Blog do Editor Doutrina Espírita

Como o espiritismo explica as deficiências

Mulher branca numa cadeira de rodas.
Marcus Aurelius / Pexels
Escrito por Silvia Jara

Falar em deficiências e doenças é sempre um assunto muito difícil. Todo mundo tem ou conhece alguém próximo que já nasceu com questões genéticas e/ou hereditárias.

Questionamos sempre qual a razão de isso acontecer? Por que Deus, que é bom e justo, permite que isso aconteça, já que a pessoa não tem chances de reverter essa situação?

Existem várias leituras. Cada área irá interpretar segundo seus conceitos e crenças. A ciência explica por meio da genética, das questões de má-formação, seja lá o que for. As religiões falam de outros pontos de vista e cada uma tem sua própria interpretação sobre o assunto.

Aqui vamos falar da visão espírita, que considera a vida material apenas como mais uma etapa, mais uma parte de nossa existência, que é eterna.

Como a deficiência era vista na antiguidade

Na antiguidade, antes do advento da era cristã, a visão da deficiência era muito grotesca e desumana. Acreditava-se que os indivíduos que assim nasciam não agradavam aos deuses, não tinham alma e eram vistos como castigo.

Na maioria das vezes eram esquecidos, escondidos e abandonados. A presença de um deles no seio de uma família ou comunidade causava certo desconforto.

Com a chegada da era cristã, as deficiências passaram a ser vistas de outra forma, em razão do que Jesus trouxe: o conceito de fraternidade e acolhimento às diferenças. A ideia de que todos nós fazemos parte de um todo grandioso e generoso.

A partir da disseminação dos ensinamentos de Cristo, as pessoas com deficiências passaram a ser mais respeitadas e aceitas.

Mulher negra deficiente visual.
Tima Miroshnichenko / Pexels

Surge então o Espiritismo com Allan Kardec, que traz ao mundo uma visão expandida da vida, das provas que passamos, e apresenta o conceito da reencarnação. E, com isso, nossa visão sobre as deficiências pode ser revista, reconsiderada dentro de um novo contexto, muito mais amplo do que aquele que conhecíamos.

A reencarnação nada mais é do que a nova oportunidade que Deus nos oferece para reparar os erros e excessos que cometemos em outras encarnações. Deus permite os sofrimentos e provas porque sabe que com eles aprendemos e progredimos.

Aceitando a reencarnação

Mas será que entendemos que a principal função da reencarnação é nos dar oportunidades para a evolução do nosso espírito a caminho da vida eterna, da vida espiritual?

Aceitar e acolher esse conceito é fundamental para compreendermos a existência das deficiências físicas e mentais.

Em cada encarnação recebemos um corpo, que é um presente de Deus, e ele nos servirá para nos auxiliar no trabalho de nossa evolução. Deveríamos cuidar dele da melhor forma possível. Sem excessos, sem vícios.

Toda enfermidade física ou mental é um resgate dos excessos que cometemos em algum momento de nossas vidas passadas. Ou seja, as deficiências são, então, resultado de nossas próprias escolhas!

Resgate não é punição de Deus!

Resgate é a oportunidade de trazer algo de volta. E esse algo é a nossa essência divina, bondosa, perfeita.

Não conhecer ou aceitar a premissa reencarnatória é que nos leva a uma interpretação equivocada das deficiências.

Estamos aqui para aprender, passando por diversos tipos de dificuldades, porque a cada um de nós é dado o remédio apropriado para nossa cura.

Sem as deficiências, muitos espíritos não teriam a possibilidade de resgatar suas dívidas. Aprendemos pelo amor ou pela dor. E com certeza a segunda é nossa maior escola.

Na visão espírita, as deficiências são instrumentos de evolução, são dádivas, são um caminho que nos ajuda a reequilibrar nossas energias.

Pessoa branca numa cadeira de rodas.
Steve Buissinne / Pixabay

O livro “Deficiente Mental – Por Que Fui Um?”, psicografado por Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho, é um apanhado de relatos de diversos espíritos que nasceram ou ficaram deficientes ao longo da vida. É muito interessante e vale a pena ser lido. Em um dos relatos desse livro, há o seguinte comentário:

“Temos muitas oportunidades de voltar à Terra em corpos diferentes e que são adequados para o nosso aprendizado necessário. Quando há muito abuso, há o desequilíbrio, e para ter novamente o equilíbrio tem de haver a recuperação. Quando se danifica o corpo perfeito, podemos, por aprendizado, tê-lo com anormalidades para aprender a dar valor a essa grande oportunidade que é viver por períodos em um corpo de carne. O acaso não existe, Deus não nos castiga, somos o que fizemos por merecer, e as dificuldades que temos encarnados são lições preciosas”.

