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Como aproveitar a bicicleta nos grandes centros?

Homem sentado numa bicicleta.
Tobias Cornille / Unsplash
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Alguns países, como a Dinamarca e a Holanda, incentivam o uso da bicicleta como meio de locomoção, inclusive, implantando ciclovias, estacionamentos específicos e seguros, sinalizações apropriadas, a integração com outros meios de transporte e a conscientização para que o público faça uso desse recurso que, além de apresentar baixo custo, significa ganhos na qualidade de vida, sendo ainda ecologicamente correto. Mas, é possível fazer uso da bike independentemente de ter uma ciclovia, à noite e evitando possíveis acidentes? Descubra lendo este artigo!

Por que adotar a bicicleta como meio de locomoção?

Diariamente, as pessoas enfrentam problemas para se locomoverem nas áreas urbanas, porque o sistema de transporte público é centrado nos automóveis. Os custos com infraestrutura são enormes e tem efeitos indesejáveis para toda a população. Além disso, a emissão de poluentes e gases de efeito estufa resultam na degradação da qualidade do ar, interferem para aumentar o aquecimento global e provocam problemas de saúde. Há ainda o estresse gerado pelos congestionamentos e acidentes de trânsito, que atingem taxas alarmantes no Brasil.

Em adição, os transportes públicos, além de serem insuficientes no sistema como um todo, custam caro aos usuários menos favorecidos. Isso sem contar que o acesso ao lazer, à saúde e à cultura se torna também deficitário. Diante desse cenário, a bicicleta representa uma estratégia simples e funcional, que atende às questões de melhor qualidade de vida tanto individual quanto coletiva. Veja por que aproveitá-la nos grandes centros urbanos como meio de locomoção.

Ajuda a preservar a saúde

Pedalar é um ótimo exercício aeróbico, indicado para evitar doenças cardiovasculares, promover resistência física, aumentar o condicionamento físico e tonificar o abdômen. E ainda deixa as pernas torneadas. Também favorece a saúde mental porque estimula a liberação de endorfina, hormônio que ajuda a reduzir o estresse e promove a sensação de felicidade e de bem-estar. Além disso, permite ampliar a percepção, por meio da observação de paisagens naturais e de aspectos do percurso que passam despercebidos com outros meios.

A pesquisa “Viver em São Paulo – Mobilidade Urbana”, de 2018, conduzida pelo extinto Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) a pedido da ONG Rede Nossa São Paulo, apontou que um paulistano gasta em média 2h43 para se deslocar diariamente na cidade, uma rotina bastante estressante, que pode ser melhorada com o uso da bike.

Produz economia de tempo

Mulher branca numa bicicleta.
Ross Sneddon / Unsplash

As pessoas que fazem uso da bicicleta para transitar na cidade economizam mais tempo porque não ficam reféns do tráfego lento ou de congestionamentos, podendo desviar com facilidade de pontos paralisados. Para se ter uma ideia, a cada quatro trajetos percorridos de carro, um seria mais rápido se feito pedalando. E, no caso dos percursos com ônibus, essa proporção é ainda mais impressionante, sendo que, a cada dois itinerários feitos com o uso do coletivo, um é mais rápido se for realizado a pedal, conforme aponta o relatório Impacto Social do Uso da Bicicleta em São Paulo, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) e pelo Banco Itaú Unibanco, resultado de uma pesquisa realizada em 2017.

Representa economia financeira

O mesmo relatório aponta uma economia individual significativa para quem opta por pedalar, em vez de fazer o mesmo trajeto de carro, sendo semelhante para aquele que utiliza transporte público na cidade de São Paulo – por exemplo, ônibus. Além disso, a bicicleta, mesmo com preços variáveis, tem um baixo custo e exige pouca manutenção durante o ano.

Mas é no âmbito coletivo que a economia se torna ainda mais significativa, pois reduz o impacto nos custos empresariais e nos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS), atualmente ponto de atenção devido aos adoecimentos agravados pelo estresse e pelo sedentarismo.

