Tem coisas na gente que a gente repete sem perceber. Padrões que se repetem com pessoas diferentes, em momentos diferentes, mas com o mesmo roteiro. E eu levei anos para perceber o meu.
Antes de 2009, eu tinha um perfil X de tipo de homem que me atraía, eram os mais velhos. Não foram muitos, mas os que vieram tinham algo em comum: sabiam mais que eu, tinham experiência, me ensinavam. Aprendi muito com eles. Um em especial me ensinou bastante sobre Direito. Eu estava na faculdade, ele já era advogado e estudava para o concurso da Petrobrás. Eu absorvia tudo. Fazia perguntas, prestava atenção, crescia naquelas conversas.
Era confortável estar com quem sabia mais. Tinha uma sensação de segurança nisso. Como se eu estivesse sendo guiada, protegida, ensinada. Eu era a aprendiz. Eles eram os mestres.
Aí veio 2009.
Este ano mudou muita coisa em mim. Foi um ano tenso, carregado de muitas revelações familiares que me fizeram perder meu chão. Foi como se algo dentro de mim tivesse resetado. Uma configuração interna que eu nem sabia que existia simplesmente mudou de lugar. E, com isso, meus relacionamentos também mudaram.
Depois de 2009, comecei a ter outro tipo de padrão Y, de homens que me atraíam, e geralmente eram mais novos que eu. Não muitos também, mas o suficiente para criar um padrão claro. E o roteiro virou do avesso. Agora eu era quem ensinava. Eu era quem sabia mais. Eu era quem tinha experiência para compartilhar.
Ensinava tudo o que sabia. Empreendedorismo, negócios, carreira, investimentos, estratégias, planejamento. Pegava esses homens em um estágio da vida e ajudava-os a crescer. Mentoria disfarçada de relacionamento.
E ia além. Muitas vezes eu também bancava. Pagava contas, cobria gastos, sustentava enquanto eles se estruturavam. Achava que estava ajudando, que estava sendo parceira, que estava investindo no futuro deles. E, no fundo, estava me perdendo no processo.
Quando eles chegavam a um patamar melhor, quando eu via que estavam em outro nível, quando percebia que tinham aprendido e evoluído, eu terminava.
Não era consciente. Eu não planejava isso. Mas acontecia. Sempre.
Claro, tinha outros fatores. Tinha brigas, desentendimentos, traições, mentiras, incompatibilidades. Mas, no fundo, tinha um padrão se repetindo. Um padrão que eu não conseguia enxergar.
Além de mais novos, esses homens eram leigos em muitas áreas. Alguns até sabiam alguma coisa, mas não eram estruturados financeiramente. Não tinham clareza sobre a carreira. Não sabiam como construir algo sólido. E eu entrava ali como quem entra para consertar, para organizar, para direcionar.
Demorei para perceber que eu estava fazendo com eles o que os homens mais velhos fizeram comigo antes de 2009. Estava replicando um papel. Só que invertido.
Tive que fazer muita terapia para começar a entender isso. Muita conversa, muito olhar para dentro, muito desconforto. Porque perceber padrão dói. Você olha para trás e vê todas aquelas situações se repetindo e pensa: como eu não vi isso antes?
A psicanálise explica esse movimento de uma forma bem clara. Quando vivemos algo significativo, especialmente na infância ou em momentos de grande impacto emocional, criamos scripts internos. Roteiros que seguimos sem perceber. E esses roteiros se repetem nos nossos relacionamentos, nas nossas escolhas, na forma como nos posicionamos no mundo.
Antes de 2009, eu buscava homens que ocupassem um lugar de ensinar, de guiar. Eu me colocava no lugar de quem precisava aprender, de quem precisava ser cuidada intelectualmente. Era um papel seguro. Eu sabia como funcionar ali.
Depois de 2009, algo mudou. Alguma dor, algum evento, alguma quebra interna me fez trocar de papel. Passei a ocupar o lugar de quem cuida, de quem ensina, de quem prepara o outro para o mundo. E, quando esse outro estava pronto, eu saía. Porque meu papel tinha acabado.
A constelação familiar sistêmica olha para isso de outro ângulo, mas chega em lugares parecidos. Ela mostra que carregamos lealdades invisíveis ao nosso sistema familiar. Repetimos padrões que vêm de gerações atrás, mesmo sem saber. E muitas vezes assumimos papéis que não são nossos, mas que alguém na família não conseguiu ocupar.
Pode ser que eu tenha assumido o papel de cuidadora, de quem prepara os homens para a vida, porque alguém no meu sistema familiar precisava disso e não teve. Pode ser que eu estivesse compensando algo. Pode ser que eu estivesse pagando uma dívida que nem era minha.
A constelação também fala sobre ordem. E quando a gente inverte ordens, quando a gente assume responsabilidades que não cabem a nós, quando a gente se coloca no lugar de salvar ou consertar o outro, a gente se perde no processo.
E foi o que aconteceu comigo. Eu me perdia nesses relacionamentos. Me anulava. Dava tanto, ensinava tanto, investia tanto, me doava tanto que, no final, eu não sabia mais quem eu era ali. Eu era a mentora, a professora, a guia, a provedora. Mas não era parceira. Não era igual. Não era eu.
Perceber isso foi libertador e doloroso ao mesmo tempo. Porque você olha para os anos que passou repetindo o mesmo filme e percebe quanto tempo perdeu. Quanta energia gastou. Quanto dinheiro investiu achando que estava construindo algo com o outro, quando na verdade estava apenas cumprindo um papel que nem era meu. Quantas vezes se colocou em segundo plano achando que estava ajudando?
Mas também liberta porque você entende. E, quando você entende, pode escolher diferente.
Atualmente, eu faço diferente. Não foi da noite para o dia. Não foi fácil. Foi um processo longo, cheio de recaídas, cheio de vezes que eu quase caí no mesmo padrão de novo.
Tive que aprender a me relacionar de igual para igual. Sem estar no papel de quem ensina ou de quem aprende. Sem precisar salvar ninguém. Sem precisar ser salva. Sem precisar bancar ninguém para me sentir necessária.
Tive que aprender a escolher o perfil de quem já estava estruturado. Que já tinha suas próprias bases. Que não precisava de mim para crescer. E que eu também não precisava dele para me sentir segura.
Tive que aprender a estar em um relacionamento por estar. Não por função. Não por papel. Só por estar.
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E isso exigiu muita terapia. Muito olhar para dentro. Muito desconstruir crenças antigas. Muito soltar padrões que estavam tão enraizados em mim que eu nem sabia que existiam.
Hoje eu consigo olhar para trás e entender. Consigo ver o porquê de cada escolha, de cada repetição, de cada relacionamento que terminou do mesmo jeito. E consigo perdoar a mim mesma por ter levado tanto tempo para perceber… e ao outro por entender que tudo é feito com algum propósito. Atraímos aquilo que vibramos.
Padrão é assim. A gente só vê quando está pronto para ver. E só muda quando está pronto para mudar.
