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Conheça as Bonecas Waldorf: Pedagogia recheada de carinho

Escrito por Eu Sem Fronteiras

Paixão, dedicação, envolvimento com a educação. Nina Veiga é uma educadora que coloca as mãos na massa, como já diz esse conhecido jargão. Doutora em Educação, ela se utiliza da metodologia Waldorf para falar sobre os brinquedos educativos que propõe.

Já ministrou cursos em diversos lugares do Brasil e ainda do mundo. Conversamos com Nina para saber como funciona o trabalho com as bonecas Waldorf. Confira abaixo a entrevista e suas preciosas respostas e aproveite para refletir sobre a educação e o modo como estão incentivando o brincar de nossas crianças. Boa leitura e um detalhe: cada linha vale ouro, ainda mais vindo de uma pessoa apaixonada pelo que faz.

Eu sem Fronteiras: Como funciona o trabalho com as bonecas Waldorf?

Nina Veiga: A metodologia da oficina é inspirada na Pedagogia Waldorf, onde o pensar, o sentir e o agir do participante atuam juntos. A oficina de construção das bonecas Waldorf organiza-se igualmente nestas três instâncias: conceitual, procedimental e atitudinal. O programa apresenta de maneira dinâmica os conceitos, fatos e princípios significativos.

A boneca Waldorf não é um estilo em si mesmo, ela nunca está isolada como um objeto. A boneca Waldorf é um brinquedo, vincula-se ao brincar e, portanto não existe desvinculada da criança. A compreensão da criança é o objetivo principal das oficinas que preparam artífices para a confecção de bonecas Waldorf.

Portanto, a boneca Waldorf é a expressão de um modo de pensar a criança e um dispositivo para o brincar. Um dispositivo que honra a criança e a compreende em sua singularidade e em todos os seus aspectos de pensamento, sentimento e movimento corporal e orgânico. Para se construir uma boneca, é preciso educar-se, desenvolver uma sensibilidade para a compreensão da criança. Por isso, a boneca Waldorf é uma boneca educativa, pois educa quem faz a boneca.

Eu sem Fronteiras: De onde surgiu a inspiração?

Nina Veiga: A Pedagogia Waldorf é inspirada na antroposofia, um modo de olhar para o mundo em sua processualidade e complexidade, abarcando os aspectos de singularidade, multiplicidade do ser e do social.

Eu sem Fronteiras: Elas ficam em escolas ou são comercializadas?

Nina Veiga:  As bonecas são dispositivos para o brincar. Nesta perspectiva, só existe o brincar livre. Qualquer direcionamento ou tomada do brincar como utilidade, é atividade e não brincar. Tendo isso em vista, as bonecas podem ser comercializadas, desde que, observem os preceitos de significância e não sejam rotuladas como mais um objeto de consumo. A preferência é que a Boneca Waldorf Educativa, eduque também o consumidor, tanto no sentido de valorar cada boneca como única, como de valorar quem a confeccionou como valorar a entrega da boneca à criança, no sentido de que aquela boneca é única e não mais uma peça ou objeto descartável.

A ideia é que a boneca cresça com a criança, receba cuidado e atenção em seu manuseio, inspirando o cuidado com o outro e a diminuição do consumo de objetos pela criança. A opção é pela crianção de vínculos e não pela aquisição de bens.

Eu sem Fronteiras: Qual o propósito deste trabalho?

Nina Veiga: O propósito deste trabalho é a manutenção de um território de brincar livre, onde a criança possa expressar sua singularidade e não apenas representar papéis definidos previamente pela mídia. No brincar livre, a criança tem a oportunidade de reelaborar o mundo em que vive, transformando em linguagem seus dramas particulares. Quando o brincar é definido externamente pelo personagem criado pela mídia, essa possibilidade de elaboração do real é diminuída. A boneca Waldorf é um dispositivo de elaboração e reelaboração no brincar livre como da prática social.

Eu sem Fronteiras: Há quanto tempo estão fazendo?

Nina Veiga: No dia 5 de agosto, o Nina Veiga Atelier comemora 24 anos de existência. Criando bonecos inspirados no conhecimento antroposófico, levando em conta a imagem ampliada do ser humano e as necessidades da criança contemporânea. Valoriza o trabalho das mãos em contato com materiais e concepções que possibilitem a composição de uma ética, de uma estética e uma política que promova a vida de qualidade.

Eu sem Fronteiras: O que você nota nas crianças em relação a essas bonecas?

Nina Veiga: Quanto mais a criança se acostuma a brincar como reprodução de modelos externos, mais ela perde a habilidade de criar a própria brincadeira. Assim, ao receber uma boneca sem estereótipos, onde toda a ação deverá ser decidida pela criança e não pelo desenho animado que se associa àquele brinquedo, ela, em princípio, se é uma criança muito exposta à mídia, ela pode sentir-se perdida. Mas, na medida em que a criança começa a exercitar-se em liberdade e consegue expressar-se através do brincar livre, ela se vitaliza, sua singularidade encontra espaço e isso lhe dá uma potência alegre.

Eu sem Fronteiras: O que você acha que a educação precisa hoje?

Nina Veiga: A educação precisa se colocar a serviço da vida viva. Enfatizar menos os conteúdos e mais a singularidade da criança. Os processos escolares uniformizam e impossibilitam que o ser da criança se expresse de modo único. Infelizmente, a escola cristalizou-se na mentalidade industrial do Séc. XIX. Mesmo quando a maior parte dos educares reconhece isso e quer mudar, os sistemas avaliativos, respondendo à pressão do mercado e aos índices do governo, pressionam e amarram a boa intenção docente.

Eu sem Fronteiras: Em sua opinião, os brinquedos prontos e eletrônicos tem interferência no desenvolvimento da criança?

Nina Veiga: Quando a criança se acostuma com o brinquedo pronto, ela diminui sua capacidade de inventar o mundo da brincadeira, e, portanto o próprio mundo, de modo autônomo, pois seu brincar está subordinado à ideia de outro, no caso o adulto engenheiro ou programador, sempre a serviço da indústria e do mercado. Brincar não é apenas usar. Brincar é criar, inventar, fazer uma ideia se transformar em algo concreto. Neste sentido, brincar é produzir cultura.

Quando a cultura vem pronta, seja pelo brinquedo licenciado, seja pelo jogo eletrônico, resta à criança se tornar um usuário, um consumidor. A pergunta que talvez possamos fazer é: a quem interessa formar usuários e consumidores de mundo e desincentivar criadores e inventores de mundo? A resposta é fácil, mas de grande impacto, não é mesmo?

Conheça Nina Veiga: É doutora em Educação, escritora e educadora Waldorf, com oficinas e workshops ministrados em diversos países e no Brasil. Empresária no segmento de brinquedos educativos há mais de vinte anos, cria bonecos inspirados no conhecimento antroposófico, levando em conta a imagem ampliada do ser humano e as necessidades da criança contemporânea.

Valoriza o trabalho das mãos em contato com materiais e concepções que possibilitem a composição de uma ética, de uma estética e uma política que promova a vida de qualidade.

Mestre em Cultura e Linguagem e psicopedagoga artística, doutorou-se pela Universidade Federal de Juiz de Fora e Universidade de Lisboa e investigadora das artes-manuais no IELT, Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, da Universidade Nova de Lisboa.

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Desenvolve trabalhos de formação pessoal e oferece suporte a bonequeiras que queiram se tornar profissionais no Brasil e no exterior. Suas oficinas associam o saber teórico-conceitual, o ativismo social pela infância e pelo brincar às artes manuais como modo de existir e ação de sustentabilidade planetária.

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