Precisamos compreender e acolher o fato de que o comportamento de cada indivíduo durante suas encarnações é determinante para o surgimento das deficiências em reencarnações seguintes.

E, segundo a lei da ação e reação, cada tipo de deficiência física ou mental tem uma relação direta com o tipo de abuso que um espírito praticou na última encarnação.

A deficiência não é sinônimo de espírito inferior

No livro “Evolução em Dois Mundos”, André Luiz explica detalhadamente a atuação celeste na formação genética do homem. Não vou me ater aqui às explicações, mas assinalar que a espiritualidade age desde a formação genética, fazendo com que um espírito para reencarnar busque pai e mãe que se afinam às suas necessidades de evolução.

Precisamos ter cuidado para não criar a falsa impressão de que só nascem com deficiências espíritos inferiores. Isso não é verdade!

Muitas vezes, espíritos extremamente inteligentes reencarnam com debilidades (físicas ou mentais) para expiar suas provas.

Um outro livro muito interessante é “Jornada dos Anjos”, em que há o relato de um imperador que precisou reencarnar como deficiente físico e mental para não correr o risco de vir a ser poderoso novamente e exercer o poder político, o que o levaria a usar esse poder para benefício próprio, como fez nas encarnações passadas. E, ainda, para não ser perseguido pelos inimigos espirituais de outras encarnações.

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Quando imperador, sua missão espiritual era a de fazer o cristianismo crescer e se tornar uma doutrina verdadeira, voltada para o bem comum e para a caridade. Seduzido pelo poder, deixou sua missão para trás e, com isso, atrasou por séculos sua evolução.

Em 1985, em uma entrevista dada para Hebe Camargo e Nair Bello, Chico Xavier fala sobre a origem de alguns exemplos de deficiências na encarnação atual.

Uma pessoa que se suicidou com uma bala na cabeça pode, por exemplo, sofrer na próxima encarnação das seguintes deficiências:

  • Se atingiu a área da fala, poderá ser mudo
  • Se atingiu a área dos olhos, poderá ser cego
  • Se atingiu áreas mais complexas, poderá voltar com problemas mentais
  • Suicídio por afogamento, eczemas
  • Se enforcou-se, poderá ser paraplégico
  • Se matou alguém e em seguida se matou, esquizofrenia

As deficiências também podem ser provas de altruísmo

Um espírito pode aceitar reencarnar com uma determinada deficiência para ajudar outras pessoas. Deficiências que foram pedidas pelo espírito reencarnante para ajudar seus familiares.

NESSE SENTIDO, a deficiência não é um resgate ou uma expiação para uma prova pessoal, mas pode ser também uma prova solicitada para ajudar os pais a se espiritualizarem.

A dedicação, a paciência, o devotamento e a perseverança que os pais têm que despender com o deficiente vão ajudá-los a evoluírem e a se espiritualizarem por meio do amor ao filho necessitado.

Sempre há um aspecto positivo

Sei que em um primeiro olhar é difícil, mas vamos buscar o que há de positivo nas deficiências.

Mulher branca com uma das pernas amputadas.
Anna Shvets / Pexels

Elas fazem com que o ser humano descubra novas sensibilidades, virtudes e capacidades que estavam adormecidas. E quantos não são os casos de pessoas deficientes que extrapolam todos os limites e nos revelam atitudes de força, coragem, autoconfiança e alegria de viver, mesmo com uma série de limitações?

Alguém já viu aquele rapaz sem braços e sem pernas, Nicholas James Vujicic, um australiano que é um pregador evangélico e palestrante motivacional? Ele prossegue sua jornada com todos os desafios e ainda motiva aqueles que se sentem desmotivados pela vida.

As deficiências são desafios, uma escola para o deficiente e para os cuidadores.

Quanto maior o amor e dedicação daqueles que cuidam, maior será a chance de resgate de provas para ambos: deficiente e cuidador. Um ajuda o outro a evoluir e concluir uma etapa da evolução.