Contribui para um meio ambiente mais ecológico

Ao escolher a “magrela” para se locomover, você não gera poluentes ou ruídos e, portanto, ajuda a construir um planeta sustentável, mais favorável à vida de todos. Também contribui para reduzir os índices de doenças e mortes causadas por problemas respiratórios com causas ligadas ao meio ambiente.

Para se ter uma ideia, o número crescente de automóveis circulando nas vias urbanas acarreta uma maior emissão de gases como dióxido de nitrogênio, de carbono e de enxofre, hidrocarbonetos e material particulado. Além disso, eles podem provocar danos à vegetação e contaminação do solo e da água, em função de possíveis vazamentos de combustíveis fósseis.

Em outras palavras, você adota um meio de transporte verde. Inclusive, se fizer os mesmos trajetos diariamente, também se aproxima das pessoas da região, que se acostumam com sua rotina.

Amplia o senso de comunidade

Mulher negra numa bicicleta.
nextbike / Unsplash

Ao mesmo tempo que pedalar é uma atividade individual, ela traz o senso de comunidade, porque você acaba conhecendo clubes e associações dos amantes desse meio de locomoção. Nesses locais, além de saber o que existe de mais avançado no assunto, você cria vínculos.

Fortalece a independência pessoal

Se você é uma pessoa que gosta de escolher a rota para ir ao trabalho, estudar ou passear, ou deseja conhecer e apreciar melhor a cidade, a bicicleta oferece essa independência. Inclusive, com ela, você não tem problemas para estacionar e também não se restringe aos horários do transporte público.

Você imprime o seu próprio ritmo no trajeto que desejar e estabelece a sua dinâmica de acelerar, desacelerar, parar, descansar e continuar, ao ar livre, melhorando sua adaptabilidade e usufruindo o ambiente com todas as suas variáveis.

Dispõe de versatilidade

Você não terá problemas em escolher sua bicicleta! Além de diversas marcas, preços, modelos e materiais, ela tem tipos que respondem a cada necessidade, para trajetos mais longos ou de percurso íngreme, por exemplo. E, caso você não disponha de uma ou, ainda, a deseje apenas para parte do percurso, há empresas, como a Yellow, que oferecem o serviço de locação em diversas cidades.

Como usar a bicicleta nas vias urbanas?

Algumas cidades brasileiras, por iniciativa pública, com o apoio de ONGs e do setor privado, vêm cada vez mais pesquisando e analisando a viabilidade de inserir meios de locomoção e de transporte sustentáveis e independentes de combustíveis fósseis nos seus sistemas de mobilidade, sendo um deles a bicicleta.

Contudo há muito que fazer: desenvolver ciclovias, sinalização, pontos de apoio e de segurança para ciclistas, integração com outros meios e conscientização da população e de motoristas para que haja muito respeito e apoio aos adeptos do pedal.

Embora as bikes estejam ganhando as ruas, infelizmente vemos nos noticiários de TV, acidentes envolvendo ciclistas, sendo alguns fatais. Por isso, é fundamental se prevenir e adotar medidas para aproveitar o melhor que a “magrela” oferece, sem correr riscos. Saiba como proceder.

Escolha a bicicleta apropriada

É uma questão de segurança e de conforto ter uma bicicleta que se ajuste ao seu tamanho. No mercado, há vários modelos, de vários materiais, com muitas ou poucas marchas. Para uso diário, as bikes urbanas são as mais recomendáveis. Porém, mesmo elas, que são mais leves, mais baratas e exigem menos manutenção, precisam ter o tamanho certo para que não interfira negativamente no equilíbrio (se for muito grande) ou acabe provocando dor nas costas e nos joelhos (se for muito pequena). Então escolha aquela que tenha o quadro de acordo com sua altura. Aliás, ele também é responsável pelo desempenho da pedalada e afeta a distância entre o banco e o guidão.

