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O estado emocional e psíquico como fatores para o desenvolvimento na arte

David Pereiras Villagrá / 123RF
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Que tal, neste Dia Nacional das Artes (12/08), adentrarmos mais profundamente a arte para entender qual é o verdadeiro papel dela na formação de nosso ser nos aspectos sociais, intelectuais e até mesmo espirituais? Ao contrário do que muitas pessoas devem pensar, a arte não está presente somente para contribuir em estudos ou como um objeto cultural; ela está inserida em áreas da nossa vida que nem imaginamos, pois, apesar de grande parte das obras artísticas serem estéticas – possuem aparência física –, o segredo para sua apreciação é saber sentir o que elas querem realmente transmitir. Há uma estreita ligação entre arte e sensibilidade, uma vez que a arte contribui para o desenvolvimento da razão, da intuição, da emoção e do sentimento.

Embora no Brasil não esteja muito claro onde, quando ou quem criou o Dia Nacional das Artes, os artistas tiveram uma grande vitória com o Decreto de Lei nº 82.385, que regulamentou a Lei nº 6.533 de 1978, fazendo com que as mais de cem profissões artísticas, incluindo o próprio artista e técnico em espetáculos de diversões, entre as demais, fossem reconhecidas oficialmente no mercado de trabalho. Segundo nossa legislação, artista é o profissional que “cria, interpreta ou executa obra de caráter cultural de qualquer natureza, para efeito de exibição ou divulgação pública, através de meios de comunicação de massa ou em locais onde se realizam espetáculos de diversão pública”.

Portanto pode ser considerada arte o mais diversificado tipo de atividades, como o teatro, o cinema, a literatura e até o circo. Aqui focaremos apenas na pintura, esta forma de arte com a qual temos contato desde pequenos, quando estamos na escola e aprendemos os nomes dos pintores mais famosos do mundo. Mas será que eles ficaram reconhecidos internacionalmente e por gerações simplesmente por pintar quadros? É o que poderemos refletir a seguir, analisando as obras de alguns pintores como Da Vinci, Salvador Dalí, Van Gogh…

Mulher pintando.
Foto de Burst no Pexels

Já é de conhecimento geral que desde a Pré-História – ou Idade da Pedra, período em que a escrita ainda não havia sido desenvolvida pelos nossos queridos antepassados hominídeos –, aproximadamente 30.000 a.C., uma forma de arte já aparecia nas paredes das cavernas. Reconhecida posteriormente como Arte Rupestre, os terráqueos daquela época desenhavam aquilo que viam, ou seja, animais, a natureza etc. Acredita-se, inclusive, que já nesse período havia uma crença de magia por meio do desenho: os caçadores acreditavam que, se fizessem a pintura de um animal na parede, poderiam capturá-lo no dia seguinte.

É interessante pensar que, antes mesmo de qualquer conhecimento sobre deuses, santos e afins, lá na Idade da Pedra já se acreditava numa força maior por meio de imagens, não? Pensando que até hoje dezenas de religiões utilizam esculturas e quadros em seus cultos, é possível notar a forte relação que a arte possui com a espiritualidade, seja na antiguidade ou no mundo moderno. Isto, é claro, se contarmos apenas a forma de arte estética, desconsiderando a música, a literatura e tantas outras.

Leonardo da Vinci, que viveu entre 1452 e 1519, é um exemplo mais do que satisfatório quando o assunto é espiritualidade. Criador da obra A Última Ceia, que representa o momento bíblico em que Cristo compartilha sua última refeição com seus discípulos. Em um dos seus livros de apontamentos, Leonardo afirma que o objetivo principal da pintura, e também o mais difícil de ser alcançado, é retratar “a intenção da alma humana” por meio dos gestos e movimentos dos membros.

Jesus realizando a ceia com seus 12 apóstolos.
A Última Ceia – Leonardo da Vinci (1494-1498)

Apesar de, atualmente, Leonardo do Vinci ser considerado um dos pintores mais consagrados da história, além de ser tido como um gênio, foi apenas com esta obra que ele, com mais de 40 anos de idade, obteve fama e glória, depois de vários anos tentando ser reconhecido e falhando. Para o espanto de muitos, Da Vinci criou esta verdadeira obra prima em três anos – de 1495 a 1498 – e foi a mando de seu patrão – Ludovico Sforza, Duque de Milão –, que decidiu que queria que a cena religiosa particular de Jesus e os Apóstolos na Última Ceia fossem pintados. Mesmo pintando diversos quadros católicos, até hoje não se sabe ao certo se Leonardo seguia a religião católica.

