Claro que esse amor foi rotulado com muitos preconceitos, pois naquela época era quase impossível deixar de ser padre (o meu pai foi para o seminário aos 12 anos e ficou lá, na guerra, até se formar padre), então decidiram escolher o Brasil para o começo de uma nova família. Saíram da Itália para enfrentar um novo país e uma nova língua, além da nova realidade: a do casamento e a responsabilidade de formar uma família.
Nasci em 1963, e fui muito bem recebida pelo meu pai, para ele, foi como um milagre, a vida se manifestando. Afinal, nunca tinha sonhado em ser pai, e ali estava eu, a materialização desse sonho. Preciso incluir também a minha irmã, chamada Marzia, segunda filha da minha mãe, fruto de um relacionamento com um amigo querido, mas que por escolha a minha mãe deu em adoção e foi entregue a uma família, para ser criada.
Minha educação espiritual começou no berço, me lembro que o meu pai comprou uma bíblia ilustrada e que contava desde cedo as histórias de Moisés, Sansão e Dalila, na verdade, Giorgio nunca deixou de ser missionário, quando mudamos, em 1968, para o Condomínio Central Parque Lapa, ele foi bater de porta em porta para fazer uma comunidade por lá, conseguiu fazer uma capela, com restos de uma feira no Anhembi, e assim continuou a sua missão. Vivi todos os rituais católicos, gostava de tocar na igreja e participava do grupo de jovens. Não entendia a dureza do coração da minha mãe, a minha criança sentia muita falta do amor de mãe, pois eu a amava com todo o meu coração, e não compreendia. Meu pai, ao contrário, me amava com toda a sua alma. Giorgio era doente, tinha tido 3 enfartes, seu coração era 70% defeituoso (segundo o cateterismo feito), pois era maior que o tamanho comum e não funcionava bem.
Aos meus 14 anos, em 1977, o meu pai fez aniversário e, pela primeira vez, a família se reuniu para comemorar na casa de uma amiga querida em São José dos Campos, foram todos, inclusive a Marzia, a minha irmã que foi dada em adoção tinha vindo ao Brasil para conhecer a sua mãe biológica. Essa amiga fez um almoço árabe e, para fazer os kibes, foi em um matadouro perto da cidade para comprar a carne especialmente para a festa. Todos os que comeram o kibe cru, ficaram doentes. E como o meu pai tinha uma saúde frágil, teve desidratação e muitas complicações por causa da saúde já fraca, infelizmente, ele veio a falecer…
Acompanhe a minha história nos próximos artigos:
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