Comportamento Saúde Mental

Desamparo Aprendido: como lidar com esse comportamento

Um homem escorando sua cabeça na sua mão. Ele está sentado no chão.
Angela Holmyard / Shutterstock
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Você já sentiu ou ouviu alguém dizer algo do tipo: “Não tem mais jeito para mim” ou “é impossível mudar essa situação em que estou”? Pois saiba que afirmações assim podem ser sinais do que a psicologia chama de desamparo aprendido.

Muito semelhante aos sintomas do transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e aos sintomas do próprio sentimento de ansiedade ou de angústia, o desamparo aprendido tem alguns processos diferentes. Especialmente os sintomas físicos.

Então confira o artigo que preparamos sobre esse assunto e fique por dentro desse problema bastante sério de saúde física e mental!

O que é desamparo aprendido?

Uma mulher triste segurando um rolo de papel higiênico.
Liza Summer de Pexels / Canva

Em resumo, o desamparo aprendido ocorre quando uma pessoa repete estímulos (ações, atitudes, situações etc.) que geram sofrimento a ela, tornando difícil evitar essas situações. Ou seja, aos poucos, cria o efeito distorcido de que é impossível não sofrer por causa daquelas situações, então o próprio corpo começa a sofrer.

E o que é o desamparo na psicanálise?

Os psicanalistas acreditam que, exposto a tantos estímulos negativos e nenhuma esperança ou esforço de melhora, o organismo simplesmente se entrega. Isto é, ele fica indefeso e assume uma postura de desistência.

De quem é a teoria do desamparo aprendido?

Em suma, a teoria do desamparo aprendido foi criada pelos psicólogos norte-americanos Martin Seligman e Steven Maier, no final da década de 1960. A tese foi resultado de um estudo que eles fizeram sobre o comportamento de cães expostos a eletrochoques.

O experimento consistia em colocar dois grupos de cães em duas jaulas diferentes. Na primeira jaula, eletrochoques fracos mas incômodos aconteciam de tempos em tempos; na segunda jaula, a mesma coisa acontecia, mas havia um botão que os cães poderiam apertar para encerrar os eletrochoques.

Depois de algum tempo mantidos nessas jaulas, os grupos foram trocados. O grupo que aprendeu a usar o botão, quando era exposto aos choques que não podiam ser interrompidos, na primeira jaula, se inconformavam e buscavam um jeito de interrompê-los, a ponto de quebrarem a jaula e fugirem.

Já o grupo da primeira jaula, quando foi para a segunda, onde havia o botão que interrompia os choques, estava tão acostumado ao sofrimento e ao conformismo ao sofrimento que nem mesmo tentavam impedir ou interromper os choques. Enfim, eles simplesmente aceitavam o incômodo.

Portanto daí veio a ideia do desamparo aprendido: quando expostos a um sofrimento contínuo e aparentemente sem fim, aprendemos a pensar que qualquer situação desagradável não terá fim: desamparo aprendido.

O que é o sentimento de desamparo?

Segundo o dicionário Oxford, a palavra “desamparo” pode ser usada como sinônima para “abandono”, o que introduz o seu significado. Todavia estar desamparado é algo além. Ainda de acordo com o dicionário, desamparo é “estado daquilo que ou de quem se encontra abandonado, privado de ajuda material e/ou moral”.

Uma mulher sozinha em meio a um rio congelado.
Elisabeth Eidjord de Getty Images / Canva

Então podemos aprofundar o significado de que estar desamparado é não estar apenas em sofrimento, mas em sofrimento solitário (abandonado) e privado de ajuda e do que é necessário para sair daquela situação.

É o que sentimos diante de situações nas quais sofremos uma decepção, uma perda, uma queda, um tropeço e nada nem ninguém surge para nos ajudar — ou até mesmo tenta, mas não pode nos ajudar.

Como podemos desenvolver esse tipo de comportamento?

Assim como o nome explica, esse comportamento é aprendido, ou seja, o nosso organismo se habitua a ele de acordo com as experiências pelas quais passamos. Portanto é uma postura que desenvolvemos ao longo do tempo. Vamos entender:

Um exemplo: todos os dias você sofre dores horríveis no estômago, então percebe que sofre essas dores depois de almoçar às 13h. Porém todos os dias às 13h você está com fome, então parece inevitável almoçar neste horário e, consequentemente, inevitável sofrer as dores horríveis no estômago.

Parece simples de resolver, não é? Você pode pensar que basta almoçar às 12h ou às 14h, ou mesmo tomar algum medicamento, mas pense em uma pessoa que passou por essa mesmíssima situação de almoçar às 13h e sofrer dores nos últimos 10 ou 15 anos, sem nunca ter visto ou pensado numa solução.

Vai parecer insolucionável, não é? Portanto é assim que começa o comportamento de desamparo aprendido: nossos sofrimentos são tão intensos e tão frequentes que nos dão a ideia de que não há mais nada que possamos fazer para evitá-los ou combatê-los, como se sofrer fosse até mesmo nosso destino.

Contudo isso é uma visão distorcida. Como diz o ditado: “A única coisa para a qual não há jeito é a morte” — e olha que às vezes até pra ela há jeito! Portanto é possível combater o desamparo aprendido, e falaremos mais sobre isso nos próximos tópicos.

Principais sintomas do desamparo aprendido

Podemos citar exemplos de desamparo aprendido, de situações nas quais ele acontece. Por isso, para nos ajudar a fazer isso, vamos passar por alguns sintomas desse problema.

