Comportamento Convivendo

Dia Nacional do Combate a Discriminação Racial

Mulher a frente de manifestação anti-racismo
Ammentorp / 123RF

No dia 3 de julho “comemora-se” o dia nacional do combate à discriminação racial. Em 1951, por meio da lei 1.390, foi estabelecido que haveria pena para qualquer ato de discriminação por raça ou cor. Em 1985, a lei tornou-se mais rigorosa, prevendo crime inafiançável para práticas de racismo e até cinco anos de prisão.

Passados quase 130 anos da Lei Áurea, ainda temos que falar sobre racismo em pleno século XXI. Mas por que ainda é necessário falar sobre isso?

No Brasil, 54% da população é negra. Somos a minoria que é a maioria. Enquanto não tivermos as mesmas oportunidades iguais às de pessoas brancas, seremos considerados menores. Uma vez me ensinaram o teste do pescoço. É simples! Ao chegar em algum lugar, um estabelecimento, trabalho e afins, vire seu pescoço para o lado direito e esquerdo, depois conte quantas pessoas negras haviam ali, e digo pessoas na mesma condição que você, como um cliente em um restaurante ou em uma posição no board de uma companhia.

Mulher de perfil segurando galho de planta
Retha Ferguson / Pexels

Nossa cor chega primeiro em todos os lugares. Somos julgados diariamente pelo nosso tom de pele, pelo nosso cabelo (que não é moda). Muitas vezes o preconceito e racismo chegam por vieses inconscientes, que nada mais é do que aquilo que você aprendeu há muitos anos a dizer ou se portar e hoje apresentamos de forma mais explícita, como os dizeres: Lista negra, criado-mudo, a coisa está preta, e sabemos quando isso acontece, e acontece até mesmo por pessoas negras, mas a partir do momento em que você entende o que é errado e passa a não se expressar mais assim, já é um passo antirracista. Mas e você que está em uma posição de privilégio, o que faz pela comunidade negra? Já parou para pensar sobre isso? Contratar pessoas negras em posição de liderança, educar quando alguém tem um viés inconsciente, ser a favor das cotas raciais (dívida histórica).

Cresci sendo ofendida por alunos da mesma escola em que os professores diziam que ser chamada de macaca, churrasquinho queimado e cabelo duro era “coisa de criança” — anos 1990, e hoje ainda tem gente que faz as mesmas coisas.

Minha mãe sempre nos ensinou a nos vestir bem, falar corretamente para não notarem nossa cor. Uma vez me disseram que para uma mulher negra eu não era escandalosa, não falava alto e nem palavrão. Eu não tinha motivos para agir assim, mas, se fosse o caso, agiria, independente da minha cor.

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É assim que pessoas nos veem, briguentos, escandalosos, bandidos. Duvidam da nossa capacidade intelectual entre outros adjetivos. E não para por aí. Quantas mortes já ocorreram e ainda ocorrem por conta do racismo? Hoje as pessoas se sensibilizam com os casos que aconteceram recentemente, mas o genocídio da população negra está acontecendo há anos. Além de George, Ághata e João Pedro, quantos mais precisarão dar suas vidas para que de fato as pessoas sejam punidas e isso acabe? A lei está aí, mas para quem? E será que punir é de fato a maneira mais eficaz? O que falta, e sempre faltou, é a empatia, se colocar no lugar do outro e notar que não está bom do jeito que está. Queremos andar nas ruas sem ter medo de sermos parados pela polícia; queremos entrar em uma loja de shopping e não sermos confundidos com o vendedor; queremos usar nosso cabelo natural e não sermos julgados em uma entrevista de emprego, acima de tudo, queremos respeito, queremos viver. Hoje, temos a tecnologia a nosso favor, pois, neste sentido, quase tudo é gravado e o mundo pode ver o que sempre dissemos, mas nunca fomos ouvidos.

Sobre o autor

Beatriz de Andrade Silva

Psicóloga Clínica, orientada pela psicanálise freudiana, Mestranda em Psicologia Social (PUC-SP), especialista em diversidade nas organizações (PUC-SP), pós-graduada em direitos humanos, responsabilidade social e cidadania global (PUC-RS), pós-graduada em psicologia e desenvolvimento infantil, mentora de carreira (FGV) e pesquisadora das relações étnico-raciais. Atuei por oito anos no mercado financeiro, na área de gestão de pessoas, com foco em talent acquisition, treinamento & desenvolvimento. Na área social, sou voluntária em um coletivo que busca colocar a diversidade e inclusão em pauta e ação.
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