Nesse contexto, a família tem um papel fundamental, seja por ter recebido a missão de ajudar o deficiente, seja por ter a chance de também resgatar suas provas.

Em uma de suas palestras, Divaldo Pereira Franco diz que os pais de pessoas deficientes podem ter sido pessoas envolvidas diretamente com a forma como o espírito do atual deficiente conduziu sua vida.

De alguma forma, colaboraram ou ainda foram imprevidentes e não conseguiram ajudar esse irmão que hoje tem na deficiência a oportunidade de resgate de seus erros.

Por meio da reencarnação juntos, na mesma família, poderão desenvolver o amor, o carinho, a paciência, ajudando o deficiente em sua sobrevivência e reabilitação.

E como podemos agir perante a deficiência?

Culpar a Deus pela situação não ajudará em nada, pelo contrário, só prejudicará e dificultará ainda mais a condição do deficiente e do cuidador.

É preciso garantir um ambiente de muita oração, muita vibração positiva, buscando a fé em Deus para cumprir a missão, para que essa seja uma reencarnação redentora.

É possível também buscar auxílio em instituições que trabalhem com os deficientes, porque estão preparadas para dar bons conselhos.

O que vale é aquilo que fazemos hoje, como conduzimos o nosso hoje.

De tudo isso que falamos, independentemente de buscar conhecer os porquês daquilo que provocou a deficiência nos dias atuais, é fundamental pensar no presente, enfrentando um dia de cada vez, buscando auxílio na fé e na esperança, e principalmente compreendendo que a vida na Terra é apenas uma passagem.

Sobre o autor

Silvia Jara

Depois dos dois primeiros anos do Eu Sem Fronteiras, resolvemos atualizar nossas informações e isso foi um belo exercício de reflexão!
Nosso propósito sempre foi ajudar as pessoas na busca do autoconhecimento e eu, pessoalmente, não fiquei isenta disso.

Em meu perfil anterior disse: “olhando para trás percebo que, em minha vida, as coisas sempre aconteceram de maneira fluida, sem muito planejamento, embora tenha verdadeira admiração pelo planejamento ‘das coisas'”. Hoje entendo que foi o foco no presente que me fez seguir o fluxo da vida em muitos momentos, sem me preocupar com o ontem ou com o amanhã. As coisas caminharam como deveriam ser.

Minha paixão pela publicidade se transformou na paixão por pessoas, comportamentos, sentimentos, atitudes e, principalmente, na capacidade e necessidade do ser humano de se comunicar, compartilhar e crescer. Minha formação acadêmica em Publicidade não mudou, mas minha formação humana tem sofrido diversas e importantes mudanças no sentido de compreender que sozinhos não chegaremos longe. Somos um sistema e como tal, precisamos uns dos outros.

Minha capacidade analítica e observadora, aplicada à Pesquisa Qualitativa de Mercado que, até então, me serviu para compreender o comportamento de consumo das pessoas e grupos, agora parece muito mais voltada a me compreender, a olhar para dentro de mim e buscar minha essência verdadeira. É praticamente impossível ficar ilesa, isolada e desconsiderar tantas informações e conteúdos com os quais lidamos no dia a dia de nossa redação.

Hoje entendo que o trabalho em áreas comerciais, marketing de empresas, agências de publicidade e a atuação em pesquisa de mercado estavam me preparando para esse mergulho no autoconhecimento. Nada é coincidência!

A curiosidade pelo mundo espiritual, pela meditação, pela metafísica, pela energia vital está se transformando em novos conhecimentos e práticas: Reiki, Apometria, Constelação Familiar, Thetahealing, PNL, EFT, Florais e tantas outras técnicas. Sigo acreditando que o questionamento, a busca de informação e a vivência me levarão a conhecer minha missão de vida, meus caminhos e minha plenitude.

Trabalhando no Eu Sem Fronteiras desde 2014, tenho aprendido muitas coisas, vivenciado outras tantas e não sei onde isso chegará! O que me importa é continuar nessa busca. É um caminho sem volta no qual o grande objetivo é aceitarmos que somos sujeitos de nossa própria vida, os únicos capazes de transformá-la.

Grande abraço e muita luz!

Email: silvia@eusemfronteiras.com.br
Site linktr.ee/silviajara.terapias