Comportamento

Escapismo: fugir é a melhor opção?

Um homem correndo rumo a uma larga porta iluminada.
Tiero / Canva
Escrito por Eu Sem Fronteiras

“O que não enfrentamos em nós mesmos encontraremos como destino”, escreveu o psicólogo e psiquiatra Carl Gustav Jung, idealizador da Psicologia Analítica. Ou seja, tudo aquilo de que fugimos ou que não decidimos a respeito de nós mesmos e da nossa vida eventualmente vai cruzar nosso caminho — ou mesmo definir esse caminho! — e parecer que é o destino. Por isso, é preciso estar atento ao escapismo.

Por isso é que é muito perigoso fugirmos — seja lá que fuga for essa: da realidade, de um problema, de uma decisão, de um relacionamento, das responsabilidades, dos conflitos e por aí vai. Fugir é muito diferente de resolver: é não resolver!

Entenda os perigos do escapismo e de que forma você pode lidar com ele!

O que é escapismo?

Em resumo, de acordo com a Psicologia, o escapismo é uma estratégia que nos ajuda a fugir do “mundo real”, evitando que enfrentemos uma situação, uma pessoa, um conflito etc. Normalmente, esse tal escapismo acontece porque é desagradável resolver essas situações ou a relação com essas pessoas, ou estar nesses ambientes ou mesmo diante disso tudo.

Uma mulher correndo num gramado.
muhammad bahmudah de Getty Images / Canva

Também conhecido como “síndrome de Houdini” (em referência ao lendário escapista húngaro que fez sucesso no século XIX), o escapismo pode ser muito perigoso e pode causar problemas como procrastinação, medo de tomar decisões, ansiedade, preocupação excessiva, entre outros sintomas e problemas.

Exemplos de escapismo

O escapismo está presente em nosso comportamento, seja nas grandes situações, seja, até mesmo, nas menores delas. Por exemplo: você nunca se pegou rolando o feed das redes sociais ou assistindo a vídeos aleatórios só para fugir de uma obrigação ou atrasá-la, como lavar uma louça ou qualquer outra coisa assim?

E, partindo para um exemplo “maior”, quantas pessoas passam a evitar encontros com seus parceiros e parceiras quando já não querem manter o relacionamento, a fim de evitar ter de olhar nos olhos da pessoa e dizer que tudo acabou?

Maratonas de séries, horas intermináveis de videogame, livros, exercícios físicos excessivos, evitar encontros, procrastinar tarefas, protelar decisões… enfim, o escapismo está presente em muitos comportamentos.

Fugir é sempre a melhor opção?

É claro que não. Mas, antes disso, vamos falar sobre fugir ser, sim, uma boa opção. Atualmente, vivemos em uma sociedade de cobranças e sacrifícios. Enfim, a frase “trabalhe enquanto eles dormem” resume bem como as coisas estão.

Relacionamentos complicados são mantidos, bem como trabalhos exaustivos, obrigações maçantes e um monte de responsabilidades que exigem cada vez mais de nós. Então, sim, fugir e desistir é uma opção. Você tem esse direito e não deve se sentir fracassado ou fraco por simplesmente dar uma fugidinha ou desistir de vez.

O “termômetro” é a sua sensação: se fugir foi como uma solução, tanto a curto quanto a longo prazo, pode ter sido uma boa solução. Porém, se a fuga trouxe problemas a curto prazo, como mal-estar e culpa, ou a longo prazo, como fracasso ou incapacidade de realizar tarefas, entre outros, é preciso aceitar que não foi a melhor opção.

O ideal é que fugir seja uma escolha. Isto é, que o ideal seja você optar conscientemente por fugir. No entanto, se você está fugindo somente para escapar do desconforto, bem, isso é um problema (ou pode vir a ser e/ou pode causar problemas).

É preciso sair da bolha

É raro conseguir resolver ou conquistar alguma coisa simplesmente parado ou estagnado, não é? Imagine, por exemplo, um jogo de futebol: se um dos times foge da bola o tempo todo, é impossível que venha a ganhar o jogo não, é?

Por isso você precisa entender que estar em uma zona de conforto é agradável. Sim, claro que é. É pelo nosso conforto que nos dedicamos, esforçamos e sacrificamos tanto, mas viver eternamente numa zona de conforto — ou inventar uma — pode ser bastante negativo, especialmente a longo prazo.

Pés de uma criança num bambolê.
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Aqui vai mais um exemplo: existem, é claro, pessoas que sentem bastante prazer em correr. A grande maioria dos corredores de rua, porém, relata que, ainda que a atividade seja divertida e traga benefícios, é sempre um esforço tomar a decisão de correr.

Ou seja, receber os benefícios da corrida, sejam ao corpo, sejam à mente, exige movimento, exige não escapar ou fugir da decisão de se levantar da cama, trocar de roupa, calçar os tênis de corrida e ir correr.

Como parar de fugir dos problemas?