Homem branco andando de bicicleta.
 Kaur Martin / Unsplash

Outro ponto importante é o tamanho do aro, que é a medida do diâmetro interno do pneu, em polegadas. Aqui, vale lembrar que rodas maiores (aro 29”, por exemplo) dão mais velocidade, se adaptam aos terrenos acidentados e trechos sem pavimentação e são estáveis. Já os aros menores são menos estáveis, menos velozes, porém dão leveza e praticidade, além de serem bons para vias com asfalto. Essa medida também se relaciona com a estatura do usuário da bike.

A atenção especial diz respeito aos freios, que podem ser a disco (mecânico e hidráulico) e V-brake. O sistema a disco é mais seguro nas velocidades maiores e nas superfícies molhadas, disponível nas melhores marcas de bicicletas urbanas. Contudo o tipo V-brake tem custo inferior e é bastante comum nos modelos para cidades.

Ainda, as bicicletas urbanas apresentam até 27 marchas. Mas, para os deslocamentos diários, entre 7 e 9 são suficientes para promover menos esforço e tornar a pedalada mais fácil. Também é importante que o câmbio tenha uma boa qualidade, para que as manutenções não sejam tão frequentes.

Principalmente para quem vai pedalar em locais sem asfalto ou em ruas esburacadas, há modelos que possuem suspensão, o que ajuda a amenizar os impactos tanto no selim (banco) quanto no guidão. Porém os amortecedores exigem lubrificação e manutenção para que o sistema esteja funcionando bem e tenha vida longa.

Da mesma forma, um selim mais largo, acolchoado e com molas garante conforto em trajetos mais longos ou em vias pouco pavimentadas, irregulares ou acidentadas. E, se tiver ajuste de altura, melhor ainda!

Quanto ao guidão, há vários modelos no mercado: curtos, longos, retos e curvos. Se o trajeto for grande, prefira os mais longos e os mais retos, que são mais versáteis. Além disso, a manopla (local onde se coloca cada mão para guiar) deve ser confortável e oferecer boa aderência. Materiais como espuma e borracha são os mais apropriados. Vale lembrar que essa parte é fundamental para dar controle sobre a direção.

Além de tudo isso, é uma questão de atendimento ao Código Brasileiro de Trânsito que a bicicleta tenha os itens obrigatórios, como campainha, sinalização noturna (refletores) dianteira, traseira, lateral e nos pedais, e espelho retrovisor do lado esquerdo.

Adote uma atitude minimalista

É importante sempre ter como foco, em primeiro lugar, a segurança tanto de quem guia como dos demais. Se você não tem prática, evite dar carona na garupa da bike. Alguns fabricantes de bicicletas incluem acessórios como: para-lamas e protetores de corrente, que impedem de sujar a roupa com respingos; descanso, que permite que o veículo fique em pé, sem precisar estar apoiado na parede; e garupa e cesta, para transportar objetos e sacolas. Mas nada de exageros! Carregue poucos e pequenos objetos.

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Use o vestuário adequado

Pedalar é um exercício que faz o corpo transpirar. Dê preferência aos tecidos naturais ou tecnológicos. Tenha uma mochila com roupas para serem trocadas quando chegar ao destino. Inclusive, o vestuário mais apropriado para circular com a bicicleta deve ser claro, confortável, que permita visualização daquele que guia. Se for possível use peças reflexivas ou de cor neon – elas garantem maior segurança.

O calçado apropriado para quem pedala é o tênis. Então, se você vai para o trabalho e deve usar sapato social ou salto, leve-o na bagagem para substituir ao chegar. É fundamental que haja segurança e conforto.

Além disso, tanto para os dias mais frios quanto para os dias mais quentes, é fundamental que as roupas estejam adequadas ao clima. Afinal, a temperatura do corpo está relacionada com o bem-estar, rendimento e desempenho nas pedaladas.

