Antes de mais nada, a definição do termo cultura é bastante abrangente. Existe uma série de livros da editora Braziliense intitulada “Coleção Primeiros Passos”, em que busca não exatamente uma definição, mas uma reflexão sobre diversos termos utilizados rotineiramente no dia a dia como cultura, cidadania, política, capitalismo e etc. Embora proferidos rotineiramente, esses termos são um pouco mais abrangentes do que a forma descrita no dicionário. Dentro dessa complexidade, vamos abordar o conceito de cultura como uma série de hábitos, experiências e conhecimentos que são transmitidos e compartilhados pelas populações humanas.
Partindo desse princípio, é muito comum ouvirmos determinados rótulos do que é cultura e o que não é, principalmente em uma tonalidade para qualificar alguma coisa como superior a outra quando se faz comparações. Por exemplo: ouvir Mozart é cultura, já ouvir funk não é.
Afinal, por que?
Como é o caso do Vale Cultura, do governo federal, por exemplo, que repassa um determinado valor para que os beneficiados possam adquirir serviços ou produtos definidos como culturais, como cinema, livro e etc. Há algum tempo, questionou-se o porquê dos games não terem sido enquadrados no Vale Cultura. Se partirmos da ideia de hábito, experiência e conhecimento, a prática de jogar video-game é um hábito cultural. Então por que existe essa distinção, afinal?
A todo o tempo, subliminarmente ou não, a sociedade faz distinções das produções artísticas. Qual a necessidade de enquadrar algo como “cultura popular”? Existe então uma “cultura impopular”? E a “arte de rua”, mas que nunca conhecemos uma “arte rural”? Uma obra de Michelângelo exposta no Museu do Louvre é definida como “arte”, enquanto o trabalho da aposentada que faz lembrancinhas de conchas na praia tem o nome de “artesanato”. Não estamos fazendo juízo de valor, mas procurando encontrar um critério que justifiquem essas distinções. Muitas vezes difundidas pelo governo e/ou pela mídia, esses preconceitos são muitas vezes aceitos e incorporados por todos nós de forma natural.
É muito complicado, e até um pouco doloroso, nivelar os hábitos culturais dos outros que nos causam estranheza junto aos nossos, que também podem causar espanto àqueles que não fazem parte de nosso universo sócio-cultural. Esse tipo de reflexão é muito importante não só para nosso desenvolvimento intelectual, mas também moral.
- Texto escrito por Diego Rennan da Equipe Eu Sem Fronteiras