Autoconhecimento Psicologia

A importância do limite na educação das crianças

Escrito por Tatiane Mosso

Nem sempre foi assim, mas atualmente as relações entre pais e filhos são muito mais horizontais ou igualitárias e menos autoritárias do que, por exemplo, na década de 50.

Diferentemente de outros tempos, onde os pais diziam que as crianças não tinham que escolher e deviam apenas aceitar e acatar o que lhes foi escolhido pelos pais ou cuidadores, as crianças contemporâneas podem em muitas situações escolher suas roupas, o que querem ou não comer e comprar, entre outras tantas escolhas que lhes são permitidas. Elas têm voz.

Mas será que agora, pensando em uma relação mais igualitária, onde pais e filhos podem se expressar e dizer o que pensam e gostam, é possível agradar a todos e viver em constante harmonia?

Não! As coisas não são bem assim…

Parece que em algumas relações familiares é bastante difícil encontrar o equilíbrio entre a vontade dos pais e o desejo dos filhos e vice-versa, como se de fato fosse necessário todos serem agradados o tempo todo.

Será possível agradar pais e filhos o tempo todo? Bem, se pensarmos que agradar alguém é fazer tudo o que este deseja e do modo que deseja, então, talvez não.

Para nos ajudar a pensar sobre esta questão, Jean-Paul Sartre nos presenteia com um conceito tão caro à psicologia que é o de liberdade com facticidade. Assim, liberdade factual quer dizer que podemos fazer algumas escolhas em nossas vidas, mas algumas coisas já nos são dadas. Por exemplo, nenhum de nós escolheu o formato do nosso corpo ou a família em que nascemos, embora seja possível fazer algumas transposições. Esse conceito Sartriano exprime a ideia de que somos livres, mas nem tanto assim, ou seja, não podemos tudo, há limites. E é sobre limites que quero conversar com vocês e percorrerei este caminho ainda falando sobre os pequenos.

“As crianças querem sempre experimentar tudo, são iniciantes”

Desde sempre a criança busca nos pais e cuidadores a referência básica para sua constituição enquanto sujeito e se pensarmos que muito frequentemente nós adultos nos inspiramos em outros adultos, imaginem as crianças, que tem pouca vivência. As crianças dependem dos adultos para orientá-las sobre qual direção seguir e qual o caminho mais seguro, portanto, elas devem ser ouvidas sim, mas a última palavra será sempre a dos pais e dos orientadores.

As crianças querem sempre experimentar tudo, são iniciantes. É importante que os pais e cuidadores tenham clareza de que para iniciar a criança em um processo de apreensão, será preciso colocar limites.

Não pensem em “limite” como algo ruim, mas como algo que diz à criança que ela pode muitas coisas, mas nem tudo e nem sempre, afinal, isso é fundamental para se estabelecer relações, uma vez que precisamos entender os nossos limites, o dos outros e do mundo, caso contrário, se todos acharem que podem tudo e fizerem tudo o que quiserem na vida sem nenhum limite, estaria instalado um completo caos.

Nesse sentido, é importante deixar claro para as crianças que algumas coisas são negociáveis e outras não.

Na prática, utilizando de combinados claros e respeito aos pequenos, o aprendizado vai se instalando, podemos ajudá-los a seguir vencendo os obstáculos e construindo uma grande bagagem de autoconfiança, assim, eles vão se sentindo confortáveis e acolhidos no lugar de filhos e entendendo minimamente a importância da orientação dos pais que devem ser respeitados nessa relação onde pais são autoridade. Autoridade esta que não oferece benefícios se confundida pelos pais com autoritarismo.

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Assim, se utilizar de coerência na fala com as crianças, constância na forma de educar, ou seja, retomar a comunicação e os combinados sempre que necessário e aplicação de consequências educativas ao invés do castigo ou do bater, é fundamental para minimizar os conflitos e favorecer uma relação mais leve e feliz.

Sobre o autor

Tatiane Mosso

Psicóloga (CRP 06/117983), com aprimoramento clínico em Fenomenologia-Existencial pela PUC-SP e especialização em psicologia clínica na perspectiva Fenomenológico-Existencial pelo Instituto de Psicologia Fenomenológico-Existencial do Rio de Janeiro – IFEN. Atua na área clinica, em seu consultório particular em São Paulo.

Uma breve elucidação...

A psicologia é uma ciência da área da saúde e minha sustentação dessa clínica se faz na perspectiva Fenomenológico-Existencial, que é uma área do conhecimento inspirada na filosofia e que busca uma compreensão ampla do ser humano, considerando sua história de vida e respeitando sua singularidade. A psicoterapia existencial é apenas um dos caminhos da psicologia para acompanhar a experiência do outro, que se dá a partir da articulação de sentido que se faz e que não é estática, afinal, vida é movimento!

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