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Luís, o menino que amava os gatos

Imagem de um garotinho abraçando e segurando um gato. A foto traz o conceito de amor incondicional, empatia e desapego, mostrando que amar é cuidar, proteger e acolher, mas também é respeitar o tempo e a liberdade do outro.
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Escrito por Luis Lemos

Luís resgatava animais com amor e compaixão. Ao acolher Ravi, um gatinho especial, viveu uma amizade profunda e silenciosa. Quando Ravi desaparece, Luís aprende com o pai que amar também é deixar ir. E entende que o amor verdadeiro, mesmo distante, nunca deixa de viver no coração.

Luís tinha um coração que batia mais forte sempre que via um animal sozinho na rua. Bastava um miado triste, um olhar perdido ou um rabinho abanando entre o lixo e pronto: ele já queria levar o bichinho para casa, assim mesmo, sem hesitar, como quem segue o chamado de uma missão.

Quando o seu pai perguntava se ele não se preocupava se aquele animal tinha dono ou não, ele respondia com uma convicção brilhando nos olhos: — Quem ama de verdade não abandona. Quem ama cuida!

E com esse argumento aparentemente simples, Luís sempre convencia seu pai a embarcar com ele em mais uma missão de resgate. — Eles são indefesos, dizia. E precisam de alguém que cuide deles!

Foi numa manhã em que o sol brilhava entre as nuvens em Manaus, quando Luís voltava da escola. No caminho, um miado fininho chamou sua atenção. Ele se aproximou e, debaixo de um papelão, encontrou uma ninhada de gatinhos famintos.

Luís não pensou duas vezes, abriu a mochila, empurrou os cadernos e acomodou os gatinhos ali mesmo, entre lápis e livros.

Ao chegar à casa, mal abriu o portão e, um por um, os gatinhos saltaram da mochila. Na lateral da casa, uma torneira pingava. Eles correram até ela, sedentos.

O menorzinho, com os olhos mais tristes que Luís já tinha visto, aproximou-se em silêncio. Luís entendeu de primeira: ele queria comida, e talvez um lar.

Com delicadeza, apertou o gatinho contra o peito e entrou em casa. Quando colocava ração nos potinhos, seu pai apareceu no pátio e cruzou os braços:

— Luís, nesta casa já não cabe mais nenhum gato!
— Onde come um, comem dez!
— Dez? Já são mais de cem!

Era verdade. Mas aquele ali era diferente. Luís o ergueu como quem mostra um tesouro e sussurrou: — Pai, esse se chamará “Ravi”, que significa “sol”. Porque ele iluminou meu coração hoje.

Entre todos os gatos, Ravi logo se tornou seu companheiro inseparável. Enquanto os outros corriam pelos telhados, Ravi ficava perto, deitado aos pés de Luís, ouvindo suas histórias inventadas e dividindo o calor das tardes.

Talvez fossem os olhos grandes e tristes, talvez o jeito de segui-lo pela casa… Luís nunca soube ao certo por que aquele gatinho o conquistou tanto. Só sabia que, naquele encontro, nasceu uma amizade silenciosa, daquelas que não precisam de palavras para ser explicada.

O tempo passou e Ravi cresceu, curioso pelos mistérios do mundo além dos muros de sua casa. Numa manhã nublada, escapou por um vão no portão. Luís, ao voltar da escola, não o encontrou. Chamou, procurou, deixou a porta entreaberta. Mas a noite caiu, e Ravi não voltou.

Imagem de um gatinho cinza e branco indo embora da casa do seu tutor. A foto traz o conceito de que amar é cuidar, acolher e, se for preciso, deixar que o outro siga seu caminho.
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Sentiu um vazio apertar-lhe o peito, como se faltasse um pedaço de si. O pai se aproximou, passou a mão em seus cabelos e disse, com voz serena: — Às vezes, filho! Até os gatos que a gente mais ama vão embora, como algumas pessoas. Mas isso não quer dizer que o amor não existiu. O amor verdadeiro não prende, ele deixa livre.

— Você está falando da mamãe?

Seu pai respondeu-lhe com um sorriso triste, mas cheio de ternura: — Estou falando de todos os amores e que, por algum motivo, seguiram outro caminho. A sua mãe foi um deles. Eu a amei muito, muito mesmo. Mas às vezes, filho, amar também é partir, é desejar que o outro continue bem, mesmo de longe. É como quando a gente abre a janela e deixa o passarinho voar, mesmo querendo que ele fique.

Com o tempo, Luís entendeu que amar também é deixar ir. E sempre que via um gatinho na rua, lembrava-se de Ravi com um sorriso saudoso, carregando no peito a lição mais bonita que já aprendera: “Amar é cuidar, acolher e, se for preciso, deixar que o outro siga seu caminho”.

E, no fundo do coração, Luís jamais deixou de acreditar que, em algum entardecer silencioso, Ravi voltaria. Porque o amor verdadeiro, aquele que parte, mas permanece, conhece atalhos invisíveis, caminhos que o tempo não apaga e que o coração, paciente, nunca deixa de esperar.

Sobre o autor

Luis Lemos

É professor, filósofo, escritor, autor, entre outras obras de, “O primeiro olhar A filosofia em contos amazônicos" (2011), “O homem religioso A jornada do ser humano em busca de Deus” (2016), “Jesus e Ajuricaba na terra das amazonas Histórias do universo amazônico” (2019), “Filhos da quarentena” (2021) e “Amores que transformam” (2024).

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