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A Última Ceia, a propósito, é alvo, até hoje, de várias especulações e teorias da conspiração, tendo servido até mesmo como base para o livro O Código da Vinci, de Dan Brown, em que o autor apresenta uma história de ação, suspense e dados históricos para abordar a polêmica teoria “herética” de que Cristo teria sido casado com Maria Madalena, tendo gerado até mesmo filhos com ela. Sua linhagem sagrada, existente até os tempos atuais, seria o verdadeiro Santo Graal, e não um cálice, como diz a lenda mais tradicional – Santo Graal é uma expressão medieval que designa normalmente o cálice usado por Jesus Cristo na Última Ceia e onde, segundo a literatura, José de Arimateia colheu o sangue de Jesus durante a crucificação.

Assim como a misteriosa Mona Lisa, que ninguém sabe quem foi a modelo para o quadro ou se, na verdade, Mona Lisa é um autorretrato de Leonardo. Todas as teorias acerca do quadro religioso já foram estudadas por historiadores e teólogos e, embora recentemente novas descobertas e teorias tenham surgido, mesmo depois de mais de 600 anos, as obras de Leonardo Da Vinci continuam deixando pesquisadores e especialistas com dor de cabeça, já que apresentam tantos questionamentos e segredos. Contudo talvez estes segredos tenham ido ao túmulo com seu criador e nada mais podemos fazer a não ser especular.

Pintura da noite estrelada em uma cidade.
Noite Estrelada – Vincent van Gogh (1889)

Outro grande pintor considerado uma das figuras mais famosas e influentes da história da arte é o holandês Vincent van Gogh, que, por mais triste que pareça, não foi reconhecido até sua morte, em 1890. Além disso, o artista faleceu pensando que a pintura mais importante de sua vida, A Noite Estrelada, era um fracasso. A obra retrata a vista da janela de um quarto do hospício de Saint-Rémy-de-Provence, hospício em que o pintor se internou voluntariamente em 1889, após um colapso que resultou na automutilação de sua orelha esquerda. Diz a lenda que Vincent vendeu apenas um único quadro quando vivo e que van Gogh passou a vida atormentado pelas dúvidas, limitado por vários distúrbios comportamentais. Vincent produziu uma série de obras da vista do quarto do hospício.

Dotado de grande criatividade e sensibilidade, Vincent van Gogh disse: “Eu sonho minha pintura, e então eu pinto o meu sonho.” Após saber a história do pintor e o sentimento intrínseco nas obras, nos sensibilizamos pela arte e ela, enfim, conquista o seu objetivo de alcançar uma conexão que vai além do que nossos olhos podem ver.

Já mais perto de nossa época, Salvador Dalí fez história: nascido em 1904 e falecido em 1989, as obras deste artista fogem da realidade e, mesmo assim, transmitem e nos conectam a sensações reais, daquelas que não seríamos capazes de explicar ou interpretar, como se saíssem de nossos sonhos mais loucos. Quando mais novo, Dalí se recusou a fazer uma prova do curso de Belas Artes por achar que nenhum professor tinha competência para julgá-lo e foi expulso da escola; afinal, assim como uma personalidade excêntrica, seu trabalho chama a atenção pela incrível combinação de imagens justamente extravagantes e com temas “polêmicos”.

O Sono – Salvador Dali (1937)

Coincidência ou não, Salvador Dalí também já pintou um quadro denominado A Última Ceia. Uma de suas telas mais emblemáticos é o quadro O Sono, que ilustra uma cabeça mole e sem corpo aparada por muletas durante o repouso. O surrealismo, gênero artístico no qual Dalí se encaixava, dava muita importância ao período do sono, porque era durante esses breves instantes que se tinha acesso aos sonhos e ao inconsciente.

Acabamos por perceber que, muito mais do que auxiliar a externar sentimentos e/ou registrar momentos históricos e culturais, a arte torna possível a potencialização de capacidades humanas que não seriam analisadas de maneira tão eficaz por meio de nenhuma outra atividade existente. Quando nós, meros telespectadores ou mesmo artistas, somos influenciados por obras, entendemos a liberdade que a arte possibilita que façamos parte, pois a arte é livre e não pode ser imposta. Assim passamos a nos conhecer e, tomando essa consciência de nosso ser, desenvolvemos mais maturidade para diversos aspectos da vida.

Espera-se que cada vez mais a sociedade tenha este contato com a arte e, desta forma, inicie uma intensa conexão com os processos de criar, de ser, de viver.

Escrito por: Juliana Delgado Santos da equipe EuSemFronteiras

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