Utilize equipamentos de proteção individual

Todos os ciclistas, independentemente do tipo e da distância do trajeto, devem fazer uso de capacete e de luvas. Entretanto, à noite, é indispensável usar luzes e refletores na bicicleta e no vestuário para se tornar visível aos motoristas que, em sua maioria, não se habituaram a perceber os ciclistas nas vias. No caso de ruas sem ciclovias, o cuidado deve ser redobrado, pois o perigo é ainda maior.

Para dias chuvosos, é importante ter uma capa de tecido leve, preferencialmente em formato triangular, do tipo poncho. Evite as roupas de tecidos impermeáveis e emborrachados, que funcionam como uma “sauna” e acabam deixando o corpo molhado de suor.

Jovem branca numa bicicleta.
 Murillo de Paula / Unsplash

Pense ainda sobre adquirir uma antena protetora contra linha de pipa com cerol. Esse é um dos motivos de acidentes que podem ser fatais para motociclistas e também para ciclistas. Acoplada ao guidão, ela evita que principalmente a região do pescoço seja atingida.

Proteja a pele e hidrate-se

Pedalar expõe o corpo às intempéries, o que, ao mesmo tempo em que traz boas sensações, também pode prejudicá-lo. No caso da pele, para evitar a ação dos raios solares, use protetor solar. Ainda, inclua no planejamento da rota um momento de parada para se hidratar. Esse comportamento é essencial para trazer conforto e também prevenir efeitos perigosos da desidratação, como confusão mental e desmaios, que podem provocar acidentes.

Pedale em companhia

Principalmente à noite ou em locais mais afastados, evite transitar de bicicleta sem a companhia de outros ciclistas. Há grupos que apoiam os novatos, orientam rotas comuns, oferecem informações importantes e se tornam amigos. Se você pretende adotar a bicicleta como meio de locomoção, busque ajuda. O site “Quero ajuda para pedalar” é uma alternativa.

Se vai usar bicicleta na mobilidade urbana, siga as regras

Nada adianta uma boa bicicleta, bem sinalizada, com manutenção em dia e você com vestuário e calçados adequados se a sua conduta não for favorável e coincidente com o que se espera de alguém que adotou esse tipo de mobilidade urbana, tão importante e respeitosa com a vida e com o ambiente. Então, conheça a legislação vigente que regulamenta o trânsito de bike nas vias públicas. O Código de Trânsito Brasileiro estabelece, entre outros itens, que o ciclista:

  • Tem prioridade sobre os veículos automotores, mas não sobre os pedestres.
  • Deve transitar na lateral das pistas, nas vias urbanas e rurais, quando não houver ciclovia, ciclofaixa, acostamento ou se for impossível a utilização destes, no mesmo sentido da circulação regulamentada para a via de automotores. É importante não pedalar próximo das calçadas e na contramão.
  • Somente deve pedalar nas calçadas quando houver determinação da autoridade de trânsito.
  • Tem o direito de ultrapassar pelo corredor de automóveis, porém deve preferir seguir atrás destes, se eles estiverem em movimento, como se fosse um outro veículo, de modo a garantir visibilidade e preservar a própria segurança.
  • Deve sinalizar (com o braço) todas as vezes que for mudar de direção ou decidir fazer uma ultrapassagem.
  • Deve dar preferência aos pedestres na travessia de ruas, mantendo sempre a atenção.

Para finalizar, adotar a bicicleta como meio de locomoção nas vias urbanas significa preservar a saúde física, com um exercício relativamente fácil e muito prazeroso. Também representa manter a saúde mental, eliminando o estresse gerado pelos congestionamentos e pelo tempo gasto na utilização do transporte público. Ao mesmo tempo, apoia a coletividade, pois ajuda a reduzir a emissão de poluentes no ar, os quais contribuem para o efeito estufa e para o aumento do aquecimento global. Logo, aproveitar esse veículo nas cidades envolve pertencimento social e a construção de um mundo sustentável. Então, por que não adotar esse comportamento? Comece! Se você já tem engajamento, parabéns! E continue. Seja um exemplo de exercício da cidadania!

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Eu Sem Fronteiras

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