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Cabeça vazia: cogito ergo sum

Um boneco de madeira com um rosto desenhado está no foco da imagem. O boneco olha para cima, pensativo ou em dúvida. A parte de cima da cabeça dele está cortada, indicando ser um boneco ou homem de cabeça vazia.
A-poselenov / Getty Images / Canva
Escrito por Nina Veiga

Entre pensamentos acelerados e silêncios suspensos, o que sobra de nós quando a mente se esvazia? Será que deixamos de existir sem pensar? Ou a vida pulsa mesmo no vazio? Descubra como o nada pode revelar tudo. Continue a leitura!

“Sentei-me no banco à espera de ver as ideias passarem… cansei de esperar… cabeça vazia… volto outra hora…”

Um nadinha de nada de tempo e lá estou eu me ocupando. Invento tempos dentro de tempos para dar conta de viver a vida viva com a intensidade e a intempestividade que se apresenta na imanência dos acontecimentos. Agora mesmo, enquanto escrevo esse texto, cozinho o feijão, preparo uma aquarela-filosofia, fico atenta ao e-mail e à máquina de lavar centrifugando. Que isso implica? Às vezes, emissão de multiplicidades, de vidas simultâneas, outras vezes, tempos inexatos, suspensos, atemporalidades.

Uma árvore está no foco da imagem. O vento bate e as folhas da árvore voam. O céu está cheio de nuvens. A imagem está em preto e branco.
Wildpixel / Getty Images Pro / Canva

Vez ou outra, a cabeça fica a mil, outras vezes, esvazia. Tem hora que as demandas do cotidiano frenético são tantas, que a cabeça entra em stand by. Sabe como? Tipo aquela luzinha que fica acesa quando a TV está desligada, esperando um sinal para voltar a trabalhar. Às vezes que tenho ficado assim, suspensa, têm aumentado. Ando de olho espichado para o vazio do horizonte. Cabeça vaziiinha, nadinha de lembrança, nadinha de questões, nadinha de nadinhas. Nessas horas, para onde vai o pensante em nós? Sem o “eu penso, logo existo”, o tal do “cogito ergo sum” tão significativo no cartesianismo, onde fico? Se pensar é meu existir, deixo de existir quando, suspensa no a-tempo, não penso? Mesmo que seja por uma pequena porção de chronos, o pensar deixa de ser no ser.

Com isso, reforça a minha desconfiança de que o “eu penso” não seja tão central assim. Quem ocupa o quem quando o pensamento desocupa? Quem se apresenta quando o tempo deixa de ditar seu tique-taque? Sei não. O que acontece quando se fica à espera dos pensamentos e eles não vêm? Alguém espera, alguém não pensa, alguém volta outra hora. Alguém, alguém, alguém… Quem? Se a teoria cartesiana servisse para um mundo de vida-viva, o tal “cogito ergo sum” seria mais ou menos assim: “omnia vivunt quidem cito”, pela tradução googleana, alguma coisa como: “tudo vive logo é”. Afinal de contas, tudo vive, até o pensamento. Como tudo, também somos, logo…

Sobre o autor

Nina Veiga

A artemanualista e ativista delicada Nina Veiga é doutora em educação, escritora, conferencista. Sua pesquisa habita o território da casa e suas artes, na perspectiva da antroposofia da imanência. É idealizadora e coordenadora do coletivo Ativismo Delicado e das pós-graduações: Artes-Manuais para Educação, Artes-Manuais para Terapias e Artes-Manuais para o Brincar. Desenvolve trabalhos de formação de artífices e escritores. Suas oficinas associam o saber teórico-conceitual às artes-manuais como modo de existir e à escrita como produção de si e do mundo.

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