Autoconhecimento Comportamento

“O santo não bateu”, por que não gostamos de alguém que nem conhecemos?

Mulheres brancas com expressões fechadas.
Freddy Cahyono / 123rf
Escrito por Daniela Mendes

Você já dever ter escutado ou pronunciado expressões como: “eu não fui com a cara dela”, “ele não me passou uma boa impressão” ou “essa aí não me desceu”, não é mesmo? É natural que façamos pré-julgamentos frente a alguém que acabamos de conhecer, mas há momentos em que a nossa “intuição” grita tão alto que a vontade é de sair imediatamente de perto desse sujeito que acaba de chegar em nossas vidas.

Porém se alguém nos perguntar o porquê criamos essa repulsa imediata por essa pessoa que ainda nem tivemos a oportunidade de conhecer melhor, é possível que “não sei” seja uma de nossas primeiras respostas, seguida de alguns argumentos infundados.

Mas por que já temos um posicionamento referente a uma pessoa que ainda nem tivemos a oportunidade de conviver?

Dentre milhares de partes que compõem seu cérebro, existe uma que é responsável por isso acontecer com você, ela se chama Sistema Límbico. É um sistema cheio de funções e núcleos com nomezinhos complexos, mas que basicamente tem a finalidade de trabalhar para a sua sobrevivência. Um dos núcleos desse sistema o manterá vivo através de sinais como fome e sede, identificará também se a expressão no rosto de alguém é positiva ou não, além de lembrá-lo de correr, ou manter-se imóvel, se for atacado por um cão (em uma identificação instintiva de perigo).

Esses são registros primários que ocorrem dentro do seu Hipotálamo e que não dependem de você ter passado por alguma experiência anterior para que esses lembretes estejam lá, armazenados e prontos para lhe fazer seguir vivo e em pleno funcionamento.

Em um outro núcleo, estarão armazenados os registros emocionais, e esses estarão ali porque em algum momento você vivenciou uma situação que lhe gerou alguma emoção, seja ela boa ou ruim.

Esse armazenamento é feito na Amígdala (Não, não! Não é a Amígdala que está na sua garganta, tem apenas o mesmo nome) e caso ela identifique que você se encontra frente a frente com uma situação que ela tem catalogada como experiência negativa, imediatamente um alerta de sobrevivência será enviado, por ela considerar que você se encontra em perigo. E, acredite, “eu não fui com a cara dela” pode ser um desses alertas.

Vamos tentar entender: digamos que você encontre um primo que não via há muitos anos. Esse primo lhe causou sensações ruins em sua infância durante uma brincadeira de excessivo mau gosto, imediatamente você será lembrado disso por sua Amígdala que gravou o ocorrido em seu arquivo emocional, para que você tenha a oportunidade de proteger-se dessa representação de perigo que se encontra em sua frente.

Mulheres brancas num escritório se estranhando.
Aleksei Ivanov / 123rf

Nesse caso, estamos falando de alguém que você já conhece, certo? Mas como fica aquele sujeito que “de cara”, sem conhecer bem, “o santo não bate”? Ora, vem do mesmo lugar!

Os estímulos que a Amígdala recebe para disparar os seus alertas de proteção podem ser acionados por meio de cheiros, gestos, expressões faciais, atitudes ou até mesmo por timbres de voz. Então, digamos que você teve a convivência com uma pessoa agressiva que tinha grande influência sobre você, que ela possa ter lhe causado algum mal e todas as emoções que você sentiu naquela ocorrência estejam armazenadas em sua Amígdala.

Em um certo dia, você conhece uma pessoa que tenha o timbre de voz semelhante ao desse agressor, pronto, sua Amígdala e seu Hipotálamo, em um grande trabalho em equipe, fizeram sua identificação de perigo (Amígdala trazendo a recordação das emoções ruins vivenciadas no passado e Hipotálamo querendo que você lute ou fuja instintivamente desse perigo). 

Você acha mesmo que após fazer essa associação o seu cérebro vai querer que você passe por todo aquele sofrimento mais uma vez? Que nada, ele só quer que você o tire logo dali!

É provável que ao passar do tempo de convivência o sistema límbico tenha a oportunidade de captar que aquele indivíduo não representava a ameaça identificada inicialmente, permitindo novos armazenamentos emocionais pertencentes verdadeiramente à sua relação com essa pessoa. Nesse caso, a primeira impressão só será a que fica, se você não se permitir conhecer essa pessoa melhor.

Claro que não estenderemos essa explicação a todos os “não gostei dessa pessoa” que possam acontecer em nossas vidas, pois muitas vezes teremos motivos justificáveis para muitas relações não darem certo, como divergência de valores, ideias contrárias ou formas opostas de levar a vida.

Mas se nenhum argumento para o seu “não gostei” for coerente, é bem possível que a sua Amígdala possa estar fazendo hora extra de tanto trabalhar vasculhando os seus arquivos emocionais para tentar proteger você desse aparente perigo.

Todo esse entendimento traz a importância de entrar em contato com o que existe dentro de você, relembrar e trabalhar os fatos que lhe causaram emoções dolorosas, falar sobre você para você mesmo ou para um profissional.

Autoconhecimento! Caso contrário, é possível que frequentemente os seus pensamentos e ações sejam comandados por uma tropa de proteção chamada Sistema Límbico, que estará agindo para o seu bem, mas interferindo consideravelmente em muitas de suas relações.

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De começo, como uma forma mais simples e imediata de buscar melhorar o seu convívio social, não pare nas primeiras impressões, afinal, tem muito santo bom por aí para o seu passar o resto da vida dizendo que “não bateu”.

Referências Bibliográficas:

MIOTO, Eliane Correa; DE LUCIA, Maria Cristina Souza; SCAFF, Milberto. Neuropsicologia e as interfaces com a neurociências. – São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010.

GUYTON, Arthur C.; TORTORA, Gerard J. Neurociência básica: anatomia e fisiologia; revisor técnico Charles Alfred Esbérard; tradutores Charles Alfred Esbérard, Cláudia Lúcia Caetano de Aaraújo. – 2ed. – [reeimpr.] – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008;

TORTORA, Gerard J.; DERRIKSON, Bryan. Corpo Humano: Fundamentos da anatomia e fisiologia; revisão técnica: Luiz Alberto Santos Serrano, Tolomeu Artur Assunção Casali. – 8.ed. – Porto Alegre: Artmed, 2012;

ACHADO, Angelo B.M.; HAERTEL, Lúcia Machado. Neuroanatomia funcional / prefácio Gilberto Belisário Campos. — 3ed. – São Paulo: Editora Atheneu, 2014.

Sobre o autor

Daniela Mendes

Graduada em Gestão de Recursos Humanos, graduanda em Psicologia, Professional Coach, Life Coach, Leader Coach e Analista Comportamental. Daniela Mendes atua há mais de oito anos no ramo de desenvolvimento humano, através de treinamentos, consultorias e processos de coaching que oportunizam às pessoas momentos de encontro consigo mesmas para a reestruturação de pontos que possam estar limitando seu crescimento, aliado a um trabalho de identificação e potencialização de seus talentos naturais.

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