Convivendo

Trajeto compartilhado

Dois pés situados próximos à três setas que indicam caminhos distintos.
shutter999 / 123rf
Escrito por Leandra Dib

Já parou para pensar que, mesmo quando consideramos que estamos a sós, na verdade não estamos, nunca estamos?

Hoje escolho escrever sobre as caronas que oferecemos e sobre as bagagens que decidimos levar em nossas viagens. Aqui me refiro a viagem como esse deslocar cotidiano pelas paisagens mais conhecidas, o trajeto ordinário e erroneamente tido como repetido.

Nada se repete quando nos deixamos encantar pela beleza que nos cerca, pois reconhecemos o movimento sempre presente em nós mesmos e naquilo e naqueles com que e/ou quem convivemos.

Uma pessoa escalando o Monte Everest.
Devraj Bajgain / Pixabay

Nós podemos até ser os únicos a trilhar determinado caminho naquele instante, naquele recorte do tempo cronológico, mas serão nossas companhias constantes e certeiras tudo aquilo que levamos em nossa bagagem interna. É com elas que iremos partilhar, comungar nossa existência, mesmo diante do desejo ou até mesmo da ação de alterar a paisagem externa na qual estamos inseridos.

Compartilhamos nossos itinerários com nossos pensamentos, com nossas emoções, com as vozes que estabelecem diálogos quase sempre constantes em nossas mentes, com a maneira que escolhemos nos colocar diante desse caminho, o que inclusive interferirá nas marcas que nossas pegadas deixarão pelo solo percorrido.

Essa bagagem interior, de cuja companhia podemos não nos dar conta dependendo do quanto estamos presentes ou ausentes nas nossas próprias vidas, pode por vezes tornar o caminho mais árduo ou cansativo ou então ser o combustível que nos encoraja a seguir caminhando confiantes e desfrutando da jornada.

Sobre uma cama, malas e caixas de papelão seladas. No fundo, uma janela emitindo luz através de uma fresta.
Ketut Subiyanto / Pexels

Preparar a mala envolve fazer escolhas, perguntar-se “O que vai? O que fica?” e, a partir daí, decidir como acomodar a bagagem e, por vezes, dar-se conta que uma vez iniciado o caminho pode ser que essa bagagem necessite ser revista e repensada.

Eu gosto de chamar o caminho de peregrinação. Esse deslocar-se que me permite reconhecer e sentir o sagrado presente na própria travessia, não como um destino a ser alcançado. Essa imagem me auxilia a desfrutar de cada passo, a estar atenta e disponível caso haja a necessidade de alterar a rota e até mesmo de fazer uma pausa.

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Esse trajeto compartilhado faz parte de uma escolha consciente sobre com quem e com o que queremos dividir nossas experiências, mesmo que estejamos aparentemente a sós em determinada jornada.

Façamos boas escolhas!

Sobre o autor

Leandra Dib

Meu nome é Leandra e contar sobre mim é sempre uma oportunidade de reescrever a minha própria história, de trazer para o papel em forma de palavra aquilo que em meu corpo está registrado como memórias, lembranças, encontros, experiências.

Isso de alguma forma me conecta ao movimento que tanto aprecio. Movimento do corpo, movimento da vida.

Ao concluir a faculdade de fisioterapia o corpo tornou-se meu ‘campo’ de pesquisa. Cursei uma primeira especialização em Fisiologia do Exercício pela FM-USP. Tenho formação nos métodos de Reeducação Postural Global e Estruturação Postural Integrada, Reprogramação Músculo-Articular e Watsu (Water Shiatsu).

A dinâmica do corpo em movimento que evidencia um desejo posto em ação sempre me instigou, o que fez com que eu vivenciasse em meu corpo diferentes técnicas e passei a aliar isso ao que era proposto em terapia aos meus pacientes.

Percebia como eles estavam desconectados de seus corpos, lembrando que ele existia em função do desconforto que apresentavam, ou seja, a dor os fazia lembrar que tinham um corpo.

‘Ter um corpo’, como se fosse algo distante do que eram. Isso me chamava muito a atenção. Esse corpo de lamentações era o companheiro diário. Iniciei meu caminho em busca do ‘ser um corpo’ e não só ‘ter um corpo’.

Encontro nas práticas de yoga e meditação o meio para facilitar estes processos de (re)encontro comigo, e resolvo então buscar por uma formação em Hatha Yoga e Yogaterapia pela Humaniversidade Holística. Neste caminho me especializo em Yoga para Crianças pela Metodologia Yoga com histórias.

Estar presente neste corpo, neste lugar. Habitá-lo com tranquilidade e com prazer.

Foi quando me aproximei da educação e entrei em contato com a antroposofia, com os ensinamentos para a vida que nos deixaram Rudolf Steiner, Emmi Pikler, Maria Montessori, Paulo Freire.

Decido estudar sobre o começo da vida, sobre as infâncias, sobre o brincar como uma condição humana e as biografias despertaram meu interesse.

Uma costura de saberes de diferentes áreas do conhecimento que tanto dialogam entre si e que me possibilitam a especialização em Escutas antropológicas das infâncias - a vez e a voz das crianças.

Hoje atuo como professora de yoga e meditação, cuido de crianças e adultos que sintam o chamado de retorno a morada corporal.

Trabalho também com rodas de mulheres, onde abordamos temas relacionados ao feminino em nós, ressignificando a relação com nosso corpo e nossos ciclos.

Ofereço grupos de estudos e rodas de conversa sob a perspectiva do ‘cuidar de quem cuida’ um trabalho voltado para os educadores, pais e professores.

Contatos:
Email: leandra.vozdocorpo@gmail.com
Site: vozdocorpo.com
Instagram: @leandradib