Vivemos tempos em que os jovens são bombardeados por incertezas, individualismo e superficialidades. Diante desse cenário, é urgente e necessário educá-los para a fé. No entanto, essa educação não deve ser compreendida como doutrinação ou imposição de uma religião específica, tampouco como ferramenta de manutenção de poderes ideológicos dominantes.
Falo de uma fé mais ampla, mais humana, mais autêntica. Uma fé que transcenda as amarras institucionais, religiosas e ideológicas. Uma fé que não se limite a rituais ou à presença obrigatória em templos. A verdadeira fé nasce do encontro profundo com o outro, com a vida, com o mistério que nos habita e nos rodeia.
É importante dizer, com toda clareza: para ser uma pessoa de fé, não é necessário frequentar uma igreja. Conheço pessoas que não participam de nenhuma instituição religiosa e, ainda assim, demonstram uma fé viva, concreta, encarnada na prática do amor e da compaixão. Muitas vezes, essas pessoas se revelam mais éticas, sensíveis e solidárias do que aquelas que se dizem religiosas, mas que vivem presas ao moralismo ou à indiferença.
Educar para a fé é, portanto, educar para o acolhimento do outro, para a escuta do sagrado que pulsa em cada existência, para a abertura ao mistério. É ensinar que a espiritualidade pode ser um caminho de liberdade, e não de aprisionamento; de encontro, e não de exclusão.
No entanto, é preciso estar atento a um fenômeno preocupante: a instrumentalização da fé por interesses políticos. Muitos candidatos, principalmente em épocas de eleição, se apresentam como “enviados por Deus”, tentando conquistar a confiança dos eleitores por meio de discursos religiosos.
Infelizmente, muitos jovens, sensibilizados pela autoridade de líderes espirituais, acabam acreditando nessas falas e votando em candidatos que pouco ou nada têm de compromisso com o bem comum, com a justiça, com os mais necessitados.
É fundamental desenvolver um olhar crítico diante desses discursos. A fé não deve ser usada como moeda de troca ou trampolim para o poder. A espiritualidade verdadeira não se associa à manipulação nem à busca de vantagens pessoais.
Quando um político se vale da religião apenas para conquistar votos, ele desrespeita tanto à fé do povo quanto os princípios democráticos. Os jovens precisam entender que nem todo discurso religioso é sinal de ética ou honestidade, muitas vezes, é apenas uma estratégia para explorar emocionalmente a população.
Por isso, educar para a fé também é educar para a consciência política. Significa ajudar os jovens a distinguir entre quem serve ao povo com integridade e quem se utiliza da religião como fachada. É formar cidadãos capazes de unir valores espirituais com compromisso social e senso crítico.
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A fé autêntica nos convida à justiça, à solidariedade e à responsabilidade. E isso inclui escolher, de forma crítica e consciente, nossos representantes, não por suas promessas “ungidas”, mas por suas ações concretas em favor da dignidade humana.
Por fim, que saibamos oferecer aos nossos jovens uma fé que inspire, liberte e humanize, uma fé que não exclui, mas inclui; que não condena, mas que acolhe. Uma fé comprometida com a justiça, a paz e a dignidade de cada pessoa. Uma fé que dialogue com o mundo, sem medo, e que ajude a construir pontes, não muros.