A Física Quântica postula que tudo que há no Universo é energia. Tudo vibra e está intimamente interconectado com o Todo. A energia é eterna, está em todos os lugares e não desaparece – apenas muda de forma. A causalidade é considerada obsoleta, e a realidade física é negada.
David Bohm (físico) e Karl Pribam (neurofisiologista) explicam o Universo e o cérebro através do modelo holográfico. Para melhor compreensão, vamos entender como funciona a holografia, concebida em 1948 por Dennis Gabor e executada com a invenção do laser nos anos 1960.
O holograma é um método de registro “total”, onde cada parte de um holograma contém as informações do todo. O holograma é criado pela associação de duas ondas de luz durante a gravação. A interferência (padrão de linhas cruzadas que ocorre quando duas ou mais ondas perpassam uma através da outra; como, por exemplo, o cruzamento das ondas formadas quando atiramos pedras em um lago) é o fenômeno que permite a holografia. O objeto nela representado é “lido” com um feixe de laser e pode ser visto em diferentes posições (ao contrário da fotografia comum), com profundidade.
Todas as partes de uma holografia têm toda a informação necessária para formar a imagem completa (embora se perca um pouco da nitidez ao cortarmos o filme em pedaços cada vez menores).
Esse modelo foi aplicado para entender como o cérebro pode guardar certas memórias, mesmo tendo algumas partes retiradas (isso foi verificado apenas em pacientes epiléticos – a memória podia ficar nebulosa, mas ninguém saiu da cirurgia com qualquer perda seletiva de memória).
O modelo holográfico explica também alguns enigmas:
Vastidão da memória – calcula-se que, durante a vida humana média, nosso cérebro armazena 2,8 x (10)20 bits de informação. Os hologramas também, pois, mudando-se o ângulo no qual dois lasers atingem um pedaço de filme holográfico, é possível registrar muitas outras imagens diferentes sobre a mesma superfície. Um pedaço de 2,54 centímetros de filme pode armazenar a quantidade de informação contida em 50 Bíblias.
O “lembrar” e o “esquecer” – semelhante à holografia contendo múltiplas imagens, o “lembrar” seria semelhante ao ato de emitir um feixe de laser na direção do filme, evocando uma imagem específica. Quando não conseguimos lembrar, isso corresponderia a emitir feixes de laser, porém sem encontrar o ângulo correto para evocar a imagem específica.
Memória associativa – outra técnica de registro holográfico ilustra a capacidade associativa da nossa memória: a técnica consiste em lançar primeiramente um único laser em dois objetos. A luz refletida por cada um deles ao colidir cria um padrão de interferência captado no filme. Toda vez que o objeto 1 for iluminado com laser e a luz que ele refletir passar através do filme, uma imagem tridimensional do objeto 2 aparecerá e vice-versa.
Identificação de imagens familiares – existe um tipo de holografia usada na indústria de testes de materiais chamada holografia de identificação. Ela permite identificar semelhanças e diferenças entre dois objetos ou duas imagens.
Lembrança eidética (“memória fotográfica”) – pessoas com lembranças vívidas têm acesso, de alguma forma, a grandes regiões de seus hologramas de memória. Na holografia, quanto maior o pedaço do filme iluminado, mais nítida é a imagem formada.
Transferência de habilidades adquiridas – o cérebro converteria todas as lembranças e habilidades adquiridas em uma linguagem de formas de ondas de interferência, que poderia ser deslocada em qualquer direção e examinada sob qualquer perspectiva. Isso explica a capacidade que temos de reconhecer um rosto familiar, independente do ângulo que o vemos.
Sensação de membros “fantasmas” (ocorre em alguns casos de amputações) – a sensação de ainda ter um membro amputado se explicaria pela vivência da memória holográfica do membro registrada nos padrões de interferência do cérebro.
Como “criamos” um mundo exterior – o cérebro considera uma numerosa quantidade de processos neurofisiológicos (processos internos), fazendo-nos pensar que alguns deles estejam localizados fora de nós (por exemplo, o som de uma orquestra), enquanto outros são internos (por exemplo, o amor). Isto pode ter analogia com o holograma na medida em que ele cria a ilusão de objetos, mas é só uma imagem tridimensional.
Referências
O Universo Holográfico – Michel Talbot – Editora Nova Cultural, São Paulo – 1991