Comportamento

Chegamos na era dos Jetsons?

Desenho em formato de quadrinho de homem usando máscara, despejando álcool gel em suas mãos, em frente a um computador.
123rf/noravector
Escrito por Elô Ribeiro

Em minha infância, nos anos 1980, era comum assistir a esse desenho animado, dos anos 1960, “mega” moderno de carros espaciais e interfaces, os Jetsons de Hanna-Barbera. Recentemente divulgaram nas redes sociais a total semelhança da quarentena com o cotidiano dessa família composta de George Jetson, que trabalhava em home office; a esposa Jane, que praticava exercícios físicos; o menino Elroy, que era assistido por um médico via online; e a adolescente Judy, que falava com seus amigos da Escola Secundária Orbit por uma câmera. É lógico que há as suas diferenças com Orbit City, entretanto, ironicamente, viver em uma “Era Espacial”, o que parecia ser divertido, tem sido um grande desafio para o mundo.

Isolar-se pode ser desafiador, primeiro porque temos de conviver por mais tempo com uma ou mais pessoas que também tem a sua agenda de horários e que passa obrigatoriamente a ter de compartilhar uma boa parte do tempo dela conosco; segundo que muitas vezes vivemos sozinhos e temos que lidar com a nossa própria companhia, o que é mais complicado ainda, se passamos a ser mais autocríticos.

Mulher sentada em sofá, usando máscara no rosto. No colo dela, um bichinho de pelúcia também está com uma máscara, igual a que a mulher usa.
Pexels/Polina Zimmerman

Ninguém é antissocial como se projetava

O ser humano está acostumado a viver em sociedade, seja porque na noite é o famoso “arroz” de festa, ou porque é mais introvertido e gosta de sair pelas manhãs para praticar alguma atividade ao ar livre, ou porque tem contato com o seu ambiente de trabalho e consequentemente com os seus colegas e público.

Todos nós temos famílias, contatos ou ao menos um amigo… e o fato de não podermos interagir fisicamente é algo forte para a cultura latino-americana. Faz parte de nossos costumes: beijar o tempo todo, abraçar, sentir… E, como já não bastasse, a guerra invisível na qual nos assola, a internet, que deveria ser um meio de entretenimento, tem sido bombardeada por notícias negativas e alarmantes, desabafos políticos, confissões de ódio, tristezas e indignações. É óbvio que é um meio de comunicação na qual as pessoas têm o direito de se expressarem, no entanto, muita gente se encontra sensível e isso gera más interpretações, agressões verbais, amizades conflitivas etc. Por isso, devemos trabalhar a nossa paciência de cada dia e saber selecionar determinados aplicativos e redes ao nosso benefício.

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Há também a famosa frase: “Quem tá dentro quer sair e quem tá fora quer entrar.” Quem está em casa, e tem o privilégio de trabalhar em home office, reclama de sua condição laboral (de trabalhar mais horas do que o previsto), e quem precisa sair para trabalhar fora também reclama dos riscos de saúde que lhe assola.

Fique em casa

Se você é do grupo que pode estar em casa: É óbvio que cada um tem uma reação distinta. Há pessoas que não sentem vontade de fazer nada, permanecem ou se tornam sedentárias, e ficam o dia todo em seu sofá ou sua cama aproveitando todos os benefícios da TV e geladeira; há outras que mesmo tendo a oportunidade de trabalhar em home office se deprimem tanto que procuram falar o tempo todo com uma ou várias pessoas de seu ciclo, seja via WhatsApp ou Skype, para não surtar; há também as hiperativas que veem o tempo “de sobra” como uma oportunidade. Elas procuram fazer um ou mais cursos online, praticam exercícios físicos, leem livros que haviam comprado — e que por algum motivo estavam pegando poeira na prateleira porque nunca tinham esse precioso tempo de folheá-los —, em seguida, elas usam e abusam do YouTube procurando aprender ócios que talvez nunca tivessem passado por sua cabeça como: aprender a tocar um instrumento musical, acompanhar YouTubers que ensinam a arte da carpintaria, da costura, da culinária, enfim, procuram fazer uma infinidade de coisas que podem vir a serem muito úteis ou até mesmo esgotadoras (eu passei por isso e fiquei muito cansada), pois o tempo que deveria ter sido aproveitado, acabou ficando sobrecarregado. Já não sabia mais o horário que deveria despertar ou ir dormir. Sem esquecer de quem tem Pets em casa ou filhos ainda pequenos ou pré-adolescentes, além daquele familiar dependente — seja ele autista ou necessitado de algum cuidado específico em que a dedicação deve ser redobrada e o cansaço maior também por tal esforço.

Fique bem

Logo, independente de sua condição, procure administrar o seu tempo. Sei que é difícil a gente se monitorar o tempo todo e, em especial, o de nossa família ou parceiro(a), mas é importante manter uma boa alimentação, praticar algum esporte, ler algo que nos faça bem, que acrescente algo de positivo na gente, procurar fazer atividades em família (como os antigos e famosos jogos de mesa tão populares nos anos 1980 ou 1990), quem nunca jogou mímica ou UNO? Ou se você está sozinho(a), por que não convidar por videochamada para um cafezinho e bater um papo descontraído alguém especial ou um grupo de amigos mais íntimos?!

Recorde-se que desabafar é bom, mas virar rabugento é outra coisa. Ninguém gosta de alguém do lado ou via online que fique o tempo todo criticando. Pense nisso! Tenha empatia com os outros. Lembre-se de que eles estão passando pela mesma época difícil que você, independente da situação de cada um, alguns já até perderam alguém próximo ou até estão preocupados por estarem longe geograficamente de seus seres queridos. Então, aproveitemos e tornemos possíveis todas as alternativas de interações saudáveis.

Antes e depois da quarentena: é tempo de se reinventar!

Homem deitado em sofá, usando máscara no rosto, e digitando em um celular.
Pexels/Polina Zimmerman

Não exija demais de você mesmo(a): se você planejava algo antes da quarentena, e não conseguiu cumprir, pense que é uma tempestade que vai passar, não se frustre pelos planos que ficaram estagnados, aproveite esse período para reformular sobre os seus projetos futuros. É tempo de transmutar. Uma lagarta leva um certo período para fazer a metamorfose e renascer numa linda borboleta; uma grávida leva meses para esperar o seu grande amor e, mesmo ansiosa, ela sabe que é importante esperar para que o feto se desenvolva bem; a casa dos sonhos leva anos para ser comprada ou construída; uma fruta madura é muito mais saborosa que degustada antes da colheita, ela pode estar verde e ácida ainda.

É tempo de refletir sobre os sabores e dessabores que causam o dissabor da vida, de se renovar, de aprender a perdoar não somente os outros, mas a si mesmo(a). Depois da quarentena, nada está perdido; e o que não era para ser, não será… pense que será melhor! Reinventar-se é a nossa palavra-chave de hoje.

Sobre o autor

Elô Ribeiro

Licenciada em letras, especializada em língua espanhola, leciona desde 2004 para jovens, adolescentes e adultos.

Carioca, mora há oito anos na Argentina e trabalha como docente universitária na disciplina de língua portuguesa para estudantes hispano-falantes.

Amante da literatura, adora literatura latino-americana e gosta de escrever em seu tempo livre. Ama viajar e compartilhar experiências sobre culturas distintas e tudo que esteja relacionado ao universo feminino.

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