Uma mulher triste sentada num sofá.
Liza Summer de Pexels / Canva
  • Aceitação: “Eu sou assim mesmo, nunca vou mudar” é um grande sinal de desamparo aprendido. Pois mostra que já sofremos tanto e por tanto tempo com determinado problema que simplesmente aceitamos que é assim e ponto final;
  • Frustração: Tem coisa pior do que remar, remar e ver que o barco não sai do lugar? A frustração é tanto sintoma quanto causadora do desamparo aprendido, porque vem quando sentimos que nos esforçamos, mas mesmo assim não vemos melhora ou mudança;
  • Baixa autoestima: “Eu sabia que ia dar errado” e “eu faço sempre tudo errado mesmo” são frases comuns nas bocas de pessoas que sofrem com desamparo aprendido. Dessa forma, o sofrimento é tão intenso e traz um sentimento de incapacidade tão grande que a pessoa passa a se culpar excessivamente por seus problemas;
  • Distúrbios de sono: A cabeça de uma pessoa ansiosa e frustrada raramente descansa, e o desamparo aprendido tem culpa nisso, porque o momento em que o silêncio reina para dormirmos traz reflexão e uma recapitulação de tudo o que fizemos de errado ou mesmo não fizemos durante o dia, aí surgem insônia e outros problemas;
  • Desistência: No meio do caminho, se a conquista ou a vitória parecem distantes ou inalcançáveis, a pessoa com desamparo aprendido sempre desiste (“afinal, sempre dá errado mesmo, né?”), e isso é fruto de baixa autoestima e de frustrações acumuladas;
  • Inércia: Muitas pessoas que sofrem com desamparo aprendido não sentem que estão “regredindo” na vida, mas também não sentem progresso, por isso fica uma incômoda sensação de estagnação, de inércia, de não adiantar se mover para lugar nenhum;
  • Insensibilidade ao sofrimento: ter um dia ruim é péssimo para quase todo mundo, mas para quem sofre com desamparo aprendido é apenas mais um dia “normal”, porque ele já desenvolveu uma espécie de insensibilidade à angústia, ao sofrimento e à melancolia. Todo dia ele sente isso, então por que se assustar por sentir de novo?

Dicas para não desenvolvermos o desamparo aprendido

Como em qualquer problema de origem psicológica, o sofrimento é muito individual e pode estar atrelado a outros problemas, como transtorno de ansiedade generalizado (TAG), síndrome do pânico, depressão, entre outros. Por isso procure ajuda especializada se você acha que sofre com desamparo aprendido.

Duas pessoas realizando uma consulta médica. À esquerda, uma mulher com uma prancheta.
SeventyFour de Getty Images Pro / Canva

Mas preparamos uma lista com 8 dicas, cada uma relacionada a um dos temas do tópico passado, que podem te ajudar a combater e sair dessa situação. Confira:

  • Aceitação: Tudo na vida é transitório. Entenda isso, assimile isso. O que é bom passa, assim com o que é ruim. Então não aceite permanecer numa situação ruim. Se está incômoda, tente sair. Faça o possível, tente novas soluções… Enfim, mantenha-se em movimento;
  • Frustração: Boa parte da frustração pode ser combatida quando percebemos que até não conseguimos fazer algumas coisas, mas fizemos outras tantas! Então comece a registrar e relembrar suas pequenas conquistas, seja no fim de um dia ou de um ano;
  • Baixa autoestima: Você tem valor. Você é capaz e você vai conseguir. Pense em todas as vezes em que tudo esteve contra você e você conseguiu. Além disso, cerque-se de pessoas que conhecem sua história e que podem te ajudar a relembrar isso sempre que possível;
  • Distúrbios de sono: Será que você não está querendo fazer o dia ter mais de 24 horas ou assumindo mais do que consegue lidar? Tente estabelecer metas mais realistas e mais fáceis no início, porque assim você vai se sentindo realizado e vai conseguindo ver progresso e conquistas no seu caminho;
  • Desistência: Às vezes, a vontade de desistir só pode ser evitada por uma coisa: disciplina. Quando você desenvolve a disciplina de ir até o final, mesmo se for dar errado, sua vida muda e você para de pensar somente no resultado. O segredo é aprender a valorizar ainda mais a caminhada até ele;
  • Inércia: Movimente-se, tente, procure soluções, peça conselho, peça ajuda, peça socorro. Não importa o que você faça, faça alguma coisa. Somente a tentativa de sair dessa situação é que vai fazer você sair, mesmo que demore um pouquinho. Então é importante se manter sempre tentando;
  • Insensibilidade ao sofrimento: Simplesmente pare de achar que tudo bem achar que um dia, uma semana ou uma fase ruim significa uma vida ruim. Permita-se se sentir triste, em vez de naturalizar a tristeza como normal. E aí transforme isso em combustível para sair dessa situação!
  • Peça ajuda (mesmo!): Leia mais no próximo tópico, mas tenha uma coisa em mente: fraco não é quem pede ajudar; esse é o mais corajoso de todos, porque reconhece as suas limitações. Então que tal buscar ajuda profissional para o seu problema?

Como tratar o desamparo aprendido?

Desamparo aprendido como tratar? O tratamento para o desamparo aprendido varia bastante. O primeiro passo é reconhecer o problema ou simplesmente que algo não está certo.

O próximo passo é aliar três coisas: desejo, movimento de mudança e tratamento psicoterapêutico. Com a ajuda de um psicólogo, você vai entender a origem do seu desamparo aprendido, o que causa essa situação e, obviamente, como é possível combatê-la. Então procure ajuda quanto antes!

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Enfim, o desamparo aprendido é uma condição que causa bastante sofrimento, tanto estimulando quanto vindo da sensação de que não conseguimos nos livrar de estímulos negativos, que naturalizam o sofrimento. Mas esse problema tem solução e você vai sair dessa situação. Procure ajuda terapêutica e acredite na sua capacidade!

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