (London Human Resources Institute, Inglaterra). Atualmente é diretor da Ad Modum Soluções Corporativas, tendo publicado mais de 20 livros e desenvolvido inúmeros cursos organizacionais em suas diferentes áreas de atuação. Conferencista convidado por várias instituições de ensino superior, teve vários de seus artigos publicados em revistas especializadas e jornais de grande circulação, como “O Globo”, “Diário do Comércio” e “Jornal do Brasil”.

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