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Ledor ou leitor? Você sabe a diferença?

Homem branco lendo livro.
kantver / 123rf

Se recorrermos ao dicionário (Michaelis.uol) observamos que Ledor: adj+sm (lat lectore) Que, ou o que lê; que, ou o que tem o hábito de ler; leitor.

Para leitor, sm (lat lectore) 1 Aquele que lê; ledor. 2 O que lê, habitualmente, alguma publicação periódica. 3 Pessoa que, nas casas editoras, teatros etc., lê as obras remetidas pelos autores e dá parecer a respeito delas. 

4 Professor que, numa universidade estrangeira, leciona a língua e literatura do seu país. 5 Pessoa que, nas casas religiosas, lê durante as refeições da comunidade. 6 Liturg ant O que tinha o segundo grau das ordens menores eclesiásticas.

Na verdade, por essas definições as duas palavras tem a mesma origem, porém, o termo “ledor” muito conhecido entre os cegos e deficientes visuais, ganha cada vez mais importância no cenário educacional. Isto porque, em função do movimento inclusivo  na educação, esse profissional é muito necessário para garantir a acessibilidade de alunos cegos e deficientes visuais aos conteúdos escolares, tanto na escolarização básica como no ensino superior.

O ledor é aquele que empresta aos cegos e deficientes visuais através de sua voz a possibilidade da leitura de diferentes textos, especialmente em avaliações, concursos, vestibulares e em especial no Enem.

Assim, o ledor pode ser considerado como sendo aquele que lê para o outro. Mas, será que basta saber ler? Não. Se você quiser experimentar doar sua voz para outro, é isto mesmo doar, isto porque  este trabalho exige muito amor e vontade de ajudar o próximo, precisa conhecer algumas técnicas de leitura muito importantes.

Pessoa branca lendo livro.
Thought Catalog / Unsplash

Com exceção do Ministério da Educação e Cultura na organização do Enem e de algumas poucas instituições de ensino que remuneram este trabalho, muitas outras instituições que auxiliam os cegos e deficientes visuais, precisam constantemente de voluntários, inclusive para gravar livros. Os chamados audiolivros ou livros falados são ferramentas importantes para a educação dessas pessoas, ou mesmo como leitura de fruição.

Entretanto, nem tudo no livro fica disponível ao cego ou deficiente visual por intermédio da leitura do ledor, pois as imagens são muito difíceis de serem descritas e não devem ser interpretadas pelo ledor. Para isso, ainda não há tecnologia que resolva este problema.

Bom, então você pode perguntar: para que ledor se existem leitores de tela? Tentaremos explicar: por exemplo, o DosVox, é um sistema operacional que permite que pessoas cegas utilizem um microcomputador e executem várias tarefas. Em constante aprimoramento, o Dosvox foi concebido pelo Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Também, existem outros como Virtual Vision, Jaws, etc., sendo este último considerado o mais popular do mundo. Em sua maioria tem download gratuito e rodam bem nos atuais sistemas operacionais, como Windows e Linux. Entretanto, nenhum deles substitui a voz humana.

Pela voz se dá a interação entre o mundo do vidente e o mundo do cego, a voz pode ser trabalhada e transmitir sensações e emoções. O ledor precisa imprimir ritmo e alterar a tonalidade de acordo com o texto, que é povoado de recursos como a acentuação e especialmente a pontuação.

Como é possível perceber até aqui, ser ledor é estar disposto a se entregar para o outro através da voz, para que este possa de fato viajar nas linhas e entrelinhas de um texto, ou refletir e resolver uma situação problema em uma determinada questão em uma avaliação.

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Parece poético não é? O fato é que muitas crianças cegas ou subnormais, como são conhecidos aqueles que têm baixa visão, podem ser encontrados em escolas do País sem esse apoio para acessarem os conteúdos escolares. A Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência em seu artigo 9 destaca a figura do ledor como sendo assistência humana, como forma de assegurar a igualdade de oportunidades.

No Rio de Janeiro a necessidade do ledor é destacada no PROJETO DE LEI Nº 674/2007, já o INEP em edital de 2015 promete melhorias no atendimento de quem tem visão monocular, discalculia, o que inclui a solicitação de ledor.

Discalculia? Sim. Esses alunos também tem direito à ledor nas avaliações. Mas, este é tema para outro artigo.

Então, gostaria de ser um ledor?

Sobre o autor

Prof.ª Dra. Ruth Maria Rodrigues Gare

Doutora em Educação com pesquisa na área de letramento de surdos e formação de professores. Formação em Publicidade/Propaganda; Letras e Pedagogia. Especialista em Libras, Educação Empreendedora, Gestão Escolar, Design Instrucional EaD e Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado. Pós-doutora em Educação pela Universidade São Francisco com pesquisa na área de educação de surdos em aspectos linguísticos textuais. Atuou como docente de Libras na Universidade São Francisco por 7 anos e como docente em curso de pós-­graduação de Libras com disciplinas voltadas ao ensino de português ao surdo e produção de material pedagógico na Faculdade de Jaguariúna. Atualmente é docente com dedicação exclusiva na PUC­ Campinas onde atua desde 2014, quando do regresso de doutorado sanduíche na Universidade do Minho em Portugal.