Autoconhecimento

Ano novo: vida nova?

Imagem de estrada com número 2019 escrito no chão. Seta no final da estrada apontado para cima. Ao fundo o sol brilhando.
Escrito por Luis Lemos
Um noviço perguntou ao seu mestre:

– Como devo agir para ter uma vida nova?

Depois de um longo silêncio, o mestre respondeu:

Mude de vida. 

– Mas, senhor, – insistiu o noviço – eu já mudei.

Novamente um longo silêncio fez-se ouvir e o mestre, com a sabedoria que lhe era característica, indagou ao noviço:

– O que você entende por mudar de vida?

– Mestre, eu deixei tudo para trás. A minha família e os meus amigos não queriam que eu viesse. Mas eu decidi vir e estou aqui. Isso não é uma mudança de vida?

Depois daquele desabafo, até muito simples para um candidato a padre, o mestre, certamente pensando que teria muito trabalho pela frente, convidou o noviço para uma caminhada.

– Meu filho, deixa eu te ensinar uma coisa. As pessoas geralmente me julgam mais inteligente do que sou, mas não tenho vergonha de dizer que eu sou apenas uma pessoa esforçada. Não tenho nenhum dom especial. Para dizer a verdade, eu só aprendi a ler muito tarde, acho que eu tinha a sua idade quando comecei a estudar. Na minha época não tinha internet, nem o Google. No entanto eu me saia muito bem sem eles. Na escola, aprendi a datilografar em uma máquina de escrever. Ainda me lembro do cheiro de carbono nas cópias de exercícios que os meus professores costumavam nos dar, naqueles dias ninguém tinha computador.

Homem parado em frente à uma bifurcação. Placa com escrito "velha vida, nova vida" em frente. Homem decidindo por qual caminho vai andar.

Mas, mestre, o mundo mudou. Hoje tudo é diferente.

– Sim, meu filho, o mundo mudou e mudou em todos os sentidos. Eu me lembro de estudar sobre a Guerra Fria, admirar as Torres Gêmeas e ir ao cinema com permissão somente para assistir aos filmes dentro da minha faixa etária. Filmes que tinham quaisquer referências a sexo ou drogas eram classificados para maiores de 18 anos. Você tem razão, hoje tudo é diferente. Tudo mudou.

– Como eram as brincadeiras de crianças em sua época?

– As crianças no meu tempo brincavam na rua, interagiam com os vizinhos e passavam horas e horas fora de casa sem que os seus pais se preocupassem com o que poderia acontecer com elas. Naturalmente, não tínhamos a violência que temos hoje.

– Mestre, hoje as crianças ficam em casa jogando videogames e navegando na internet. Muitas até começam a namorar pela rede mundial de computadores. A vida real tornou-se virtual. O afeto, o carinho e o toque viraram negócio. Existem empresas especializadas em ganhar dinheiro com isso. Relações sinceras, com face a face e olho no olho, não existem mais. Enfim, as relações estão instrumentalizadas.

– De fato, meu filho, tudo à nossa volta mudou muito, algumas coisas de forma positiva e outras de forma negativa. No entanto, meu filho, é preciso dizer que a primeira atitude para uma pessoa mudar de vida é pensar mais e prometer menos. Hoje em dia, as pessoas fazem tantos planos, incluindo o de perder peso, aprender a dirigir, falar uma nova língua, mas onde estão todos esses projetos? 

– Mestre, deixa eu lhe confessar uma coisa: os brasileiros adoram fazer planos. Eles dizem: “Este ano vou ser menos machista”, “Vou ser mais presente na minha família”, “Vou ser fiel”, “Vou praticar a caridade”, “Vou praticar algum esporte”, “Vou comer verdura”Promessas e mais promessas! No entanto todo início de ano é a mesma coisa.

Caderno com lista de metas para 2019. Mesa nas cores azul e rosa. Cinco canetas espalhadas na tela nas cores amarelo, verde, rosa, azul e roxo.

– Meu filho, essa não é uma característica exclusiva dos brasileiros. Todo ser humano é assim: faz promessas mesmo sabendo que não vai cumprir. No entanto tudo depende da força de vontade de cada um. Existem coisas na vida que somente nós podemos fazer. Deus não pode fazer por nós. Ele até pode ajudar, mas só depois de você dar a partida nos seus motores. Enfim, meu filho, ano novo é sempre esperança de vida nova. Aliás, é a esperança que move o ser humano. Se não fosse a esperança, não seríamos humanos. Seríamos santos, demônios ou outra coisa qualquer, menos humanos!


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Sobre o autor

Luis Lemos

Luís Lemos é filósofo, professor, autor, entre outras obras, de “Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas – Histórias do Universo Amazônico” e “Filhos da Quarentena – A esperança de viver novamente”.

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