Preparamos uma lista com 5 dicas que vão te ajudar a evitar o escapismo e resolver os problemas. Confira cada uma delas atentamente!

1 – Estabeleça uma relação de esforço-recompensa

Essa é para os procrastinadores de plantão, que sempre invertem a ordem e se divertem (ou escapam) antes de cumprir suas obrigações. Ainda que isso seja difícil (especialmente no início), você precisa condicionar a sua diversão ou o que é “legal” de fazer ao cumprimento das suas obrigações.

Se você quer jogar uma hora de videogame, mas precisa passar o aspirador na casa, caso comece a jogar e deixe o aspirador para depois, qual incentivo vai ter para desligar o jogo (que é divertido) e ir fazer algo chato? Porém, se você estabelecer o videogame como recompensa para o cumprimento da tarefa enfadonha, vai funcionar bem.

2 – Defina momentos de descanso

Imagine trabalhar, literalmente, de domingo a domingo. Depois de duas ou três semanas sem nenhum momento de descanso, seus níveis de cansaço e de exaustão vão subir, enquanto os níveis de foco, concentração e motivação vão diminuir. Por isso, é essencial intercalar momentos de responsabilidade e obrigação com descanso.

Quando você repousa, descansa e se diverte, a sensação de que precisa fugir das obrigações diminui, porque você pôde repousar do cansaço que sentiu enquanto precisava lidar com elas. Portanto, valorize seu lazer e seu repouso!

3 – Valorize os frutos das suas decisões e do seu movimento

Um diploma, ainda que seja um pedaço de papel, existe para cumprir um ritual importante: depois de anos de esforço e dedicação para se graduar, você finalmente completa esse desafio, é reconhecido e valorizado por isso e segue para uma nova fase da sua vida. Ainda que seja simbólico, o diploma é o fruto do nosso esforço como estudantes.

Quando não vemos ou valorizarmos os frutos do nosso esforço, fica cada vez mais difícil se esforçar, porque vem a sensação de estar “enxugando gelo”. Diariamente, ou de tempos em tempos, parabenize-se pelas suas conquistas e por estar dando o seu melhor.

4 – Pense sempre nas consequências (e se mova enquanto isso!)

Uma ilustração de um boneco stick sobre um caminho. Este caminho o leva a diversas rotas distintas.
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Se você precisa se levantar às 7h, mas já são 7h15, e você ainda está imaginando como seria a vida se ganhasse na Mega-Sena, isso vai te complicar. Sempre que perceber que está fantasiando ou fugindo do que precisa ser feito, pense nas consequências (e se mova enquanto isso).

Por exemplo: enquanto pensa nas graves consequências de chegar meia hora atrasado no trabalho, vá se arrumando. No fim da reflexão, vai perceber que se atrasar seria uma péssima decisão e, de quebra, vai estar prontinho para sair de casa.

Ah, e fique atento à empatia. Fugir de terminar um relacionamento, por exemplo, e se “esconder” numa traição ou relação extraconjugal pode não ter nenhum impacto negativo em você. Porém, pode fazer muito mal para o seu parceiro ou a sua parceira. Então, pense que as consequências podem afetar o outro também!

5 – Procure ajuda profissional

Se você realmente sente que tem muitas dificuldades para fazer o que precisa ser feito, tomar decisões, equilibrar realidade e fantasia, diversão e obrigações, entre outros tipos de escapismo, procure ajuda.

Ao iniciar um processo terapêutico com um psicólogo, você vai entender qual é a origem e quais são as consequências do seu comportamento escapista e/ou de fuga, o que vai te permitir lidar com isso de maneira mais conflituosa e, em alguns casos, até mesmo resolver definitivamente a situação.

Não perca o controle da sua vida

Este artigo começou com uma citação de Jung e este, que é o último tópico, vai se encerrar com uma frase do mesmo autor: “Eu não sou o que me acontece. Eu sou o que escolho me tornar”.

A ilustração de uma mulher e, ao lado, uma sombra da mesma.
geralt de pixabay / Canva

Em outras palavras, o tempo todo estamos nos tornando quem somos. Quando você deixa para fazer um trabalho da faculdade em cima da hora, assume o risco de que não fique bem-feito. Quando substitui um necessário exercício físico pela diversão de passar a tarde no videogame, assume os riscos à sua saúde e ao seu corpo.

Enfim, cada microdecisão que tomamos afeta o macro que é nossa vida. Então, entenda que, sim, muitas coisas realmente acontecem sem que você possa interferir; porém, você poderia ter lidado mais adequadamente com outras tantas, mas, infelizmente, fugiu e deixou para lá, e isso vai ter consequências. Portanto, assuma as rédeas da sua vida!

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Agora que você sabe o que é escapismo, conheceu exemplos desse comportamento e sabe quais são as consequências dele, que tal colocar as nossas dicas em prática para ter uma vida menos acomodada e para perseguir seus objetivos com mais afinco?

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