Laura entrou na sala e pude perceber imediatamente que algo não estava bem. Ela caminhou ao meu encontro, me abraçou e falou:
– A Laura se foi. Não quero admitir, mas sabia que era questão de tempo. Bem pouco tempo…
– Para onde a Laura foi?
– A mãe dela disse que foi acidente, que ela chegou muito perto da janela para regar as plantas e caiu da varanda. Uma fatalidade.
Regar flores? A Laura? Jamais… Ninguém aceita a verdade. Dói. Tudo isso se mistura em cenas confusas na minha mente. Falamos várias vezes sobre o quanto ela não se sentia amada. Conversamos várias vezes sobre a ausência de nossos pais, sobre nosso medo e insegurança e sobre como as pessoas simplesmente não conseguem demonstrar que se importam um pouco conosco.
– Você pularia?
– Talvez. Pensei nesta possibilidade algumas vezes. Acho que o perfeccionismo – o mesmo que é um dos causadores da minha doença – é o mesmo que me impede de pular. Ainda não encontrei o grande ato, o pulo espetacular. Acho que por isso não pulei ainda. A culpa pela falta do amor que não sinto me incomoda. Cansei de tentar provar minha ousadia adolescente. Ninguém liga pra mim! Ninguém se importa comigo! Admito, um abraço é bom. Gostaria de demonstrar que me importo também, que me importo com as pessoas que amo. Tantos espinhos entre nós. Olívia, quando você nos recebe nas reuniões, não entendo… Parece que meus espinhos não machucam seu corpo. Você me abraça e não dói.
Foi assim, com olhar de súplica, lágrimas sinceras vindas do fundo de sua alma.
Ela pediu.
Ela pediu – não com palavras. “Por favor, não desista de mim”.
Pude sentir o pulsar acelerado de seu coração rogando por cuidado. Mais uma jovem ferida buscando sentir e saber que não se encontra sozinha.
Um ser humano que precisa de atenção, atenção verdadeira. Alguém que apenas observe que está presente e que note que tem feridas que necessitam ser medicadas.
A coragem de pedir ajuda. Sarah teve.
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A história acima é parte da coletânea das Oficinas de Escrita e contação de histórias que realizo. Laura, Sarah e Olívia são personagens fictícias, mas podem ser facilmente associadas a alguém do nosso convívio. Essas histórias foram criadas com o objetivo de oferecer suporte aos jovens.
Sinto-me responsável pelo mundo que vivo. Faço parte da grande teia da vida. Simplesmente não consigo ficar de braços cruzados enquanto ouço sobre o aumento de estatísticas sobre depressão. Faço parte do time que se importa e que faz a diferença. Se nós, adultos, estamos vivenciando constantes conflitos internos, presos aos nossos dramas emocionais, imagine nossos jovens sem experiência e sem portos seguros onde buscar refúgio.
Desde que tive acesso a vários ensinamentos, tenho em meu coração o desejo de compartilhar esse benefício.
Citando Frei Betto: “Parecem, mas não desapareceram. As fontes estão aí, a olhos vistos: a espiritualidade, os movimentos sociais, a luta pela preservação ambiental, a defesa dos direitos humanos, a busca de outros mundos possíveis”.
Nos próximos artigos mostrarei um pouco da experiência que tenho vivenciado com o tema depressão. Espero que possa agregar, pois quanto mais falarmos sobre depressão, mais poderemos ajudar.
Acredito num mundo melhor e participo da construção dele, afinal estou aqui para isso!