Tenho percebido, entre artistas, cantores, escritores, pintores, uma inquietação profunda e certa vulnerabilidade aos excessos. Muitos parecem viver em busca da “pedra filosofal”, esse símbolo místico de perfeição, eternidade e transcendência. Para eles, não basta apenas o talento, é preciso brilhar intensamente, ser eterno, alcançar o sucesso a qualquer custo. E, nesse caminho, muitos acabam se perdendo.
Há uma vasta documentação sobre esse tema. Filmes, séries, documentários e biografias que evidenciam essa inquietação constante e, muitas vezes, autodestrutiva. Basta assistir a qualquer produção biográfica para perceber como o excesso se torna um traço recorrente nas trajetórias artísticas.
Por que, afinal, tantos artistas parecem viver no limite? Essa foi à pergunta que me ocorreu ao assistir o documentário “Raul Seixas: Eu Sou”, da Globoplay, uma obra que escancara o preço cobrado por uma vida vivida com intensidade radical.
O caso de Raul Seixas não é isolado. Ele apenas simboliza uma geração, e talvez um padrão, em que a genialidade vem acompanhada de angústia e a liberdade criativa de descontrole. O mito do “artista incompreendido”, que precisa sofrer para criar, ainda alimenta comportamentos destrutivos.
Infelizmente, esse estereótipo tem raízes profundas. Desde os poetas românticos até as estrelas do rock, o artista é frequentemente associado à figura do rebelde, do transgressor, do ser fora dos padrões. Mas essa imagem, tão romantizada, pode custar caro: excesso de expectativas, de aplausos, de substâncias e, junto com isso, o peso silencioso da solidão, autodestruição, sofrimento, medo, angústia e dor.
Não se trata de moralismo. Trata-se de refletir sobre os limites entre a liberdade e o desequilíbrio. Por isso penso que a criatividade não exige autodestruição. Pelo contrário, ela floresce melhor quando o artista encontra algum grau de paz consigo mesmo.
Pense comigo. Quantos talentos se perderam cedo demais? Quantos artistas que admiramos precisaram ultrapassar todos os limites para serem ouvidos? E quantos mais ainda repetirão esse ciclo? Você não acha que esse padrão merece ser repensado? Será que a arte precisa mesmo nascer do sofrimento? E como podemos apoiar quem cria para que o talento floresça sem autodestruição?
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Talvez seja hora de rompermos com o mito do artista condenado a viver no limite. A arte não precisa ser forjada no sofrimento, mas pode nascer também do equilíbrio, da alegria, da saúde e da plenitude. Cuidar dos artistas, oferecer apoio emocional, políticas culturais inclusivas e ambientes criativos saudáveis é garantir que a chama da criatividade continue a iluminar sem se apagar precocemente. Que possamos aprender, enfim, a celebrar a vida tanto quanto celebramos a arte, porque é da vida, e não da autodestruição, que brota a verdadeira inspiração.