Sustentabilidade

Conheça os “tijolos para abelhas” que estão sendo usados em Brighton, Inglaterra

Parede de abelha.
diyanadimitrova / 123RF
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Encontrar uma maneira de combinar tecnologia e avanço da sociedade com harmonia em relação ao meio ambiente é um dos maiores desafios do momento que estamos vivendo atualmente no mundo. E a cidade inglesa de Brighton and Hove está tentando fazer isso ao exigir que prédios incluam tijolos para abelhas.

Como assim tijolos para abelhas?

A ideia da prefeitura de Brighton and Hove é que todo edifício de mais de cinco metros que for construído de agora em diante inclua tijolos especiais, com aberturas que podem ser usadas como ninhos por abelhas solitárias.

E não para por aí, porque o projeto de lei também exige que sejam construídas caixas de nidificação adequadas para uma espécie de pássaro chamada andorinhão, que é bastante comum na região, mas que tem tido sua população diminuída cada vez mais.

Os tijolos para abelhas, por sua vez, seriam tijolos do mesmo tamanho dos tradicionais, mas com uma série de aberturas estreitas como as que abelhas solitárias são acostumadas a nidificar.

Biodiversidade

De acordo com a justificativa do projeto de lei, 250 das cerca de 270 espécies de abelhas do Reino Unido são abelhas solitárias. Então o objetivo dessa ação seria aumentar as oportunidades para a biodiversidade, porque esses insetos desempenham um papel importante no ecossistema atual da região.

“Os tijolos de abelha são apenas uma das várias medidas que realmente deveriam entrar em vigor para lidarmos com as questões de biodiversidade que surgiram ao longo de anos de negligência do ambiente natural”, explica Robert Nemeth, um dos vereadores responsáveis pela iniciativa, em entrevista ao site inglês Dezeen.

“Aumentar as áreas com jardins, cavar buracos de ouriços e construir caixas de nidificação e alimentadores de pássaros são exemplos de outras ideias simples e baratas que, juntas, podem trazer ganhos fáceis a médio prazo”, continua ele.

Oportunidades para as abelhas

A ideia de Brighton and Hoven pode soar um pouco absurda para quem não está acostumado a ler sobre questões ambientais, mas não é tão incomum assim. As cidades inglesas de Cornwall e Dorset, por exemplo, já adotaram políticas parecidas, que já estão em vigor nesses municípios.

Também em entrevista ao site Dezeen, Faye Clinton, da empresa Green&Blue, que fabrica tijolos para abelhas, explicou que esses tijolos representam uma oportunidade única para as abelhas solitárias, que muitas vezes circulam de maneira quase desesperada por aí por causa da arquitetura moderna.

Abelha sozinha ao lado de flores amarelas.
Brad Huchteman / Unsplash

“Abelhas solitárias costumam fazer ninhos em prédios em ruínas ou tijolos antigos, esburacados”, conta Clinton, “mas as construções modernas são tão perfeitas que todas as cavidades acabam sendo bloqueadas”. “Estamos reproduzindo um habitat em cada prédio, assim como é na natureza, onde elas nidificam em pequenas cavidades em árvores, por exemplo”, explica.

Ela ainda opina que, se isso não for feito, um muro fechado e sem essas aberturas representa “centenas e centenas de quilômetros de terra perdidos para qualquer tipo de biodiversidade”.

Riscos à saúde?

Mas nem todo mundo está empolgado com a possibilidade do uso dos tijolos para abelhas. Alguns especialistas opinam que eles aumentariam as chances de atrair ácaros e aumentar a propagação de algumas doenças.

Um dos críticos é Dave Goulson, professor de biologia da Universidade de Sussex, que disse ao jornal britânico The Guardian que testou os tijolos e descobriu que os buracos eram muito rasos para serem “casas ideais para abelhas”, mas “provavelmente são melhores que nada”.

Foto de Dave Goulson, um homem branco de olhos claros.
DaveGoulson / WikimediaCommons

“Estamos nos enganando se achamos que ter um desses em cada casa fará alguma diferença real para a biodiversidade”, opina ele. “É necessária uma ação muito mais substancial, e esses tijolos podem ser facilmente usados como ‘maquiagem verde’ por aqueles que usarem”.

Maquiagem verde é como é conhecida a prática de camuflar, mentir ou omitir informações sobre os verdadeiros impactos das atividades de uma empresa ou pessoa no meio ambiente, como se eles estivessem fazendo mais ações ou ações mais impactantes do que de fato estão fazendo.

Dificuldade de manutenção

Outro crítico é Adam Hart, entomologista e professor de comunicação científica da Universidade de Gloucestershire, que disse que “mesmo intervenções bem-intencionadas podem ter consequências indesejadas”.

Ele opina que os buracos podem acabar se enchendo com micróbios e bactérias maléficos à nossa saúde, então a manutenção será bastante difícil e delicada. “Haverá micróbios benéficos nos buracos também, então eles não devem ser limpos”. Como selecionar, portanto, o que deve ficar ou sair?

E essa discussão vai longe, porque não há consenso. Lars Chittka, professor de ecologia sensorial e comportamental da Universidade Queen Mary, por exemplo, diz que as abelhas seriam capazes de mitigar possíveis problemas, “o que deve, em certa medida, contrabalançar os riscos que acompanham essas oportunidades de nidificação de longo prazo”.

Benefícios versus riscos

O vereador Robert Nemeth trabalha como desenvolvedor imobiliário e apicultor profissional, então diz entender do assunto e está confiante de que os benefícios superem os riscos potenciais. “É sempre fácil listar as desvantagens de qualquer solução, mas o ideal é testar e continuar tentando”, opina ele.

Nemeth comenta que alguns críticos podem estar confundindo tijolos de abelha, que normalmente são feitos de concreto, com “hotéis de insetos” feitos de madeira, que seriam mais suscetíveis a apodrecer e a atrair pragas perigosas.

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“Ouvi dizer que há riscos com ácaros e outras pragas. Conforme o tempo passa e a conscientização aumenta, esses tipos de imperfeição serão invariavelmente resolvidos”, afirmou. “Vi muitos grandes exemplos de abelhas solitárias usando os tijolos e fui conquistado pelo potencial dessa ideia”, ele justifica.

Iniciativa premiada

O tijolo de abelhas da Green&Blue foi lançado em 2014 e foi o vencedor do Prêmio de Inovação da Soil Association naquele mesmo ano. O tijolo foi desenvolvido em parceria com um ecologista. Clinton, porta-voz da empresa, diz que ele só é eficaz se posicionado perto de uma área com atividade de abelhas solitárias, obviamente.

Se os tijolos de abelhas vieram para ficar ou se a iniciativa será malsucedida, resta ao futuro revelar. O importante é que qualquer iniciativa que seja benéfica para o meio ambiente e a biodiversidade deve ser testada. Mesmo que dê errado, servirá de aprendizado para oportunidades e ações futuras.

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