Autoconhecimento

Da cicuta ao cancelamento: o medo da verdade através dos tempos

Homem e menino negros conversando.
digitalskill / 123rf
Escrito por Alex Gabriel

O grande Sócrates (469-399 a.C.), divisor de águas na filosofia ocidental, mesmo diante da possibilidade de condenação à morte, manteve-se firme em seus princípios, embora tivesse nas mãos a possibilidade de renegá-los, salvando a própria pele.

A “Apologia de Sócrates” nos deixa bem claro que, apesar dos mil e um “crimes” atribuídos ao filósofo, havia outro, muito mais sutil e jamais expressado, que explicava todo o ódio infundado contra ele: Sócrates, como tantos outros que por aqui passaram, cometeu o terrível crime de colocar as pessoas de frente com aquilo que elas realmente eram. A humanidade jamais tolerou esse tipo de gente; jamais suportou lidar com aqueles que, humildemente e por meio de simples palavras, revelou-lhes sua sombra, suas misérias e sua hipocrisia.

Sócrates, por amor aos seus princípios, ingeriu cicuta. Algum tempo depois, um outro cara, muito conhecido nosso, foi crucificado também pelos seus ideais, ensinamentos e amor incondicional pela humanidade. E algo semelhante aconteceu com Giordano Bruno, Martin Luther King e tantos outros.

Homens brancos conversando.
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Mas o que nós temos com isso? Bom, tudo. A experiência desses grandes homens, além de nos inspirar a sermos nós também firmes defensores dos nossos princípios mais elevados, nos ensina que todo o ódio, toda a intolerância que endereçamos ao outro revela, simplesmente, a resistência à nossa própria verdade.

Não mais envenenamos com cicuta, é verdade. Tampouco crucificamos ou condenamos à fogueira. Submetemos, porém, à cruel inquisição das redes sociais, à humilhação e ao famigerado “cancelamento”, tão em moda atualmente. A voz do outro precisa ser calada sempre que representa uma ameaça às nossas “verdades” de estimação: ideologias, preconceitos e tudo que o nosso ego toma como referência. O comportamento é o mesmo. Sofisticamos os nossos métodos, mas as nossas ações continuam a ser as de séculos passados. Seguimos condenando à morte aqueles que nos colocam diante do espelho…

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Há de ser por isso que Giordano Bruno (1548 – 1600), ao ser obrigado a ouvir a sua sentença de joelhos, proferiu as seguintes palavras: “Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao escutá-la”. É que a intolerância sempre revela o medo da própria sombra, e enquanto não nos conscientizarmos disso seguiremos tentando matar no outro aquilo que tanto tememos em nós.

Sobre o autor

Alex Gabriel

Mineiro de Belo Horizonte, Alex Gabriel é graduado em Letras e especialista em Revisão de Textos pela PUC Minas. É poeta, pai adotivo das vira-latas Diva e Nathalie, tem sempre um bom livro a tiracolo, acredita na Educação e vive cheio de fé na humanidade.

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