Autoconhecimento

Livro: o melhor presente para dar e receber!

Quatro livros um em cima do outro e uma flor branca acima da pila de livros.
Escrito por Luis Lemos

Não conheço ninguém que não goste de ganhar presente. É verdade que não conheço muita gente. No entanto sou professor e, como tal, sempre ganhei presentes dos meus alunos. Geralmente no final do semestre, no dia do meu aniversário ou agora, no final do ano, algum aluno mal informado me pergunta: “Professor, qual é o presente que o senhor quer ganhar de mim?”, para em seguida ouvir: “Se não for um livro, não quero que você nem apareça na minha próxima aula.”. Dessa forma, sou adepto da ideia de que o livro é o melhor presente, ainda mais agora, nesse momento crítico, pelo qual passam as editoras brasileiras. 

Por outro lado, reconheço que o ato de presentear alguém com livro geralmente vem de quem tem o hábito da leitura. E como o brasileiro lê pouco, poucos vêm dando livros de presente. Consequentemente, poucos gostam de ganhar livros de presente. Muitos preferem ganhar jogos eletrônicos, computadores e celulares. Conheço alguns alunos, principalmente no ensino superior, que preferem ganhar presentes para ostentar o corpo, não para formar a cabeça. Tudo isso tem uma explicação: muitos não sabem ler. São analfabetos funcionais. 

Homem sentado em uma mesa amarela. Ele está lendo um livro e ao mesmo tempo tomando algo em uma xícara amarela.

Ler é bem mais do que decodificar caracteres.
Por quê? Justamente porque decodificar é dizer o que está escrito sem o seu contexto real e ler é contemplar a realidade compreendendo sua razão de ser. É como diz Paulo Freire (1921-1997), ler é o processo de passar de uma consciência ingênua, fragmentada e sincrética para uma visão crítica, totalizante e englobadora. É passar do sentimento para os conceitos. Passar de uma experiência confusa e ambígua, apoiada no afetivo, na imaginação, para uma síntese coerente, esclarecedora e significativa. 

Assim, a consciência crítica busca ir além das aparências, procurando o sentido último da realidade exposta pela investigação, diálogo e exames das diferenças existentes.

Pois a leitura crítica é um processo de interação com o mundo, onde parte dessa interação é dada pela inserção de cada um no ambiente sociocultural. Embora se saiba que o social exerce uma pressão homogeneizadora para a compreensão do mundo, o mesmo é filtrado pelas histórias concretas e pessoais que não se confundem com o mundo social tal como é apresentado. 

É sabido também que a leitura ajuda na formação do sistema de valores. Existem valores que pertencem a um grupo de referência, outros universais, fundamentais ou localizados, porém a sua cristalização nas pessoas não se dá de maneira idêntica devido à inter-relação entre a dinâmica social e a individual.

Mulher negra sentada em um sofá lendo um livro.

Assim sendo, ler criticamente é um processo de constante avaliação, onde os valores e contextos pessoais e sociais dialogam, julgando as representações da realidade e simultaneamente situando-as em uma totalidade de percepção. Isso se fará a partir de sínteses diferentes, de sistemas de valores diferentes e de ideologias diferentes, tendo como objetivo descobrir a capacidade de organização do mundo e se essa organização se orienta para a transformação do mundo. 

Portanto leitura crítica é encontrar sentido, coerência e alguma lógica em todas as manifestações do universo cultural por meio de comparações, avaliações, julgamentos, discussões, diálogos, afirmações, negações e todos os recursos possíveis, capacitando as consciências a uma criticidade em vista da transformação da realidade. Nada disso será possível sem acesso aos livros, sejam eles físicos ou digitais.

Enfim, todos os meus alunos já sabem e agora você ficará sabendo: o meu hobby preferido é dar e receber livros de presente. Ler e escrever também são os meus hobbies preferidos, no entanto, trago no próprio nome o DNA pela leitura, logo, se você não ler, eu leio, eu sou o Lemos, “aquele que gosta de ler”.


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Sobre o autor

Luis Lemos

Luís Lemos é filósofo, professor, autor, entre outras obras, de “Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas – Histórias do Universo Amazônico” e “Filhos da Quarentena – A esperança de viver novamente”.

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